segunda-feira, 1 de maio de 2017

BELCHIOR DISSE O TEMPO TODO QUE ALGO NÃO IA BEM



Júlio Maria

Belchior deixou sempre muito evidente que estava sofrendo. Uma angústia representada em suas letras e em seu comportamento, mesmo quando a carreira atingia o que poderia considerar picos de sucesso. Caetano, Gil, Zé Ramalho, Fagner, Djavan, Tom Zé, Milton Nascimento, Dominguinhos. De todos os emigrantes que procuraram as 'mecas' Rio-São Paulo para serem alguém de 1960 para 1970, Belchior foi o único que sentiria um impacto emocional irreversível. A selvageria mercantilista, para ele, era um mal a ser combatido e ele, logo ele, acabaria também vendido a ela no momento em que assinasse com uma grande gravadora.

Na gênese de Belchior, a quem os mais próximos chamavam de Bel, não está a música, mas a filosofia. Enquanto o samba-jazz ainda fervia no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, e Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lira e Luiz Bonfá davam adeus à primeira fase da Bossa Nova com um espetáculo no Carnegie Hall, de Nova York, Belchior lia Sócrates e Platão no curso de Filosofia na universidade em Fortaleza. Sua vida acadêmica ainda passaria pela Medicina antes de ser abandonada, assim que a turma de conterrâneos que tinha Fagner e Ednardo, conhecida depois como Pessoal do Ceará, cruzasse seu caminho.

Bel era considerado o estranho, o fechado, o imprevisível. Metódico, preferia ler a sair com amigos e tinha uma relação de distanciamento com o dinheiro, principalmente quando alguma nota deveria sair da própria carteira. Devia de quantias irrisórias que pedia emprestado a amigos ou que precisava pagar ao pedreiro a grandes volumes, como as contas dos dois automóveis que abandonou em São Paulo, um deles, no estacionamento do Aeroporto de Congonhas.

Belchior cansou, e seria redutor imaginar que desapareceu nos últimos dez anos para fugir das dívidas. Se assim fosse, teria aceitado oferta de empresários que quiseram pagar suas contas para que ele voltasse aos palcos. Ou aceitado a proposta vultosa de uma montadora de carros que o queria como garoto propaganda dizendo, ao volante, algo como "com um carro desses, até eu volto". Era melhor viver de favores em um asilo, escondido no interior do País.

O único artista que pratica o auto-exílio na história da música brasileira, fugindo de si mesmo, de um personagem que não aceita mais, era um angustiado, como fez questão de cantar muitas vezes. A palavra "medo" era recorrente em sua obra, principalmente desde o irretocável Alucinação, de 1976.

Ao saber de sua partida, o pesquisador Zuza Homem de Mello faz questão de ligar para a reportagem para dizer o que sente sobre Belchior: "Ele foi um dos mais cultos artistas da MPB. Possuía uma importância extraordinária no pop sobretudo pela canção 'Como Nossos Pais'. Aquilo foi uma revelação, e ele colocou o tema de maneira extraordinária. Elis Regina teve a percepção disso ao escolher a música para lançá-la no Falso Brilhante."

Mas Belchior preferiu a distância do passado. Mesmo ovacionado por novas gerações de músicos, tranca-se e passa a dedicar-se a projetos solitários, como a tradução dos 14.230 versos da Divina Comédia, de Dante Alighieri para a linguagem popular, um projeto que nunca concluiria





VIVA O CANTO TORTO!!!




Magno Martins
Que dor profunda senti, ontem, com a confirmação da morte do cantor cearense Belchior, um dos meus ídolos da MPB, parte inesquecível da minha juventude, um pedaço arrancado do meu coração. Eu sou um rapaz latino-americano e como Belchior, que tinha um canto torto, o meu verso é torto, mas tem muito amor, o amor que brotava da sua voz inconfundível.
Fiquei engasgado. Belchior se confunde com a minha geração. Sua voz, seu violão, o banquinho, suas canções derramando amor em cada frase, em cada refrão. Até o seu bigode compunha um figurino bonito, dele próprio, com aquela cara de louco, mas que de loucura só tinha o pensamento no infinito amor, o amor que incendiou minha geração, a geração pós-jovem guarda.
Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes veio lá de Sobral, chão abençoado do Nordeste, celeiro de poetas, cantadores, amantes da noite, da lua, que inspira a música e embala seus feitores. Belchior foi criado no mato, ouvindo vários cantos: o canto do aboio, o canto do vaqueiro, o canto dos repentistas e dos emboladores. Acordava ouvindo o canto do galo. Daí, a sua melodia ser uma mistura de tantos cantos, que aos poucos encantou o País e depois o mundo.
Quem melhor definiu suas proezas musicais, seu talento, foi o cantor Guilherme Arantes: “Belchior, que eu não canso de homenagear de todas as maneiras, foi e sempre será o melhor letrista de canções transformadoras que já existiu”. O canto torto cearense, de tantos desencontros na vida, gravou grandes sucessos.
Curti todos em shows, discos DVDs, em todos os canais possíveis. Velha Roupa Colorida, Apenas um Rapaz Latino-Americano e Como Nossos Pais, esta eternizada na voz de Elis Regina. Meu ídolo foi um dos primeiros cantores de MPB do Nordeste a conseguir destaque nacional, ainda nos anos 1970.
Cantava fazendo poesia. Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, diz uma das suas melodias. Quando você entrou em mim como um Sol no quintal, embalou em outra canção. Outra bela poesia em forma musical, um de seus maiores sucessos: "As velas do Mucuripe/ Vão sair para pescar/Vou levar as minhas mágoas/Prás águas fundas do mar/Hoje a noite namorar/Sem ter medo da saudade/Sem vontade de casar".
Aprendi mais de filosofia escutando Belchior do que com qualquer livro. A música dele permite um aprendizado que não é mensurado em nota. Para mim, Belchior não morreu. Ele só terminou de dizer tudo o que queria.
"Eu quero é que esse canto torto/Feito faca corte a carne de vocês". Viva Belchior! Dos grandes! Minha dor, como cantou ele, é perceber que, apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos.
Para encerrar, Como nossos pais, umas das melhores dele:
“Não quero lhe falar/Meu grande amor/Das coisas que aprendi/Nos discos/Quero lhe contar como eu vivi/E tudo o que aconteceu comigo/Viver é melhor que sonhar/Eu sei que o amor/É uma coisa boa/Mas também sei/Que qualquer canto/É menor do que a vida/De qualquer pessoa/Por isso cuidado, meu bem/Há perigo na esquina”.
Viva Belchior!
Como é perversa a juventude do meu coração, que só entende o que é cruel, o que é paixão.





A CHEGADA DE ANTÔNIO CARLOS BELCHIOR NO CÉU



Por Roberto Almeida

Belchior chegou no céu num dia 30 de abril. Há anos estava cansado de andar com os pés cheios de poeira, tinha esquecido o coração selvagem, resolvera os problemas de alucinação,  e agora ansiava por viver tudo outra vez.

Longe de casa, a sua simpática Sobral, no Ceará, resolveu partir desta para outra no interior do Rio Grande do Sul, terra de Elis Regina, que tornou conhecida no Brasil inteiro umas de suas melhores canções, “Como Nossos Pais”.

Poeta, compositor inspirado, cidadão consciente, o artista cearense por certo andava desiludido da vida, ainda mais com tantas turbulências no país chamado Brasil.

Tudo tem sua hora e um dia todos temos que dar adeus à divina comédia humana.

Assim fez o artista, que nunca envelhece, como nos ensinou outro poeta, este da Bahia.

E num dia nublado, cinzento, não apropriado para entusiasmos exacerbados, Antônio Carlos chegou ao céu depois de viver o seu tempo na terra, em meio a secas, jogos de futebol, oportunismos políticos, missas nas igrejas e formigas trafegando sem porquê, enquanto o sangue ainda jorra nos jornais.

Tão logo chegou ao paraíso, um lugar totalmente diferente deste, do lado de cá, Antônio Carlos Belchior foi recepcionado por um coral de anjos e levado ao grande salão de artes do céu.

Talvez por que tenha partido a menos de oito dias, Jerry Adriani foi o primeiro com quem o cearense deu de cara no imenso salão celestial.

Dois estilos diferentes, duas vertentes diferentes da música popular brasileira, nem por isso os dois cantores deixaram de expressar a alegria do encontro e se abraçaram com emoção.

Jerry com aquele sorriso cativante, Belchior com a expressão séria que o caracterizou em vida, sem que os olhos conseguissem esconder que no fundo da alma era apenas um cidadão comum, um sujeito bonachão.

Se o ídolo da Jovem Guarda não era tão da sua turma, o mesmo não se pode dizer de Raul Seixas, que veio logo a seguir e embora tenha feito parcerias com Adriani, quando viveram a existência terrena, filosoficamente estava mais próximo do homem nascido em Sobral.

Raul reinventou a música popular brasileira, com seu “Ouro de Tolo” e foi um dos poucos artistas que teve a coragem de fazer um canto para sua própria morte. “Que venha vestida de cetim, com a sua mais bela roupa”, disse ele na surpreendente canção.

Não há dúvida que o maluco beleza foi um místico, lunático às vezes, que passou por todas as religiões, porém sem deixar de iluminar os céus com sua cabeça privilegiada, o coração noturno e a procura de Deus em todas as coisas.

Belchior, mas pé no chão, fez música sobre a hora do almoço e cantou até os exilados, que em sua época de pop star tiveram que sair do país e foram sofrer na França, sentindo frio e saudades da América do Sul.

Foi singular o encontro do cearense e do baiano e eles se entenderam como irmãos, ficando logo claro que no céu seriam grandes parceiros,  para toda a eternidade.

Aí chegou Gonzaguinha, ao lado do pai, e os dois lembraram do tempo em que não faziam outra coisa senão viajar e viajar pelo imenso brasilis.

Provavelmente por ter morrido no Rio Grande do Sul, não demorou muito Antônio Carlos se deparou com o escritor Érico Veríssimo, autor de O Tempo e o Vento, Caminhos Cruzados, Noite, O Resto é Silêncio e tantos outros livros que encantaram a vida do cantor na sua adolescência.

Belchior aproveitou para confessar ao escritor que era seu fã, enquanto este disse que gostava muito de suas composições, pelas suas preocupações metafísicas e seu viés escancaradamente humanista.

“Acho que nos identificamos. Meu trabalho na literatura e o seu na música se encontram nas paralelas”, comentou o Veríssimo.

Gonzagão perguntou pelo Fagner, com quem fez alguns duetos maravilhosos na vida puramente física e Gonzaguinha, bem leve, comentou que o céu ganhava muito com a chegada de Belchior, garantindo que por certo até Jesus ia ficar radiante perante o reforço do time da MPB no paraíso.

Quando chegou a Elis Regina o autor de Mucuripe não conseguiu conter as lágrimas. A “Pimentinha” estava do mesmo jeito, sorridente e com a mesma voz de brilhante que conquistou o Brasil nos anos 70.

Quase não conseguiram se desgrudar, após fortes abraços e beijos, contudo chegavam outros e outras que partiram bem antes e Belchior não queria discriminar ninguém, convencido de que o céu não tem espaço para preconceitos.

Assim, saudou com carinho o Jessé, este cantarolando “Porto e Solidão”, interrompido, no entanto por Cássia Eller, ela ainda parecendo uma garotinha.

Reginaldo Rossi,  Paulo Sérgio, Leandro e Evaldo Braga chegaram abraçados, o primeiro vestindo não se sabe por que uma roupa de garçom, enquanto o segundo, sussurrando, soltava as primeiras estrofes da última canção.

Os da velha geração também apareceram e Belchior sentiu-se feliz ao ver que estava na companhia de Silvio Caldas, Eliseth Cardoso, Noel Rosa, Ataulfo Alves, Pixinguinha, Francisco Alves e Orlando Silva.

“Quanta gente boa, meu Deus!”, soltou o compositor, ainda mais que não mais que de repente Clara Nunes, Vander Lee, Cazuza e Renato Russo também vieram lhe abraçar.

Chico Anísio veio contando piadas, fazendo tipo e o clima ficou ainda mais descontraído pela entrada em cena dos meninos traquinos do grupo Mamonas Assassinas.

Foi um desfilar de artistas que não acaba mais e tudo era alegria, festa, comemoração.

Mesmo os santos, como Francisco de Assis, pareciam estar de bem com a vida eterna, bem humorados... E todos contribuíram para que a tristeza não encontrasse guarida, a saudade fosse guardada num matulão emprestado por Marinês e Jackson do Pandeiro, num clima verdadeiramente amistoso que irmanou cada um deles, vivendo numa intensidade até então desconhecida, num lugar sem espaço para a tristeza e a dor. E que era possível cantar sem riscos, com público garantido e uma gente educada aplaudindo sem parar.

Tudo lindo, divino, maravilhoso e melhor ainda porque agora seria pra sempre. Nunca, nunca ia acabar.

“Saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho, deixe que eu decido a minha vida...”


Salve Belchior!

*A maioria das frases e expressões aspeadas ou em itálico se referem a títulos ou versos de canções de alguns dos artistas citados.

* - A imagem não faz parte do texto original.

THANK YOU BELCHIOR!!!





Este texto foi publicado há três anos, por Paulo Nogueira,  e então leio que artistas fizeram uma homenagem a Belchior, o gênio perdido da música brasileira. Fico estranhamente tocado, ou não estranhamente. BELCHIOR FOI O ÚLTIMO ÍDOLO QUE EU TIVE NA MÚSICA. Eu era um adolescente quando Elis consagrou músicas de Belchior como Velha Roupa Colorida e Como Nossos Pais. Eu simplesmente amava Belchior, com sua voz anasalada e melancólica, suas melodias tristes embaladas em letras longas e poéticas. Achava que Belchior ia durar muito, fazer muitas coisas, mas ele foi minguando, e minguando, como se uma dose excepcional de talento e inovação tivesse se comprimido em um ou dois discos apenas. (Mas que discos, Deus.) Eu próprio acabaria por abandoná-lo, não totalmente, é verdade. Não mudo de estação quando, o que é raro, toca Belchior no rádio. E quando apanho o violão sempre existe a possibilidade de eu tocar alguma coisa de Belchior, como TODO SUJO DE BATOM, minha predileta. (Sempre me vi no “CARA TÃO SENTIMENTAL” da música.) A homenagem a Belchior, idealizada pelo jornalista Jorge Wagner, está disponível na internet, e então fico ouvindo as canções. Gosto muito da versão de Todo Sujo de Batom, com guitarra pesada, meio punk, da banda The Baggios. Uma interpretação original, mas que ao mesmo tempo preservou a alma da pequena obra prima de Belchior. Mas é em Paralelas que meu coração dispara. Porque nela me encontro com minha mãe. Mamãe gostava que eu tocasse e cantasse para ela. Acho que foi minha única fã como músico, a única pessoa que se interessava genuinamente por me ouvir. Ah, os ouvidos generosos das mães. Algumas de minhas melhores lembranças de mamãe estão ligadas às músicas que cantávamos juntos. Mesmo em Londres, quando mamãe já estava em seus últimos dias, com enormes dificuldades em falar ao telefone, eu cantava para ela a 10 mil km de distância, mas por algum milagre no mesmo espaço naqueles momentos que duravam as músicas. Paralelas era a favorita de mamãe. Sua passagem preferida era a que dizia: “NO CORCOVADO QUEM ABRE OS BRAÇOS SOU EU.” É, de fato, uma passagem linda, lírica, um instante de absoluta inspiração de Belchior. Numa pergunta que fiz numa entrevista com Paul McCartney em Londres, abri com o seguinte introito: “Primeiro de tudo, muito obrigado por tantas coisas boas que você me trouxe.” (Depois perguntei qual música sua ele gostaria que John cantasse, e ele respondeu Maybe I’m Amazed.) Se um dia eu entrevistar Belchior, vou abrir com a mesma frase. Um agradecimento. Ele preencheu meu mundo jovem com um punhado de canções que me fizeram refletir, rir, chorar. E principalmente ajudou numa conexão que me é tão cara, com minha mãe, a quem neste momento eu pediria colo caso ela estivesse por perto.


domingo, 30 de abril de 2017

PALOCCI PROMETE FUDER LULA






O ex-ministro Antonio Palocci é um POTE ATÉ AQUI DE MÁGOA. Na última semana, movido por esse sentimento que o consome desde setembro de 2016, quando foi preso em Curitiba, o homem forte dos governos Lula e Dilma deu o passo definitivo rumo à delação premiada: contratou o advogado Adriano Bretas, conhecido no mercado por ter atuado na defesa de outros alvos da Lava Jato que decidiram, como Palocci, romper o silêncio. Lhano no trato, embora dono de temperamento mercurial quando seus interesses são contrariados, o ex-ministro resolveu abrir o BAÚ DE CONFIDÊNCIAS e detalhar aos procuradores todo arsenal de informações acumulado por ele durante as últimas duas décadas, em que guardou os segredos mais recônditos do poder e nutriu uma simbiótica relação com banqueiros e empresários. “FIZ FAVOR PARA MUITA GENTE. NÃO VOU PARA A FORCA SOZINHO”, desabafou Palocci a interlocutores.

ISTOÉ conversou nos últimos dias com pelo menos três fontes que participaram das tratativas iniciais para a colaboração premiada e ouviram de Palocci o que ele está disposto a desnudar, caso o acordo seja sacramentado. Das conversas, foi possível extrair o roteiro de uma futura delação, qual seja:

Palocci confirmará que, sim, é mesmo o “ITALIANO” das planilhas da Odebrecht e detalhará o destino de mais de R$ 300 milhões recebidos da empreiteira em forma de propina, dos quais R$ 128 milhões são atribuídos a ele.
Contará como, quando e em quais circunstâncias movimentou os R$ 40 MILHÕES DE UMA CONTA-PROPINA DESTINADA A ATENDER AS DEMANDAS DE LULA. Atestará que, do total, R$ 13 milhões foram sacados em dinheiro vivo para o ex-presidente petista. Quem sacou o dinheiro e entregou para Lula foi um ex-assessor seu, o sociólogo Branislav Kontic. Palocci se compromete a detalhar como eram definidos os encontros de Kontic com Lula. HAVIA, POR EXEMPLO, UMA SENHA, QUE APENAS OS TRÊS SABIAM.
Dirá que parte da propina que irrigou essa conta foi resultado de um acerto celebrado entre ele e Lula durante a criação da Sete Brasil, no ano de 2010. O ex-presidente teria ficado com 50% da propina. UM TOTAL DE R$ 51 MILHÕES.
Está empenhado em revelar como foi o processo de obtenção dos R$ 50 MILHÕES PARA A CAMPANHA DE DILMA, num negócio fechado entre o PT e a Odebrecht, com a ajuda de Lula e do ex-ministro Guido Mantega. E mostrará como Dilma participou das negociatas e TEVE CIÊNCIA do financiamento ilegal.
Afirmará que a consultoria Projeto foi usada também para recebimento de propinas. Indicará favorecidos. Comprometeu-se ainda a entregar o NÚMERO DE CONTAS NO EXTERIOR que foram movimentadas por esse esquema.
– Pretende mostrar como EMPRESAS e INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS conseguiram uma série de benefícios dos governos petistas, como isenção ou redução de impostos, facilidades junto ao BNDES, renegociação de dívidas tributárias, etc.
Palocci sabe que uma chave está em suas mãos. Com ela, pode abrir as fechaduras da cela onde está detido, no frio bairro de Santa Cândida, na carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Para ajudar a desvendar o megaesquema de corrupção na Petrobras, a memória do ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe da Casa Civil de Dilma será colocada à prova. Ele tem informações que podem explicar como, a partir do início do governo do ex-presidente Lula, organizações criminosas foram montadas para sustentar politicamente o PT, o PMDB e o PP e mantê-los no poder. TUDO À BASE DE PROPINA, dizem os investigadores da Operação Lava Jato, que serviram também para ENRIQUECIMENTO PESSOAL.



Há interesse dos procuradores em saber em minúcias, se possível com documentos, dados sobre a GÊNESE do que se convencionou chamar de PETROLÃO. Um investigador de Curitiba disse que Palocci terá de reunir dados novos e com “FUNDAMENTAÇÃO” se quiser convencer a PF e a Procuradoria a endossar o acordo. Ele entende que o ex-ministro precisa apresentar provas ou, ao menos, indícios “CONSISTENTES” e tratar deles num depoimento “DE PEITO ABERTO”. A julgar pelo cardápio apresentado até agora pelo ex-ministro, isso não será óbice. Segundo interlocutores que conversaram com Palocci nas últimas semanas, o ex-ministro não enxerga problema algum em assumir a clássica postura de delator. SENTE-SE AMARGURADO. Abandonado por companheiros de outrora. Por isso está “BASTANTE TRANQUILO” para assumir as consequências dos eventuais efeitos colaterais da colaboração premiada.

No início das negociações para a delação, o ex-ministro se propôs a fornecer informações detalhadas sobre os R$ 128 milhões da Odebrecht que teriam passado por ele. Embora tenha chamado a atenção, procuradores acharam pouco. Sustentaram que o que já foi reunido a esse respeito seria o suficiente para a elucidação dos fatos. E que as revelações não seriam tão bombásticas assim. DIANTE DO IMPASSE, FOI DEFLAGRADA UMA NOVA RODADA DE NEGOCIAÇÃO, QUE CULMINOU COM A RENÚNCIA DE JOSÉ ROBERTO BATOCHIO DE SUA EQUIPE JURÍDICA. Depois de procurar ao menos três escritórios de advocacia pouco antes da Páscoa, Palocci acertou com uma dupla de criminalistas já ambientada ao mundo daqueles que resolvem colaborar com a Justiça em troca de reduções das penas. Além de Bretas, foi contratado também o advogado Tracy Reinaldet dos Santos.

Após a primeira etapa de conversas com o novo time de defensores, ficou definido que Palocci vai começar a ABRIR SUA CAIXA DE PANDORA pelo escândalo da Sete Brasil, uma empresa criada em 2010 para construir as sondas (navios de exploração de petróleo) para a Petrobras. Além do capital da estatal, a Sete tinha dinheiro de bancos, como o BTG e de três fundos de estatais (Petros, Previ e Funcef). As seis primeiras sondas da empresa foram construídas pelo estaleiro Enseada Paraguaçu (com capital da Odebrecht, OAS e UTC). Cada sonda ao custo de US$ 800 milhões. As seis, portanto, estavam orçadas em US$ 4,8 bilhões (ou R$ 15,3 bilhões), embora a Sete Brasil estimasse um investimento de US$ 25 bilhões para construir 29 sondas até 2020. Na delação, PALOCCI PRETENDE CONTAR QUE O PT EXIGIU QUE A SETE BRASIL E AS EMPREITEIRAS DO ESTALEIRO ENSEADA PARAGUAÇU PAGASSEM PROPINAS DE 1% DO CONTRATO DE US$ 4,8 BILHÕES, OU SEJA, US$ 48 MILHÕES (R$ 153 MILHÕES). Desse total, dois terços, ou R$ 102 milhões, ficariam para o partido e um terço (R$ 51 milhões) para diretores da Petrobras. Sem medo de ser feliz, Palocci vai entregar que Lula exigiu metade das propinas. Não para o partido, nem para a companheirada, mas para ele, Lula.

“SAPO BARBUDO”

O depoimento de Rogério Araujo, ex-executivo da Odebrecht que acabou de celebrar um acordo com a Procuradoria-Geral da República, fornece o caminho das pedras sobre a tentativa do PT de embolsar ilegalmente R$ 153 milhões desviados da Sete Brasil. Araujo disse que O PT EXIGIU QUE 1% DO CONTRATO DAS SONDAS DA SETE BRASIL, ASSINADO EM 2012, FOSSE FIXADO COMO PROPINA. O valor havia sido pedido pelo “SAPO BARBUDO”, numa referência a Lula. “O Pedro Barusco (ex-gerente da Petrobras e dirigente da Sete Brasil), voltou para mim e falou: ‘Olha, esse 1%… vocês vão ser procurados por um interlocutor do PT, O SAPO BARBUDO DEU INSTRUÇÃO. Ele me disse que 1% vai ser todo pago para o PT, porque não querem empresas estrangeiras pagando esses dois terços para o PT. Eles têm confiança na Odebrecht”, relatou Araújo na sua delação. A conversa de Araújo com Barusco aconteceu em 2012, depois da assinatura do contrato com o consórcio formado pela Odebrecht, OAS e UTC, além da japonesa Kawasaki. “A conversa foi no Rio. Normalmente eu almoçava com o Pedro Barusco. Só eu e ele”, asseverou Araújo, explicando que as seis sondas da Sete Brasil para a Petrobras custariam US$ 4,8 bilhões. Barusco disse, então, a Araújo que estava acertado que 1% das seis sondas era na proporção de um terço para a “casa” (dirigentes da Petrobras) e dois terços para o PT (R$ 102 milhões). QUEM RECEBERIA ESSA PROPINA SERIA O ENTÃO TESOUREIRO JOÃO VACCARI, preso em Curitiba. É aí que Palocci entra em cena. O superior de Rogério Araújo, o executivo Marcio Farias disse que o ex-ministro Palocci havia lhe pedido uma reconsideração na propina da Sete Brasil. Ou seja, que os 100% DE 1% FOSSEM DESTINADOS PARA O PT, POIS LULA ENTROU NO NEGÓCIO E ESTAVA PLEITEANDO A METADE DO VALOR.


Como a operação precisava do aval do topo da hierarquia do esquema, Marcelo Odebrecht foi acionado. Ele, então, mandou chamar Palocci e disse que as comissões da Sete Brasil destinadas ao PT já estavam incluídas na conta corrente do partido no Setor de Operações Estruturadas, O “DEPARTAMENTO DE PROPINA” DA EMPRESA, ENTRE AS QUAIS A “ITALIANO” (PALOCCI), O “PÓS-ITÁLIA” (MANTEGA) E O “AMIGO” (LULA). ESSA CONTA, QUE PALOCCI ATESTARÁ QUE É MESMO DELE, CHEGOU A SOMAR R$ 200 MILHÕES EM 2012. Se sua delação for aceita pelos procuradores, Palocci irá confirmar não só o encontro com Marcelo como os valores da propina repassada para Lula, dinheiro este derivado da Sete Brasil e que já estava contemplado na planilha da empreiteira – perfazendo um total de R$ 51 milhões.

Como na exuberante movimentação bancária do ex-ministro entre 2010 e 2015, boa parte dos recursos depositados era oriunda de sua empresa, a Projeto, as consultorias de Palocci merecerão um capítulo à parte em sua delação. Os serviços contratados iam além dos conselhos. Muitas vezes, os serviços de consultoria nem eram prestados. Traduziam-se em lobby. Em português claro: TRÁFICO DE INFLUÊNCIA EM FAVOR DE GRANDES EMPRESAS JUNTO AOS GOVERNOS PETISTAS. Na condição de interlocutor preferencial da banca e da meca do PIB nacional, Palocci teria negociado ajuda a várias empresas e bancos. Por isso, segundo seus interlocutores, ele promete contar os bastidores das concessões de benesses a grupos econômicos.

QUEM TEM MAIS A PERDER, NO ENTANTO, É PT. E O PRÓPRIO LULA. NÃO POR ACASO, O PARTIDO ENTROU EM PARAFUSO QUANDO PALOCCI SINALIZOU QUE ESTAVA DISPOSTO A PARTIR PARA A DELAÇÃO. Nos últimos dias, dirigentes do partido e emissários do ex-presidente foram escalados para ir a Curitiba, onde o ex-ministro está preso. Todos ainda acalentam o sonho de que Palocci volte atrás. A despeito de as ofertas serem muitas, e tentadoras, o ex-ministro já avisou: NÃO PRETENDE RECUAR. Prevendo um novo infortúnio, petistas que conviveram com Palocci no Congresso já têm até em mente uma daquelas narrativas espertas destinadas a desvincular Lula de todo e qualquer crime que tenha cometido com o testemunho e a cumplicidade metódica de Palocci. Eles mencionam um caráter supostamente “INDIVIDUALISTA” do ex-ministro, desde que debutou para a política em Ribeirão Preto. CLARO, SÓ OS CONVERTIDOS, E INOCENTES ÚTEIS, VÃO CAIR EM MAIS ESSA CATILINÁRIA. (FONTE: REVISTA ISTOÉ).








PELEGOS MAMADORES DE TETAS



Ruy Fabiano

O fiasco da greve geral de ontem – convocada sem que nenhuma assembleia sindical tenha se manifestado – mostra que essas entidades, desviando-se de suas finalidades estatutárias, disputam hoje com os partidos políticos o troféu de desgaste popular.

Como os partidos políticos, só que numa escala bem maior, pulverizaram-se e passaram a servir-se do público para atender interesses privados. Criam-se sindicatos, assim como partidos, para se ter acesso ao dinheiro público que os sustenta.

Os partidos recebem as verbas do fundo partidário; os sindicatos, do imposto sindical – um dia de trabalho por ano de cada trabalhador, sindicalizado ou não. Há hoje, em decorrência, uma elite sindical milionária que se consolidou ao longo da Era PT.

O pretexto para a greve geral – as reformas trabalhista e previdenciária – não gerou a mesma reação quando o patrocínio era dos governos Lula e Dilma. As propostas eram equivalentes, mas não embutiam um detalhe: o fim do imposto sindical. E é ele que está na raiz da greve frustrada de ontem, não as reformas em nome das quais foi convocada. A República Sindical é cara, ineficaz e bizarra.

A propósito, alguém já ouviu falar de um certo Sindicato das Indústrias de Camisas para Homens e Roupas Brancas de Confecção e Chapéus de Senhoras? Pois é. Funciona (?) no Rio de Janeiro.

Há outros, assemelhados, como o Sindicato da Indústria de Guarda Chuvas e Bengalas de São Paulo. Ou ainda o Sindicato dos Empregados em Entidades Sindicais, isto é, um sindicato de funcionários de sindicatos. Seria até engraçado se por trás não houvesse alguns bilhões do contribuinte.

Há no Brasil, segundo o Ministério do Trabalho, nada menos que 11 mil e 257 sindicatos de trabalhadores, sem contar federações, confederações e centrais. E não é só: não cessam os pedidos para a criação de novos, que já não se classificam apenas por categoria, subdividindo-se, em alguns casos, até por local de trabalho.

Por exemplo: não basta um sindicato para os comerciários. Há um de comerciários que trabalham em shoppings, que teriam natureza diferenciada da dos comerciários que trabalham em estabelecimentos sediados nas ruas e avenidas. Questão de CEP.

A criatividade, em busca de fatias do imposto sindical, não tem limites. Cria-se numa ponta uma entidade patronal, o Sindicato de Empresas de Desmanche de Veículos (Sindidesmanche), e na outra uma entidade de trabalhadores do mesmo ramo, o Sindicato dos Inspetores Técnicos em Segurança Veicular (Sintseve).

À frente de ambas, os mesmos dirigentes: Mario Antonio Rolim, Ronaldo Torres, Antonio Fogaça e Vitorio Benvenuti, todos ligados à mesma Central, a Força Sindical, do deputado Paulo Pereira, do PDT, que, aliado de Lula e Dilma, não hesitou em aderir a Temer.

O imposto sindical foi criado por Getúlio Vargas, nos anos 40, mas, graças à Lei 11.648, de 2008, se estendeu às centrais sindicais. E graças a um veto de Lula ao artigo que submetia esse repasse à fiscalização do TCU, não é necessário que as centrais prestem conta do que é feito com essa bolada – que não é desprezível.

Em 2016, os sindicatos receberam R$ 3,6 bilhões; só as centrais sindicais, de 2008 a 2015, R$ 1 bilhão, sem precisar explicar o que dele fizeram. Esse dinheiro chega aos cofres do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e é depois repassado pela Caixa Econômica Federal. Uma festa.

Em tal ambiente, não é difícil entender a proliferação de sindicatos, que crescem na razão inversa à qualidade do atendimento ao usuário. Mas compreende-se: não se expandiram com essa finalidade, mas para servir a um projeto de poder, graças ao qual conseguem tumultuar a vida do país, falando em nome de quem não representam, mantendo-o no atraso em que ajudam a colocá-lo. – As imagens e a manchete não fazem parte do texto original -