O MAIS IMPORTANTE É QUE MARCELO ODEBRECHT CONFIRMOU
QUE AS PLANILHAS ESTÃO CORRETAS, OS VALORES DAS PROPINAS FORAM REGISTRADOS E OS
CODINOMES REFEREM-SE MESMO A LULA (“AMIGO”, PALOCCI (“ITALIANO”) E MANTEGA
(“PÓS-ITÁLIA”. PALOCCI JÁ ESTÁ PRESO; OS OUTROS DOIS, AINDA NÃO. SEGUNDO O
JORNALISTA CARELOS NEWTON, É SÓ QUESTÃO DE TEMPO...
Cleide
Carvalho, Gustavo Schmitt e Thiago Herdy
O empresário Marcelo Odebrecht
confirmou nesta segunda-feira ao juiz Sérgio Moro que “Amigo” era o codinome do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na planilha de propinas da empresa.
Segundo ele, a entrega de valores a Lula era feita por Branislav Kontic,
assessor do ex-ministro Antonio Palocci. O empresário confirmou ainda que
Palocci intermediava as remessas de dinheiro para o PT e era o “Italiano” na
planilha de pagamentos da empresa. O ex-ministro Guido Mantega, que sucedeu
Palocci no Ministério da Fazenda, também teria passado a ser responsável pela
movimentação de recursos para o PT, tendo sido batizado com o codinome de
“Pós-italiano” ou “Pós-itália”. O empresário confirmou todos os repasses
anotados na planilha do Setor de Operações Estruturadas, que ficou conhecido
como departamento de propinas.
O empreiteiro afirmou que as duas
versões de planilhas do Setor de Operações Estruturadas, que registram repasses
da empresa ao PT, são verídicas.
R$
23 MILHÕES – A primeira, datada de 31 de junho de
2012, traz a informação de que havia R$ 23 milhões à disposição de Lula,
identificado pelo codinome “Amigo”. A segunda, de 31 de março de 2014, aponta
um saldo de R$ 10 milhões para o mesmo destinatário.
A diferença de R$ 13 milhões teria
sido sacada entre os 21 meses que separam as duas versões da planilha. Os
saques para Lula teriam sido identificados na tabela “Programa B”. Marcelo
Odebrecht explicou no depoimento prestado ontem que “B” é uma referência a
Branislav Kontic, que retirava o dinheiro em espécie e entregava ao
ex-presidente Lula.
PROGRAMA ITALIANO – Registrada com o
nome “Programa Espacial Italiano”, a primeira versão da planilha foi apreendida
pela Lava-Jato no e-mail de Fernando Migliaccio, um dos executivos do
departamento de propinas da Odebrecht. Delator da Lava-Jato, ele entregou ao
MPF outras versões do mesmo documento, com registro de saques feitos ao longo
do tempo, o que permitiu aos investigadores da Lava-Jato conhecer, em detalhes,
a movimentação.
A planilha “posição italiano” indica
a movimentação de R$ 128 milhões que, segundo a força-tarefa da Lava-Jato,
teriam sido destinados ao PT e movimentados por Palocci. O saldo da conta era
de R$ 79,5 milhões em 2012.
VAZAMENTO – Moro tem mantido os
depoimentos da Odebrecht em sigilo. Argumenta que é preciso esperar os
conteúdos sejam liberados por decisão do STF.
Hoje, porém, o juiz foi surpreendido
com o vazamento de informações do depoimento de Marcelo Odebrecht ao site “O
Antagonista”, ainda durante a audiência. O aviso foi dado pelo advogado José
Roberto Batocchio, que representa Lula, Palocci e Mantega.
Os advogados se dispuseram a mostrar
seus celulares ao juiz, na tentativa de provar que não foram eles que vazaram
informações. Nada foi encontrado. O juiz fez constar na ata da audiência que
nem ele, nem a servidora da Justiça que acompanhou a audiência, estavam com
celulares na sala. Policiais federais que faziam a escolta dos presos e
procuradores também apresentaram seus aparelhos. Os advogados têm três dias
para requerer medidas que considerem pertinentes.
LULA INOCENTE? – Batochio não quis
comentar as acusações. Ele afirmou ao Globo que houve vazamento criminoso de
informações e que não revelaria ou comentaria conteúdo sigiloso. Em nota, o
Instituto Lula afirmou que o ex-presidente Lula teve seus sigilos fiscais e
telefônicos quebrados, sua residência e de seus familiares sofreram busca e
apreensão há mais de um ano, mais de cem testemunhas foram ouvidas e não foi
encontrado nenhum recurso indevido.
“Lula jamais solicitou qualquer
recurso indevido para a Odebrecht ou qualquer outra empresa para qualquer fim e
isso será provado na Justiça. Lula não tem nenhuma relação com qualquer
planilha na qual outros possam se referir a ele como ‘Amigo’”, diz a nota.