domingo, 27 de outubro de 2019

AQUI ME TENS DE REGRESSO



Por Altamir Pinheiro
Em junho deste ano foi celebrado o centenário de nascimento de Nelson Gonçalves, um dos maiores cantores da história da música brasileira. Sua voz poderosa chegou a ditar padrões do que seria um verdadeiro intérprete, assim como os de Orlando Silva, Ângela Maria, Aguinaldo Timóteo e Altemar Dutra e na década de 70, Nilton César. O consagrado Rei do Rádio a voz de ouro  da década de 50, apesar de ter falecido em 1998, Nelson  chega aos 100 anos reabilitado, embora esquecido. Maior vendedor de discos no Brasil nos anos 1950, o gaúcho de Santana do Livramento encarnava a fama  do macho alfa: mulherengo, valentão, beberrão, cheirador de pó e dono de um potente vozeirão, como  também um potente soco por ter sido  um lutador amadorista de boxe. 
Intérprete que cultivou uma imagem tão extremada quanto a de suas canções — grandes sucessos da música brasileira que tratavam de amores torturados, desejos irrefreáveis, noites de desvario e vidas condenadas pelo pecado. Nélson Gonçalves era um extremado bravateiro.  Com o tempo, cada uma de suas bravatas — a de que fora pugilista implacável, cafetão, malandro da Lapa, amante que levava as mulheres a atear fogo ao próprio corpo e cantor elogiado por Frank Sinatra — foi caindo por terra. Especialmente após a publicação, em 2002, da biografia não-autorizada “A revolta do boêmio”, de Marco Aurélio Barroso. Mas o talento não. 
Na biografia “A REVOLTA DO BOÊMIO”, escrita por Marco Aurélio Barroso, o cantor Nelson Gonçalves é descrito como um homem despreparado para as responsabilidades da vida: cavalos no Jóquei, cocaína e estupro. Você já leu isso em algum lugar: Nelson Gonçalves bateu o recorde mundial com suas 2 mil gravações, o que lhe rendeu uma viagem a Nova York um encontro com Frank Sinatra. Antes, porém, foi lutador de boxe e cafetão na Lapa. Madame Satã, o homossexual malandro da Lapa dos anos 40, serviu de testemunha numa surra que Nelson deu em Miguelzinho Camisa Preta. 
Você já leu todas essas informações em muitas reportagens e algumas estão no filme Nelson Gonçalves, que conta a vida do cantor e tem Alexandre Borges no papel principal. Pois saiba agora: TUDO ISSO É UMA MENTIRA DESLAVADA!!! Eis a pura verdade: 1. - Nelson gravou 869 músicas. Até Chico Alves superou este número; 2. - Jamais viu Sinatra pela frente; 3. - Fez algumas aulas, e olhe lá, de boxe; 4. - Nunca teve mulher na zona, muito pelo contrário,  foi explorado pelas mulheres; 5. -  Nunca bateu em Miguelzinho Camisa Preta, porque esse personagem não existiu. Existiu Miguelzinho e existiu Camisa Preta. Invenção de Madame Satã. E, finalmente, Nelson não era gago. Era o contrário. Taquilálico. Falava rápido demais. 
Em confessional entrevista para os jornalistas Juarez Fonseca e Jussara Silva na edição da Revista ZH de 27 de março de 1977,  Nelson afirmava: “MINHA VIDA DARIA UM ROMANCE”. Nascido em 21 de junho de 1919, em Santana do Livramento,  a vida de Antônio Gonçalves Sobral (seu nome de batismo) na verdade rendeu um denso romance – farto em aventuras, desventuras, tragédias e, sobretudo, incontáveis sucessos. Seu impávido coração foi parado por um fulminante ataque cardíaco, em 18 de abril de 1998. Como cantor, no Brasil, em vendagem de discos, Nelson, até hoje, só fica atrás de Roberto Carlos. Um cancioneiro que gravou  183 discos de 78 rotações, cem compactos, 200 fitas K-7 e 127 long-plays. vendeu cerca de 75 milhões de discos, ganhou 38 discos de ouro e 20 de platina. Só o registro de A VOLTA DO BOÊMIO vendeu 2 milhões de cópias. E mais:  com o português  Adelino Moreira(falecido em 2002 aos 84 anos) foram mais de 300 gravações. 
Ao lado de Orlando Silva e Francisco Alves, Nelson formou a chamada suprema trindade vocal masculina da era do rádio, nos anos 1950. Cantores cuja voz empostada conquistaram milhares de fãs e dominaram o mundo musical com seus sambas e canções de dor de cotovelo. Mas seriam muitos anos depois, 1966, que Nelson atravessaria o período mais infernal de sua vida, enfrentando um pesado vício em cocaína. E, ainda por cima, tendo sua vida pessoal escrutinada – como nunca se vira antes – pela imprensa brasileira. Em 5 de maio de 1966, Nelson foi preso sob a acusação de tráfico e, assim, entrava para a história do show business nacional como o primeiro grande artista a ir para atrás das grades em razão de seu vício.
Por fim, assista ao vídeo de Antônio Gonçalves Sobral(Nélson Gonçalves), logo abaixo,  com  o seu próprio testemunho de vida e um depoimento desagradável,  forte e chocante, uma verdadeira lição de vida que foi sua cruzada para se ver livre da famosa droga conhecida como o pozinho branco. É um testemunho impactante, contundente, sincero e marcante, o chamado renascer das cinzas, impressionante...



sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O QUE ELES FALARAM NA RÁDIO MARANO DE GARANHUNS?



Por Altamir Pinheiro
Como eu não aconselho. Apenas opino, então lá vai:  sem o menor farelo de dúvida, na minha simplória opinião, quem se destacou nas entrevistas da Marano foram os prefeituráveis Givaldo Calado, Silvino Duarte e Hélder Carvalho. Sem citar nomes, Givaldo foi direto na jugular de boa parte dos ex-gestores. Corajosamente criticou obras de administrações passadas e foi seguro nas suas propostas apresentadas. Já Silvino matou a pau!!! Demonstrou muito equilíbrio no que dizia, esbanjou experiência, bastante ponderado e muito preparo. No tocante a entrevista de Hélder, ele apresentou boa parte do seu programo de governo tendo como destaque maior a sua futura obra prima que é a menina dos seus olhos: O CORREDOR DO FUTURO, ligando o Pau Pombo à Mãe Rainha.
Sem sombras de dúvidas os destaques maiores ficaram com esses três prefeituráveis. No caso específico do empresário Hélder Carvalho, por ser uma pessoa muito ativa e desenvolta no que faz,  como também  possuidor  de   uma linha de raciocínio THE FLASH(rápida demais), Hélder Carvalho,  se saiu muito bem apesar de seu  pequeno empecilho ou sua falha  seja  falar com bastante ligeireza.  Deve corrigir esse pequeno detalhe.
Em caráter de urgência urgentíssima, o nosso menino, boa praça, gente de primeiríssima qualidade, Haroldo Vicente,  tem que corrigir o mais breve possível  seus vícios de linguagem que são horríveis, soam mal e causa vexames,  pois  é de fazer calo no ouvido... Torna-se intolerável ter que aturar termos como Barro da Boa Vista, as avenida Santo Ontonho e Rui Babosa.  Ele nos deixa entender que  tem uma rixa pessoal contra o “R” e  a pluralização do “S”. Senão vejamos: Recusso Pópio – Seviço -  Impresaro – Nestrê – Saquifício, Agadecer, picisa e dana-se por aí afora. Ainda bem que corrigiu “em termos” o famoso e horroroso NÓS VAI  ou  A GENTE VAMOS... 
Pouco  se tem a dizer do candidato Zaqueu Lins que vem se destacando muito bem nas pesquisas de opinião pública, aliás, é um segredo que está deixando os seus adversários ligados e com um elefante atrás das orelhas. Sua entrevista se prendeu aquele velho linguajar de vereador, função esta que conhece de cabo a rabo. 
Luizinho Roldão com aquela fala mansa e descansada  se apresenta ou apresentou-se como figura de decoração, o seu linguajar arrastado que quase não se ouve o que ele balbucia serve muito bem para fazer ou dar entrevistas  em Mosteiros ou palestras em Conventos. Em que pese ter um excelente timbre de voz(parece locutor de FM), mas é muito limitado em suas explanações e simplista demasiadamente. Ao falar  revela-se ser  muito preguiçoso. Carece urgentemente de um profissional do ramo para despertar ou explorar seu potencial de conhecimento e saber levar a palavra abalizada ao eleitor. Do contrário, tem tudo pra ficar para trás no meio da poeirenta estrada ou se perder na curva eleitoral por ninguém saber o que realmente ele quer, diz, cobra ou exige   a quem quer que seja. Tem tudo para melhorar se fizer um bom uso da fonética com o  seu potente timbre de voz de tenor que se destaca entre todos os candidatos. 
O prefeiturável do PT, Dr. Pedro Cardoso,  é uma agradável figura que possui boa aparência, quem o conhece sabe da sua procedência como um cidadão de bem, mas se apresenta como um candidato   INÚTIL, pois em vez de falar sobre ele mesmo prefere colocar o nome do PT à sua frente. Tudo que diz é a respeito do partido quase nada da sua pessoa com um palavreado movido a cansativas estatísticas e pormenores enjoativos sem cabimento algum. Por isso tornou-se numa entrevista enfadonha. Ouvi-lo ou vê-lo dar um sono danado e um abrir de boca desesperador...  Se destaca apenas no campo da saúde mostrando uma certa lucidez e conhecimento de causa, além de falar um português de razoável pra bom. O resto não se aproveita quase nada... 
Sivaldo Albino é um capítulo à parte. Possuidor de um espetacular domínio de microfone, em que pese seu discurso não ser empolgante, mas é bastante compreensivo: vai direto ao assunto, com ele não tem esse papo furado  de Rolando Lero,  não!!! Se toda a esquerda de Garanhuns, com exceção da REDE Sustentável,  pender a asa pro seu lado(o que é provável) torna-se um candidato quase que imbatível. Quanto à entrevista na Marano foi o chamado chove não molha, o mastigado de sempre foi aquele que todos nós conhecemos:  recusa aqui afirma acolá, porém, anda com uma tropa de correligionários invejável. Na verdade, em sua entrevista ele  estava  acompanhado por uma reca de suplentes e de ex-vereadores, além dos partidos PSB, PSD e PMDB e outros que virão por tabela como é o caso do  PT, PC do B e mais outras correntes partidárias de esquerda com exceção da REDE Sustentável. A campanha promete!!! A sorte está lançada ou Os dados foram jogados. Façam suas apostas!!!


ALÉM DE LADRÃO, LULA É COAUTOR E COMPARSA DE ASSASSINATO!!!

NOVO DEPOIMENTO DO OPERADOR MARCOS VALERIO CITA LULA COMO UM DOS MANDANTES DO ASSASSINATO DE CELSO DANIEL E REABRE O CASO




 ELE VOLTOU – No depoimento, que também foi gravado em vídeo, Valério reproduz o diálogo que teve com Ronan Maria Pinto, em que ele teria dito que apontaria Lula como o “cabeça da morte de Celso Daniel”
ELE VOLTOU – No depoimento, que também foi gravado em vídeo, Valério reproduz o diálogo que teve com Ronan Maria Pinto, em que ele teria dito que apontaria Lula como o “cabeça da morte de Celso Daniel” (./.)
No fim da década de 90, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza começou a construir uma carreira que transformaria radicalmente sua vida e a de muitos políticos brasileiros nas duas décadas seguintes. Ele aprimorou um método que permitia a governantes desviar recursos públicos para alimentar caixas eleitorais sem deixar rastros muito visíveis. Ao assumir a Presidência da República, em 2003, o PT assumiu a patente do esquema. Propina, pagamentos e recebimentos ilegais, gastos secretos e até despesas pessoais do ex-presidente Lula — tudo passava pela mão e pelo caixa do empresário. Durante anos, o partido subornou parlamentares no Congresso com dinheiro subtraído do Banco do Brasil, o que deu origem ao escândalo que ficou conhecido como mensalão e levou catorze figurões para a cadeia, incluindo o próprio Marcos Valério. Desde então, o empresário é um espectro que, a cada aparição, provoca calafrios nos petistas. Em 2012, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) já o condenara como operador do mensalão, Valério emitiu os primeiros sinais de que estaria disposto a contar segredos que podiam comprometer gente graúda do partido em crimes muito mais graves. Prometia revelar, por exemplo, o suposto envolvimento de Lula com a morte de Celso Daniel, prefeito de Santo André, executado a tiros depois de um misterioso sequestro, em 2002.
 AVALISTA – Lula foi informado sobre o pagamento ao chantagista
AVALISTA – Lula foi informado sobre o pagamento ao chantagista (Ricardo Stuckert/PT)

Na época, as autoridades desconfiaram que a história era uma manobra diversionista. Mesmo depois, o empresário pouco acrescentou ao que já se sabia sobre o caso. Recentemente, no entanto, Valério resolveu contar tudo o que viu, ouviu e fez durante uma ação deflagrada para blindar Lula e o PT das investigações sobre o assassinato de Celso Daniel. Em um depoimento ao Ministério Público de São Paulo, prestado no Departamento de Investigação de Homicídios de Minas Gerais, a que VEJA teve acesso, o operador do mensalão declarou que Lula e outros petistas graduados foram chantageados por um empresário de Santo André que ameaçava implicá-los na morte de Celso Daniel. Mais: disse ter ouvido desse empresário que o ex-presidente foi o mandante do assassinato. Até hoje, a morte do prefeito é vista como um crime comum, sem motivação política, conforme conclusão da Polícia Civil. Apesar disso, o promotor Roberto Wider Filho, por considerar graves as informações colhidas, encaminhou o depoimento de Valério ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público, que o anexou a uma investigação sigilosa que está em curso.
 CRIME POLÍTICO – Celso Daniel foi morto como queima de arquivo, em 2002
CRIME POLÍTICO – Celso Daniel foi morto como queima de arquivo, em 2002 (Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo)
No depoimento ao MP, também gravado em vídeo, Valério repetiu uma história que contou em 2018 ao então juiz Sergio Moro, envolvendo na trama praticamente todo o alto-comando petista — só que agora com mais detalhes e com Lula como personagem fundamental. A história começa, segundo ele, em 2003, quando Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, convocou-o para uma reunião no Palácio do Planalto. No encontro, o anfitrião afirmou que o empresário Ronan Maria Pinto, que participava de um esquema de cobrança de propina na prefeitura de Santo André, ameaçava envolver a cúpula do Planalto no caso da morte de Celso Daniel. “Marcos, nós estamos com um problema. O Ronan está nos chantageando, a mim, ao presidente Lula e ao ministro José Dirceu, e preciso que você resolva”, teria dito Carvalho. “Ele precisa de um recurso, e eu quero que você procure o Silvio Pereira (ex-secretário-geral do PT)”, acrescentou. Valério conta que, antes de deixar o Palácio, tentou levantar mais informações sobre a história com o então ministro José Dirceu. “Zé, seguinte: o Gilberto está me pedindo para eu procurar o Silvio Pereira para resolver um problema do Ronan Maria Pinto. Disse que é uma chantagem”, narra Valério no depoimento. A resposta do então chefe da Casa Civil teria sido curta e grossa: “Vá e resolva”.
 TESTEMUNHA – Luizinho revelou que a prefeitura era usada como caixa do PT
TESTEMUNHA – Luizinho revelou que a prefeitura era usada como caixa do PT (Bruno Santos/Folhapress)

Valério compreendeu que “resolver” significava comprar o silêncio do chantagista. No depoimento, ele relata que procurou o petista João Paulo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, a quem uma de suas agências de publicidade prestava serviços. Cunha, mais tarde condenado no mensalão, orientou-o a procurar o deputado Professor Luizinho, que tinha sido vereador em Santo André e, portanto, conhecia bem o problema. Segundo o empresário, Luizinho lhe confidenciou que Celso Daniel topou pagar com recursos da prefeitura a caravana de Lula pelo país, antes da eleição presidencial de 2002, mas não teria concordado em entregar a administração à ação de quadrilhas e àqueles que visavam ao enriquecimento pessoal. “Uma coisa era o Celso bancar as despesas do partido, da direção do partido e do próprio presidente. Outra era envolver a prefeitura em casos que beiravam a ação de gângster”, teria afirmado o deputado, conforme a versão de Valério. Seguindo a orientação recebida de Gilberto Carvalho, Valério procurou Silvio Pereira (secre­tário-­geral do PT) e perguntou se o assunto era mesmo grave e se realmente envolvia Lula, Zé Dirceu e Gilberto. Resposta: “Ele falou assim: ‘Esse assunto é mais sério do que você imagina’.”. Pereira pediu então a Valério que se encontrasse com o chantagista.
 O SEGREDO – Ronan Pinto: pedido de dinheiro em troca do seu silêncio
O SEGREDO – Ronan Pinto: pedido de dinheiro em troca do seu silêncio (Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/.)

A reunião, segundo Valério, ocorreu num hotel em São Paulo. “Eu já avisei a quem eu devia avisar, Marcos, eu não vou pagar o preço sozinho”, teria sido a ameaça de Ronan. O então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, preso no mensalão e no petrolão, também estava no encontro. “Se não resolver o assunto, eu já senti, esse homem vai explodir de vez, vai explodir o presidente, o Gilberto e o José Dirceu”, disse Valério a Delúbio depois da reunião. O empresário e o tesoureiro discutiram a melhor forma de arrumar o dinheiro para pagar a chantagem. Deu-­se, então, o encontro do mensalão com o petrolão. O petista Ivan Guimarães, que à época era presidente do Banco Popular do Brasil, lembrou os colegas de partido de que fundos de pensão mantinham aplicações milionárias no Banco Schahin. Era a hora de pedir uma retribuição. O banco aceitou fazer um “empréstimo” de 12 milhões de reais em troca de um contrato de operação com a Petrobras, no valor de 1,6 bilhão de reais. O promotor Roberto Wider quis saber de Valério se ele conversou com Lula sobre esse episódio. O empresário disse que sim. “Eu virei para o presidente e falei assim: ‘Resolvi, presidente’. Ele falou assim: ‘Ótimo, graças a Deus’.”. Mas não foi apenas isso. Valério contou ao promotor que Ronan Maria Pinto, quando exigiu dinheiro para ficar calado, declarou que não ia “pagar o pato” sozinho e que iria citar o presidente Lula como “mandante da morte” do prefeito de Santo André. Nas palavras de Valério, Ronan ia “apontá-lo como cabeça da morte de Celso Daniel”.
 MEDO – Carvalho: aviso a Valério sobre a “bomba” que estava prestes a explodir
MEDO – Carvalho: aviso a Valério sobre a “bomba” que estava prestes a explodir (Pedro Ladeira/Folhapress)

Na história recente da política brasileira, ninguém exerceu o papel de operador com tamanho protagonismo como o empresário Marcos Valério. Dono de agências de publicidade, Valério começou a atuar em esquemas de desvio de recursos públicos no governo de Eduardo Azeredo (PSDB), em Minas Gerais. Petistas mineiros conheciam muito bem os bons serviços prestados por ele aos rivais tucanos. Por isso, tão logo Lula assumiu a Presidência da República, abriram-se as portas do governo federal ao empresário. Rapidamente, Valério se tornou o homem do dinheiro sujo do PT e, nessa condição, cumpriu de missões prosaicas a estratégicas. Ele conta que se reunia com o então presidente ao menos uma vez por mês. Palpitava até sobre a indicação de ministros. A compra de apoio parlamentar era realizada às sombras, numa engenhosa operação financeira que envolvia bancos, dirigentes de partidos e dezenas de políticos — tudo na surdina. O empresário só assumiu o centro do tablado depois de VEJA revelar, em 2005, que o PTB operava um esquema de cobrança de propina nos Correios. Sentindo-se pressionado, Roberto Jefferson, o mandachuva do partido, reagiu delatando o mensalão e apresentando ao país o “carequinha” que operava os cofres clandestinos do PT. O resto da história é conhecido. O STF reconheceu a existência do esquema de suborno ao Congresso, considerou-o uma tentativa do PT de se perpetuar no poder e condenou os mensaleiros à cadeia. Lula, apesar de ser o beneficiado principal do esquema, nem sequer foi processado.
 A SOLUÇÃO – Dirceu: autorização para negociação com o chantagista
A SOLUÇÃO – Dirceu: autorização para negociação com o chantagista (Mateus Bonomi/Agif/AFP)

Por causa disso, Valério sempre pairou como um fantasma sobre o PT e seus dirigentes. No auge das investigações sobre o mensalão, ele próprio tentou chantagear o partido dizendo que se não recebesse uma bolada implicaria o então presidente da República no caso. Anos mais tarde, uma reportagem de VEJA revelou que a chantagem surtiu efeito, e o dinheiro foi depositado numa conta dele no exterior por um empreiteiro amigo. Durante a CPI dos Correios, Valério de fato poupou Lula. Ele só testemunhou contra o ex-presidente quando já estava condenado pelo Supremo. No depoimento ao MP, Valério disse que não aceitou pagar ao chantagista Ronan Maria Pinto do próprio bolso, como queriam os petistas, mas admitiu ter participado do desenho da transação realizada para levantar os recursos. De onde eles vieram? Do petrolão, o sucessor do mensalão.
 ACUSAÇÃO – João Paulo: afirmação de que Ronan estava envolvido com a morte do prefeito
ACUSAÇÃO – João Paulo: afirmação de que Ronan estava envolvido com a morte do prefeito (Aloisio Mauricio/Fotoarena)

As investigações da Operação Lava-Jato já confirmaram metade da história narrada por Marcos Valério. Para quitar a extorsão, o Banco Schahin “emprestou” o dinheiro para o empresário José Carlos Bumlai, amigo de Lula, que pagou ao chantagista. O banco já admitiu à Justiça a triangulação com o PT. Ronan Maria Pinto já foi condenado pelo juiz Sergio Moro por crime de corrupção e está preso. Valério revelou mais um dado intrigante. Segundo ele, dos 12 milhões de reais “emprestados” pelo banco, 6 milhões foram para Ronan e a outra parte foi entregue ao petista Jacó Bittar, amigo de Lula e ex-conselheiro da Petrobras. Jacó também é pai de Fernando Bittar, que consta como um dos donos do famoso sítio de Atibaia, que Lula frequentava quando deixou a Presidência. As empreiteiras envolvidas no petrolão realizaram obras no sítio à pedido do ex-presidente, o que lhe rendeu uma condenação de doze anos e onze meses de prisão. No interrogatório, o promotor encarregado do caso perguntou a Marcos Valério se havia alguma relação entre o dinheiro transferido a Bittar e a compra do sítio. Valério respondeu simplesmente que “TUDO SE RELACIONA”. O promotor também perguntou sobre as relações financeiras do empresário com o governo e com o ex-presidente Lula:
“— O caixa que o senhor administrava era dinheiro de corrupção?”
“— Caixa dois e dinheiros paralelos de corrupção, propina e tudo.”
“— Do Governo Federal?”
“— Sim, do Governo Federal.”
“— Na Presidência de Lula?”
“— Na Presidência do presidente Lula.”
“— Pagamentos para quem?”
“— Para deputados, para ministros, despesas pessoais do PRESIDENTE, todo tipo de despesa do Partido dos Trabalhadores”.

 PERIGO – Pereira: confidência de que o problema era ainda mais grave que a tentativa de extorsão contra o ex-presidente
PERIGO – Pereira: confidência de que o problema era ainda mais grave que a tentativa de extorsão contra o ex-presidente (Domenico Pugliese/.)

Condenado a mais de cinquenta anos de cadeia, Valério começou a cumprir pena em regime fechado em 2013. Em setembro passado, progrediu para o regime semiaberto, o que lhe dá o direito de sair da cadeia durante o dia para trabalhar. O cumprimento de suas penas nunca ocorreu sem sobressaltos. Ele já foi torturado num presídio e teve os dentes quebrados. Em 2008, quando esteve preso em decorrência de um processo aberto para investigar compra de prestígio, Valério foi surrado por colegas de cela que, segundo ele, estariam a serviço de petistas. Essa crença se sustenta numa conversa que o empresário teve, anos antes, com Paulo Okamotto, amigo e braço-direito de Lula. “Marcos, uma turma do partido acha que nós devíamos fazer com você o que foi feito com o prefeito Celso Daniel. Mas eu não, eu acho que nós devemos manter esse diálogo com você. Então, tenha juízo”, teria lhe dito Okamotto. “Eu não sou o Celso Daniel não. Eu fiz vários DVDs, Paulo, e, se me acontecer qualquer coisa, esses DVDs vão para a imprensa”, rebateu o empresário, segundo seu próprio relato.
 AVISO – Okamotto: ele disse que Valério poderia ter o mesmo fim de Celso Daniel
AVISO – Okamotto: ele disse que Valério poderia ter o mesmo fim de Celso Daniel (J. Duran Machfee/Futura Press)

Até hoje, o assassinato de Celso Daniel é alvo de múltiplas teorias. A polícia concluiu que o crime foi comum. Já o Ministério Público sempre suspeitou de motivação política, principalmente diante das evidências de que havia um esquema de cobrança de propina de empresas de transporte público em Santo André, que teria irrigado o caixa do PT. Se Valério estiver dizendo a verdade — e é isso que as novas investigações se propõem a descobrir —, a morte do prefeito teria o objetivo de esconder que a prefeitura de Santo André funcionava como uma gazua do PT para financiar não só as campanhas políticas mas a boa vida de seus dirigentes, incluindo Lula. A morte de Celso Daniel, portanto, poderia ter sido realmente uma queima de arquivo. Irmãos do prefeito assassinado concordam com essa tese e sempre defenderam a ideia de que a possível participação de petistas no crime deveria ser apurada. O novo depoimento, embora não traga uma prova concreta, colocou mais fogo numa velha história.

ROSA WEBER VOTOU COMO SE FOSSE UM ROBÔ


Carlos Newton

Rosa Weber entra para História como a Viúva Porcina dos tribunais, “aquela que foi sem ter sido”, na definição genial de Dias Gomes. Seu voto no mais importante, imoral e antidemocrático julgamento da História do Supremo, nesta quinta-feira, foi tipo robotizado. Nenhuma criatividade, nenhum brilho, nenhuma demonstração de conhecimento jurídico. Votou mecanicamente e ainda desdenhou da possibilidade de muitos milhares de presos (ela disse “milhões”, ironizando) ganharem direito à liberdade.

Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), seriam beneficiados apenas 4.895 presos. Não se sabem onde descobriram este número nem se nele incluíram apenados como Sergio Cabral. José Dirceu ou Eduardo Cunha. Mas há controvérsias.

NÚMERO INDETERMINADO – Segundo o ministro Dias Toffoli, que preside o CNJ, na verdade seriam 196 mil. Foi este número que Toffoli anunciou em dezembro de 2018, quando deu a louca em Marco Aurélio Mello e o ministro alagoano mandou soltar todos os presos ainda não condenados em terceira e quarta instâncias (STJ e STF).

Mas há duas semanas a assessoria de imprensa do STF tentou confortar os brasileiros argumentando que o fim do encarceramento em segundo grau vai tirar da cadeia apenas 85 mil criminosos, e não 169 mil.

A ministra Rosa Weber, do alto de sua sabedoria, não está nem aí para essa questão. Somente se interessa pelo cumprimento estrito da Constituição, mas citou apenas um inciso, esquecendo os outros constitucionais que têm sentido diverso.

PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA – A ministra dedicou a maior parte de seu voto robotizado à presunção de inocência. Se tivesse “notório saber”, como exige o cargo, Rosa Weber teria conhecimento de que é patética e ridícula sua justificativa de suposta “presunção de inocência” dos réus. Mal informada, disse também que “a maioria” dos recursos às instâncias superiores não tem acolhimento. Mas não se trata de “maioria”.

Seu argumento chega a ser indecoroso, porque as estatísticas do Conselho Nacional de Justiça indicam exatamente o contrário. Dos recursos apresentados ao Superior Tribunal de Justiça após condenação em segunda instância, menos de 1% são acolhidos, beneficiando os réus. Para ser mais exato, deve-se frisar que apenas 0,6% são inocentados pelo STJ. Porém, muitos deles nem podem ser considerados inocentes, porque geralmente o julgamento anterior é anulado por falhas processuais.

Os outros 99,4% dos réus têm a condenação confirmada pelo STJ, demonstrando que após a segunda instância não há mais “presunção de inocência”, mas “certeza de culpa”.

DECISÃO IMORAL – Mas a ministra Rosa Weber não se interessa por esse tipo de detalhes. Com seu voto, ela vai permitir que o Supremo Tribunal Federal tome a decisão mais importante, imoral e antidemocrática da História Republicana.

O resultado deve ser considerado importante, devido ao grande número de presos que ganham direito de liberdade; ao mesmo tempo, é imoral, porque visa exclusivamente a preservar a impunidade de políticos corruptos e seus corruptores; e deve também ser tido como antidemocrático, porque confirma a existência de um pacto entre os Três Poderes, que inclui não somente a liberdade de criminosos de elite, mas também o favorecimento de dois filhos do presidente da República – Flávio e Carlos Bolsonaro–, ambos já flagrados em lavagem de dinheiro, com abundância de provas.

Fecha-se  esta postagem com uma música tocante e comovente. Dedicada vocês sabem a quem.