SETE ANOS DEPOIS, OS PROTAGONISTAS SEGUIRAM CAMINHOS DISTINTOS, MAS SEMPRE CONFORTÁVEIS: UNS MANTIVERAM A INFLUÊNCIA POLÍTICA, OUTROS CONQUISTARAM SUCESSO EMPRESARIAL.
DELÚBIO SOARES
Bode expiatório e resignado no processo do mensalão, o ex-tesoureiro do PT é apontado pelo Ministério Público como membro do estado-maior do esquema. Sobre seus ombros, José Dirceu, a quem ele era (e de certa forma continua) subordinado, jogou a responsabilidade pelos pagamentos aos políticos. Delúbio não disse não. Ele é daqueles militantes que consideram que tudo o que o PT fez, incluindo as práticas nada republicanas, é parte de um projeto, o “NOSSO PROJETO”, como costuma repetir. O sucesso do “nosso projeto” moldou os hábitos simplórios do tesoureiro, que, poderoso e respeitado no governo Lula, PASSOU A USAR ROUPAS DE GRIFE, DEGUSTAR VINHOS PREMIADOS E FUMAR CHARUTOS CUBANOS – numa rotina incompatível com o salário de professor que recebia do governo de Goiás. Antes do escândalo, Delúbio foi pilhado comprando terras em Goiás com notas de reais acomodadas em sacos de pano. Expulso do PT após o mensalão, continuou viajando pelo país, dessa vez com passagens custeadas por uma obscura ONG ligada a petistas. Para aplacar as suspeitas sobre a origem do dinheiro usado para bancar suas despesas, Delúbio fundou uma empresa de propaganda na internet. Num site mal-ajambrado, oferece imóveis para venda e aluguel. Readmitido nos quadros do PT no ano passado, ele mora em São Paulo com a mulher, num confortável apartamento de três quartos comprado em 2005 por 190 000 reais – pagos em dinheiro com notas de reais, dólares e euros levadas ao cartório por sua sogra. SE ABSOLVIDO, ELE JÁ ANUNCIOU SEU PROJETO IMEDIATO: DISPUTAR UMA CADEIRA NO CONGRESSO NACIONAL EM 2014.
MARCOS VALÉRIO
Há sete anos o publicitário administra o que restou de seu patrimônio: segredos valiosos que ele diz deter sobre o mensalão. Marcos Valério era dono de duas agências de publicidade que tinham contratos milionários com o governo petista – e que quase nunca resultavam na correspondente prestação de serviços, já que o grosso do pagamento ia para o caixa do mensalão. Foi operando essa engrenagem que ele ganhou prestígio e muito dinheiro. Descoberta a fraude, caiu em desgraça. Hoje, porém, é um “CONSULTOR” de sucesso. Costuma dizer que, dada a relação com o PT, é atendido em seus pleitos junto a órgãos do governo, bancos públicos e estatais – e cobra caro, e em dinheiro vivo, pela intermediação. A vida pessoal segue atribulada. Sua mulher, Renilda Santiago, tem crises emocionais frequentes por medo de que o marido volte para a cadeia. O próprio Valério, vez ou outra, se diz acometido por algum mal. Tempos atrás, disse a um interlocutor de Brasília que estava com câncer no cérebro. A desconfiança de que era mais um recado aos petistas veio com o que ele disse em seguida: que, como estava com os dias contados, não tinha o que perder e estava pensando em contar o que ainda não havia contado à polícia. O veredicto do STF pode definir os rumos dessa chantagem sem fim.
DUDA MENDONÇA
No seu tempo de marqueteiro mais famoso do Brasil, ele ajudou a eleger de Paulo Maluf a Luiz Inácio Lula da Silva. Com o escândalo, afastou-se dos holofotes, mas nunca ficou longe do poder. Embora não tenha feito campanhas em 2006, Duda Mendonça manteve polpudos contratos com o governo federal, que lhe renderam 102 milhões de reais até 2011. Na última eleição, mergulhou de novo no ramo que o tornou famoso e ajudou a eleger de petistas, como a agora senadora Marta Suplicy, a tucanos, como Cássio Cunha Lima. Neste ano, voltará a oferecer seus préstimos a candidatos Brasil afora. A bonança financeira ajudou a alimentar o estilo espalhafatoso. No início deste ano, decidiu adotar um brasão para a família – um cê-cedilha com um círculo em volta, que tatuou no ombro e que adorna a pele de quatro de seus sete filhos e também seu helicóptero e seu avião. Tentará, agora, livrar-se de outra marca: a acusação por ter recebido 10,5 milhões de reais no exterior, crime por ele admitido em cadeia nacional.
JOÃO PAULO CUNHA
O mensalão encolheu as ambições do deputado federal. Estrela em ascensão, era o nome do PT para o governo de São Paulo em 2006. Hoje, o seu grande desafio é eleger-se prefeito de Osasco (SP), cidade onde trabalhou como metalúrgico, estreou no movimento sindical e construiu sua base eleitoral. O caso de João Paulo Cunha acabou se transformando num dos mais emblemáticos do mensalão pela estrondosa materialidade dos rastros que deixou. Na lista de “clientes” de Marcos Valério, achou-se o nome da mulher do deputado. Ela esteve três vezes na agência que fazia os pagamentos do mensalão. Questionado, o deputado mentiu: disse que a mulher fora pagar uma conta de TV a cabo. A quebra do sigilo revelou que ela havia sacado 50000 reais da conta abastecida pelo “valerioduto”.
JOSÉ GENOINO
Figura ruidosa no Congresso e onipresente nos jornais antes do mensalão, José Genoino – que, como presidente do PT, avalizou empréstimos milionários, depois apontados como fictícios – foi um dos que mais sentiram os efeitos da hecatombe. Nos meses seguintes ao estouro do escândalo, trancafiou-se em casa e entrou em depressão. Mesmo amigos só se comunicavam com ele por e-mail. Ainda conseguiu eleger-se deputado em 2006, mas o protagonismo se esvaiu. Quatro anos depois, não obteve os votos para reeleger-se e amargou uma suplência. Espera voltar à Câmara se for absolvido. Enquanto isso, o ex-guerrilheiro, um dos poucos sobreviventes do Araguaia, trabalha como assessor do Ministério da Defesa – que chegou a lhe dar a Medalha da Vitória, concedida a quem prestou serviços relevantes ao país.
ROBERTO JEFFERSON
O mais teatral dos protagonistas do escândalo, o ex-deputado federal que escancarou e batizou o mensalão foi cassado por quebra de decoro, mas continua a fazer política no posto de presidente do PTB. “Mantenho minha influência. Sou ouvido”, disse a VEJA. Ensaiou uma volta à advocacia e eventualmente presta consultoria jurídica a amigos, mas a dedicação maior é a articulação nos bastidores. Inelegível até 2015, planeja, se absolvido, voltar à ribalta na Câmara na primeira eleição possível, em 2018. Se for condenado da acusação de receber propina para manter o PTB na base de governo, já avisou sua turma: deixa a presidência do partido e, talvez, a política. No dia 28 de julho último submeteu-se a uma operação para remover um tumor no pâncreas(maligno) e ele terá de reverter a cirurgia bariátrica a que se submeteu em 1999. Diz que a chance de cura chega a 70%. Está confiante em que, mais para a frente, haverá duas vitórias para comemorar.
VALDEMAR COSTA NETO
"O mensalão existiu e o Valdemar recebeu”, vociferou numa sessão da CPI, em 2005, a socialite Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do deputado e hoje promovida a sua inimiga figadal. Acusado de receber propina em troca de apoio político e de montar uma quadrilha para lavar o dinheiro, Valdemar Costa Neto continua onde sempre esteve e fazendo o que sempre fez – no Congresso, dirigindo o PR e tendo ideias vantajosas para ele e seu partido e ruinosas para o resto do Brasil. Foi do deputado a estratégia de lançar Tiririca como atração eleitoral do PR – o palhaço recebeu mais de 1,3 milhão de votos para a Câmara em 2010 e ainda arrastou junto políticos da categoria do ex-delegado Protógenes Queiroz.
A situação dos envolvidos
Confira, ao longo das próximas páginas, o que faziam na época e do que se ocupam hoje todos os personagens que tiveram a denúncia aceita pelo Supremo Tribunal Federal, e qual o seu papel no esquema, de acordo com a Procuradoria-Geral da República
Carlos Alberto Quaglia
O que fazia: dono da Natimar
O que faz hoje: escritor
Acusação: A Natimar integrou a quadrilha que lavava a propina do valerioduto em favor da cúpula do PP
Anderson Adauto
O que fazia: ministro dos Transportes de Lula até 2004
O que faz hoje: prefeito reeleito de Uberaba (MG)
Acusação: recebeu 950000 reais de Valério e intermediou a compra de apoio político
Anita Leocádia
O que fazia: assessora do deputado Paulo Rocha (PT-PA)
O que faz hoje: assessora do diretório nacional do PT
Acusação: recebeu 620000 reais do esquema em nome do deputado federal petista
Antonio Lamas
O que fazia: assessor da liderança do PT na Câmara
O que faz hoje: trabalha como gerente em uma casa lotérica
Acusação: intermediou repasses ao PL e integrou o grupo de Valdemar Costa Neto
Ayanna Tenório
O que fazia: executiva do Banco Rural
O que faz hoje: consultora
Acusação: Liberou empréstimos fraudulentos para as empresas de Marcos Valério, abastecendo o esquema
Breno Fischberg
O que fazia: sócio da corretora Bonus-Banval
O que faz hoje: empresário
Acusação: a Bonus-Banval fez a intermediação dos repasses ao PP, lavando o dinheiro e ocultando a sua origem
Bispo Rodrigues
O que fazia: deputado (PL-RJ) e vice-presidente do partido
O que faz hoje: sócio de emissoras de rádio e televisão
Acusação: recebeu propina para votar a favor do governo
Cristiano Paz
O que fazia: empresário
O que faz hoje: empresário
Acusação: sócio de Marcos Valério, ajudou a montar a estrutura que servia para mascarar o pagamento a deputados
Emerson Palmieri
O que fazia: tesoureiro informal do PTB e diretor da Embratur
O que faz hoje: fazendeiro
Acusação: ajudou a intermediar o pagamento da propina em favor do PTB
Enivaldo Quadrado
O que fazia: diretor da corretora Bonus-Banval
O que faz hoje: empresário
Acusação: a Bonus-Banval fez a intermediação dos repasses ao PP, lavando o dinheiro e ocultando a sua origem
Geiza Dias
O que fazia: gerente financeira da SMP&B
O que faz hoje: analista do setor financeiro em uma agência de publicidade
Acusação: era uma das operadoras do grupo de Valério
Henrique Pizzolato
O que fazia: diretor de marketing do Banco do Brasil
O que faz hoje: aposentado
Acusação: recebeu propina para favorecer uma agência de Marcos Valério na execução de contratos com o BB
Jacinto Lamas
O que fazia: Tesoureiro do PL até fevereiro de 2005
O que faz hoje: funcionário da Câmara
Acusação: ligado a Valdemar Costa Neto, intermediou parte dos repasses ao PL
João Cláudio Genu
O que fazia: assessor do então deputado José Janene
O que faz hoje: abriu empresa de gestão empresarial e consultoria imobiliária
Acusação: foi intermediário do valerioduto para o PP
João Magno
O que fazia: deputado (PT-MG)
O que faz hoje: sócio de uma consultoria política
Acusação: recebeu 360000 reais do valerioduto e ocultou a transação valendo-se de um assessor e de seu tesoureiro
José Borba
O que fazia: líder do PMDB na Câmara dos Deputados
O que faz hoje: prefeito de Jandaia do Sul (PR)
Acusação: recebeu propina para votar a favor de matérias de interesse do governo
Pedro Corrêa
O que fazia: deputado (PP-PE) e presidente do partido
O que faz hoje: integra a direção nacional do PP
Acusação: recebeu propina em troca de apoio ao governo e lavou o dinheiro
Pedro Henry
O que fazia: deputado federal (PP-MT) e líder do partido na Câmara em 2003 e 2004
O que faz hoje: deputado federal (PP-MT)
Acusação: recebeu propina em troca de apoio ao governo
Professor Luizinho
O que fazia: deputado (PT-SP) e líder do governo de abril de 2004 a março de 2005
O que faz hoje: consultor
Acusação: recebeu 20000 reais do valerioduto e ocultou a origem do dinheiro
Ramon Hollerbach
O que fazia: empresário
O que faz hoje: consultor
Acusação: sócio de Valério, ajudou a mascarar o destino dos recursos. Também ordenou a doleiros os pagamentos a Duda Mendonça no exterior
Rogério Tolentino
O que fazia: advogado
O que faz hoje: advogado
Acusação: era um dos principais elos entre o núcleo operacional da quadrilha e o Banco Rural. Era o braço direito de Marcos Valério
José Janene
O que fazia: deputado (PP-PR)
O que faz hoje: Faleceu em setembro de 2010
Acusação: como líder da bancada, “fechou acordo com o PT, assumindo postura ativa no recebimento de propina”
José Luiz Alves
O que fazia: chefe de gabinete de Anderson Adauto
O que faz hoje: diretor de empresa de saneamento ligada à prefeitura de Uberaba (MG) Acusação: recebeu 600000 reais em nome de Adauto
José Roberto Salgado
O que fazia: executivo do Banco Rural
O que faz hoje: é do conselho de administração do Rural
Acusação: autorizou e renovou empréstimos fraudulentos para Valério
Kátia Rabello
O que fazia: presidente do Banco Rural
O que faz hoje: é uma das administradoras da holding do Rural
Acusação: o banco foi o braço financeiro do mensalão
Paulo Rocha
O que fazia: líder do PT na Câmara dos Deputados entre fevereiro e agosto de 2005
O que faz hoje: presidente de honra do PT no Pará
Acusação: recebeu 820000 reais do valerioduto
Romeu Queiroz
O que fazia: deputado (PTB-MG)
O que faz hoje: deputado estadual do PSB-MG
Acusação: pegou propina para o PTB e para si próprio e ocultou a origem do dinheiro
Silvio Pereira
O que fazia: dirigente do PT
O que faz hoje: empresário
Acusação: coordenava a distribuição de cargos no governo. Ganhou um Land Rover de fornecedora da Petrobras. Fez acordo e não é mais réu
Simone Vasconcelos
O que fazia: diretora administrativa e financeira da SMP&B
O que faz hoje: trabalha em locadora de veículos da família
Acusação: era operadora de Valério
Vinícius Samarane
O que fazia: diretor do Rural
O que faz hoje: vice-presidente do Banco Rural
Acusação: ajudou a omitir do sistema de informações do BC o nome dos beneficiários dos recursos do mensalão
Zilmar Fernandes
O que fazia: sócia do publicitário Duda Mendonça
O que faz hoje: trabalha com Duda
Acusação: recebeu pagamentos pelo esquema de lavagem de dinheiro de Valério (Toda essa canalhice patrocinada pelo PT eu vi, li e roubei lá das páginas da revista VEJA).