NA
MATEMÁTICA, MENOS COM MENOS DÁ MAIS. JÁ NA ECONOMIA DA DILMA, NEGATIVO COM NEGATIVO, DIGO
MELHOR, SETE VEZES UM NÃO É POSITIVO: É UM DESASTRE
Luís Costa Pinto
Tragédias
forjam o caráter e a personalidade de gigantes – sejam Nações, sejam
corporações, sejam heróis individuais. O ataque A PEARL HARBOR, EM
1942, LANÇOU OS ESTADOS UNIDOS NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, tirando-os de uma neutralidade suicida
no conflito europeu, e fez com que os aliados derrotassem a Alemanha de Hitler.
Ali o mundo começava a mudar. AS BOMBAS DE HIROSHIMA E NAGASAKI
DESTROÇARAM O JAPÃO, EM 1945, redesenharam
o mapa da Ásia e inauguraram a Era Nuclear. Refundaram, também, a alma japonesa
e hoje temos, nas franjas do Pacífico, uma das mais sábias civilizações do
planeta. O ATAQUE DE 11 DE
SETEMBRO DE 2001, EM NOVA YORK, curvou o
mundo ocidental ante um inimigo até ali desconhecido, fez cair uma tarde densa
e sombria sobre as liberdades civis, pôs culturas e credos em conflito e
redesenhou a geopolítica do globo quando pensávamos já ter superado o período
das grandes guerras. Claro que estou sendo absurdamente superlativo, pois quero
apenas falar de futebol. A TRÁGICA DERROTA DE 8 DE JULHO DE 2014
NO MINEIRÃO FOI O NOSSO PEARL HARBOR, FOI A NOSSA HIROSHIMA, FOI O 11 DE
SETEMBRO DO FUTEBOL BRASILEIRO. Não
há culpa individual no episódio. Não há que se julgar o coletivo do time
reunido por Luiz Felipe Scolari. Vivenciamos uma experiência histórica a partir
de Belo Horizonte e temos de ter maturidade para assimilá-la, aprender com ela
e avançar. Até ali o Brasil tinha se revelado fantástico ao mundo. Organizara a
melhor e mais festiva Copa de todos os tempos, repleta de embates inesquecíveis
e pródiga em revelações dentro de campo e fora dele – foi um festival de
técnicos que emergiram a partir dos bancos para o estrelato, assim como
goleiros e artilheiros habilidosos como os jovens Mueller e James Rodriguez. Lutou-se
contra os maus fluidos de parte relevante dos brasileiros, pois muita coisa
funcionou a contento na organização de um evento complexo. Não houve drama de
segurança (até aqui, pois temo um enfrentamento em Brasília entre um Brasil
despedaçado e uma Argentina sempre arrogante com seus “BARRAS BRAVAS” querendo nos
espezinhar até em eventual disputa de terceiro lugar). E as batalhas não foram
vãs: vencemo-las. Lutou-se contra uma verdadeira usina de energias negativas
lançadas contra a perspectiva de sucesso brasileiro, porque muitos criam no
início da Copa que o sucesso em campo ia se refletir nas urnas. Não ia, como a
humilhação não irá influir no resultado de outubro. É possível, sim, que a
frustração gigantesca originada pela sonora goleada de 7 a 1 imposta pelos
alemães aos brasileiros provoque um acirramento de ânimos, mas eles já iam se
acirrar mesmo depois da Copa – eu havia apostado no prazo de 10 dias contados a
partir da final do próximo domingo. Agora, creio que eventos isolados irão
começar já na sexta-feira. Mas o que ocorreu no Mineirão transcende a tudo isso
e precisa significar um renascimento do futebol brasileiro. Precisa culminar
com esse renascimento ou em 2018, ou em 2022. Não espero que Luiz Felipe
Scolari tangencie a derrota. Ele tem caráter suficiente para se apropriar dela
e isentar seus comandados. Houve um erro tático claro do Brasil, mas não foi só
isso. Espero que o redesenho da Seleção Brasileira passe por todo um redesenho
da CBF. SE HOUVER HOMBRIDADE NOS CARTOLAS
JOSÉ MARIA MARIN E MARCO POLO DEL NERO TÊM DE DEIXAR SEUS CARGOS NO DIA 13 DE
JULHO, DOMINGO, NO MARACANÃ. FELIPÃO, CLARO, DEIXARÁ A SELEÇÃO NO SÁBADO,
DEPOIS DA DOLOROSA DISPUTA DE TERCEIRO LUGAR – E SERÁ SURPRESA SE NÓS FICARMOS
EM TERCEIRO. O GRUPO ESTÁ ABALADO, E IRÁ SE COBRAR MAIS DO QUE DEVE. Não foi a
Era Felipão que se encerrou no Brasil. Creio que foi a era de técnicos
brasileiros na Seleção. Não temos ninguém melhor do que Felipão para aquele
cargo, e não oxigenamos a formação de novos comandantes de esquipes de futebol.
Não organizamos nosso extracampo como a Alemanha organizou. Negligenciamos os
treinos táticos porque o Brasil ficou confinado numa Granja Comary que é um dos
pedaços mais enevoados do Brasil. ACREDITAMOS QUE O HEXA
VIRIA POR FORÇA DIVINA. Levamos
de 7 a 1. Há que se reestruturar tudo. Uma nova civilização do futebol
brasileiro tem de ressurgir desse massacre alemão. Tomamos em Belo Horizonte
não uma aula de futebol, mas sim um curso inteiro de PhD sobre como organizar
um grupo para ser vencedor. Claro que personagens como Fred ou Jô, que ficaram
devendo demais na Copa, não merecerão mais envergar o manto que já foi sagrado
da Seleção. Eles não voltarão a vestir a camisa canarinho depois de sábado. Nem
eles, contudo, merecem a ira do torcedor brasileiro. Não tiveram culpa, nem o
coletivo teve culpa. Erramos junto com eles, pois demoramos a gritar forte o
suficiente para sermos ouvidos: precisamos é mudar tudo, reinventar a estrutura
do futebol nacional. Que fiquem dessa Copa lições prosaicas, personalizadas,
individuais. Eu mesmo tenho uma para contar. NO DIA 4 DE JULHO, EM
FORTALEZA UMA SENHORA DE 75 ANOS DE IDADE, ZILDA ANDRADE, TESTEMUNHA OCULAR DO
MARACANAZO DE 1950 JUNTO COM OUTROS 199.853 ESPECTADORES DAQUELA PARTIDA,
RETORNOU PELA PRIMEIRA VEZ A UMA PARTIDA DA SELEÇÃO BRASILEIRA. DEPOIS DA
DERROTA DO BRASIL PARA O URUGUAI, HÁ 64 ANOS, ELA NUNCA MAIS FORA A UM JOGO DE
FUTEBOL. Nessa Copa,
tinha ido a Holanda x México, no Castelão, mas relutava a ver o Brasil. Graças
a um convite da Coca Cola, articulado pela competente equipe de Relações
Institucionais da empresa, articulado pelo vice-presidente da multinacional
Jack Correa a partir do escritório da empresa em Brasília, Dona Zildinha, como
é conhecida, recebeu um convite de última hora para exorcizar em Fortaleza o
fantasma do Maracanã que a atormentava desde os 10 anos de idade. Dona Zildinha
foi ao Castelão, caminhou 2,5 km sem dificuldades para chegar e para sair do
estádio. Misturou-se à plateia do jogo, cantou o hino brasileiro à capela,
vibrou com os dois gols brasileiros, sofreu com o pênalti colombiano, chorou
com o drama de Neymar e pôde vencer seu Pearl Harbor particular. Era, no fim
daquele jogo, uma mulher realizada e plenamente feliz. Depois da derrota do
Brasil para a Alemanha, sob o impacto de um inexplicável 7 a 1, o neto mais
jovem de Dona Zildinha, um garoto de 10 anos (mesma idade dela no Maracanazo),
João Pedro, enxergou no trauma vencido pela avó a força necessária para superar
a decepção colossal pela Seleção. “Não vou esperar os 64 anos de vovó. Vou
estar na Copa de 2026 e vou ajudar o Brasil a vencer”, disse ele. Pode ser que
não seja exatamente assim, mas ele compreendeu que a vida segue e, graças a
Deus, compreendeu que há imensas lições a tirar do fracasso. João chorou no
terceiro gol, trancou-se no quarto, encolheu-se debaixo da escada de casa.
Trocou ideias no intervalo, superou o trauma, assistiu ao segundo tempo,
testemunhou a ampliação da humilhação e, no fim da partida, trocou a camisa
amarela do Brasil por uma vermelha do Bayern, pôs por cima um agasalho do
Borussia Dortmund e saiu com os pais para traçar um Burger King. Afinal, a vida
segue para nós como seguiu para os EUA e para o mundo depois do 11 de setembro.