Altamir Pinheiro
Bob Dylan, neto de imigrantes judeus, nasceu com o nome de Robert Allen Zimmerman. Este ano o simples e sincero cantor Country ou caipira, como queiram, chegou aos 80 anos de idade. De um modo geral, Dylan sempre viveu em clima de guerra com seu público. Certa vez, questionado pelo seus radicais e exigentes fãs por usar melodias de outras canções, Dylan debochou: E daí? Todos os músicos populares copiam algo de alguém. Aliás, em que pese Roberto Carlos sempre ter sido muito religioso (costume herdado de sua mãe, Lady Laura), há quem diga que o Rei da Jovem Guarda copiou Bob Dylan em suas sucessivas músicas de caráter religioso. Até porque Dylan sendo judeu, converteu-se ao cristianismo (escandalizando seus adeptos e admiradores) e, em apenas 3 anos gravou seis LP’s de músicas gospel ou cânticos religiosos que tiveram uma admirável aceitação para quem professa esse gênero de adoração a Cristo.
Incluindo aqui, o cantor brasileiro o já oitentão Roberto Carlos Braga, sua eminência norte-americana Bob Dylan, como já foi dito, também se chama ROBERTO ou mais precisamente Robert Allen Zimmerman, que se tornou um oitentão em 24 de maio passado. Assim como a vasta obra do nosso rei Roberto Carlos, o acervo musical incrustado no dylanismo é tão abrangente quanto o rastro da influência sobre gerações de músicos e poetas. Como diz o crítico de música Fernando Naira, o trovador dos trovadores autor de BLOWIN’ IN THE WIND(Soprando ao Vento) – a música preferida do político Eduardo Suplicy, a obra imortal de 1963, música essa, tão famosa quanto à Like a Rollins Stone. Como constata o crítico musical, Bob Dylan é um dos artistas mais completo e versátil do mundo, pois é pintor dos bons, escritor que ganhou o Nobel de Literatura, em 2016 e, é considerado um excelente músico em razão de ser um exímio tocador de piano, um dos melhores guitarristas e o maior tocador de gaita do mundo.
Muito antes de Bob Dylan vencer o prêmio Nobel de Literatura, por suas letras e livros, o mega artista foi responsável por influenciar inúmeros outros compositores com seu estilo simples e sincero. Diga-se de passagem, os próprios BEATLES devem muito das suas inspirações a Dylan; por causa dele, as músicas puderam ser mais livres, mais poéticas e metafóricas. Falando da nossa aldeia, quando se ouve ou se lê Bob Dylan, no meio ou anexo à razoabilidade ou à devida prudência e comparação nos deparamos com ou dentre os vários bons letristas do cancioneiro brasileiro como as letras de Noel Rosa, Cartola, algumas de Vinícius de Moraes, Chico Buarque e Caetano Veloso. Aliás, dois cantores e compositores brasileiros que também seguiram e copiaram o estilo e muitas coisas úteis de Bob Dylan foram Belchior e Raul Seixas. Verdade seja dita, as interpretações musicais de Raul têm muito a ver com Elvis Presley e Bob Dylan!!!
Um dos maiores marcos na carreira de Dylan e na história da balada ou criação musical com uma letra precisa e harmoniosa foi a música LIKE A ROLLING STONE (Como uma Pedra Rolando), lançada em 1965 que tem uma duração de quase 7 minutos de gravação. A canção tocou milhões de pessoas e foi chamada de a melhor música do século XX pelas revistas especializadas norte-americanas. Dylan, não discorda completamente, para ele, é a melhor canção da sua carreira. É bom que fique bem claro que, a composição Like a Rolling Stone não faz nenhuma alusão ou referência à banda de Rock inglesa The Rolling Stones composta pelo quarteto que tem como vocalista Mick Jagger (77 anos), o baterista Charlie Watts (80 anos) e os guitarristas Keth Richards (77 anos) e Ronnie Wood (74 anos).
Mas, afinal de contas, o que é que fez essa canção ser tão sarcástica e como ela foi composta? Bem, a história da composição de Like a Rolling Stone é que no começo da carreira, Bob Dylan tinha feito suas canções num estilo mais FOLK e repleta de protesto(música PEOPLE, povão). Acontece que no meio de uma turnê ele começou a “vomitar” palavras e anotá-las em um caderninho, daí virou um texto longo e honesto com dez páginas de versos, sem nome ou ordem para se tornarem uma música. Mas os versos HOW DOES IT FEEL (Qual é a sensação?) se destacavam pra ele, especialmente acompanhados com o piano. Assim o artista foi transformando essas palavras em canção, aí é que surgiu Like a Rolling Stone. Ao longo da música Bob Dylan conta a história da pedante e glamourosa miss Lonely, uma senhorita que era bastante solitária, mas andava por uma linha perigosa e logo depois chega ao fim da vida pobre, sem rumo e perdida e sem ninguém, lutando por uma próxima e simples refeição...
No ano passado, aos 79 anos de idade, o velho caipira Dylan bateu mais um recorde, pois figurou nos rankings de álbuns mais vendidos globalmente!!! O cantor e compositor Bob Dylan lançou o disco ROUGH AND ROWDY WAYS (Caminhos Ásperos e Barulhentos), que é considerado o marco da imortalidade do artista. De acordo com o jornalista e crítico de músicas Lucca Magro, “Essa produção já estreou em uma posição alta nos rankings mundiais, o que além de colocar o artista em alta novamente, prova que sua influência sob a indústria ainda está intacta, mesmo com o astro lançando discos desde 1960”. Entre álbuns de estúdio e álbuns ao vivo Bob Dylan gravou cerca de 60. juntos desses, há nove deles que são discos pertencentes à lista dos 500 melhores álbuns de sempre da exigente Revista Rolling Stone, no concorrido mercado americano.
Este é um marco inédito na indústria musical, tendo em visto a carreira extensa do artista, que está atuando desde os anos 60, e mesmo assim figura na parada musical. Além de ser um sucesso nos Estados Unidos, Dylan também foi um fenômeno na Europa. O cantor conseguiu estrear em primeiro lugar nas paradas britânicas pela nona vez com a nova produção, e ficou lado a lado com artistas poderosos como os suecos do ABBA e o Queen. Além disso, por Bob ter 79 anos e conseguir o feito, ele superou Paul Simon, que até então tinha sido o cantor mais velho a figurar o topo da lista na Inglaterra.
Toda essa enorme quantidade de álbuns lançados por ele ganharam dezenas e dezenas de discos de ouro e platina e 12 Grammy. Recebeu centenas de outras homenagens e prêmios, inclusive um Oscar por sua canção “Things Have Changed” (2000). Bill Clinton e Barack Obama entregaram reconhecimentos importantes como a Medalha Presidencial da Liberdade. E foi o primeiro artista da história a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura (2016). A propósito, ele tem uma grande relação de amor com o Brasil, pois já esteve aqui, por cinco vezes (1990, 1991, 1998, 2008 e 2012) e se apresentou em 19 shows inesquecíveis em cinco cidades: Rio, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília. Essa relação de grande afeto com o país foi retratada na The Brazil Series, quando foi pintado 40 tela em acrílico e uma delas é a pintura de Dylan que se impressionou muito com as favelas do Rio de Janeiro, quando esteve lá por várias vezes.
No ano de 2019, a Netflix lançou um filme/documentário dirigido pelo famoso cineasta Martin Scorsese que detalha a histórica turnê de Bob Dylan na década de 70. Trata-se do filme ROLLING THUNDER REVUE (Em tradução grosseira: O Trovão Rolante), o documentário só reforça a aura mítica e os mistérios em torno de Bob Dylan. Martin Scorsese mostra a turnê (real) que o compositor de Blowin’ in the Wind realizou entre 1975 e 1976 com sua banda por pequenas cidades dos Estados Unidos e do Canadá em viagem de ônibus. Apesar de conhecido por sua maciça produção cinematográfica, que inclui clássicos como Taxi Driver, Touro Indomável, Os Infiltrados, Gangues de Nova York e O Aviador, Scorsese produz documentários sobre música e rock com alguma frequência, desde The Last Waltz sobre o show de despedida da The Band, em 1975, passando por Rolling Stones e do ex-Beatles George Harrison.
Finalmente, Dylan e os BEATLES se conheceram em 28 de agosto de 1964 na suíte da banda de Liverpool no hotel Delmonico, na Park Avenue. Bob presenteou seus ilustres anfitriões enrolando alguns cigarros de maconha. Foi a primeira vez que os britânicos experimentaram a erva... E, por fim, Bob Dylan na sua adolescência começou à carreira como COVER de Elvis Presley (que era 6 anos mais velho que Dylan). A influência de Elvis Presley no trabalho de Dylan é inegável, e em entrevista ao Goldmine, o cantor falou como se sente sobre o Rei do Rock: “Ouvi-lo pela primeira vez foi como sair da prisão”.: Elvis Presley inspirou (e continua a inspirar) diversos artistas ao redor do mundo - e Bob Dylan está na lista de admiradores do Rei do Rock. Inclusive, ele provou o quanto é fã de Elvis quando beijou o chão no qual o músico pisou.
A seguir, curtam dois vídeos da música LIKE A ROLLING STONE (Como uma Pedra Rolando), em um, a interpretação é do próprio autor, o outro é cantado em público pela banda de rock inglesa The Rolling Stones:
https://www.youtube.com/watch?v=a6Kv0vF41Bc
https://www.youtube.com/watch?v=Z_JF0N-m0-k