quarta-feira, 23 de maio de 2012

O NOVO CORONELISMO DO PT SUBSTITUIU O ANTIGO VOTO DE CABRESTO PELO SUFRÁGIO DO GUIDOM.


O PODER DO LATIFÚNDIO NOS DOMÍNIOS DO PT

José Nêumanne

Petrolina e, como a cidade às margens do São Francisco, Pernambuco inteiro, pela voz de seu governador, Eduardo Campos (do clã Alencar, do Cariri cearense), indignaram-se com as críticas ao ministro da Integração Nacional, FERNANDO BEZERRA COELHO, por ter destinado 90% de todas as verbas da pasta ao seu Estado. Também a Paraíba mobilizou suas tropas retóricas para atacar qualquer um que lembrasse a circunstância de o novo ministro das Cidades do mesmo governo  socialista de Dilma Rousseff, AGUINALDO RIBEIRO, ser neto de Agnaldo Veloso Borges, vilão histórico da esquerda acusado de ter mandado matar os líderes camponeses JOÃO PEDRO TEIXEIRA E MARGARIDA MARIA ALVES. Agora vem o repórter Leonencio Nossa, lembrar que o dono da empreiteira Delta – campeã de obras do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e citada nas denúncias contra o bicheiro Carlinhos Cachoeira –, FERNANDO CAVENDISH, é bisneto do coronel Veremundo Soares, de Salgueiro. A Salgueiro do tempo dos coronéis tornou-se lendária pela citação num dos clássicos do repertório de outro sertanejo de Pernambuco, Luiz Gonzaga, em sua homenagem ao pai, o sanfoneiro Januário, do Vale do Araripe: "DE ITABOCA A RANCHARIA, DE SALGUEIRO A BODOCÓ, JANUÁRIO É O MAIOR". Hoje em dia, a região notabiliza-se pelo comércio de carros roubados e pelas plantações de Cannabis sativa, que a tornaram uma espécie de capital informal do "perímetro da maconha". Assim como as plantações de coca florescem nos sovacos dos Andes bolivianos e em outros locais inóspitos, a "erva maldita" cresce e dá bons lucros num território que antes era definido como "polígono das secas" e agora recebe a crua denominação de semiárido. Neste ano, em que ocorre o mais penoso período de estiagem no Nordeste em 30 anos, por mais que incendeie roças da matéria-prima para a droga com a qual os viciados costumam se iniciar, a polícia não dá conta de seu avanço sertão adentro. A exclusão do nome do bisneto do CORONEL VEREMUNDO dos convocados a depor na CPI do bicheiro goiano reforça as evidências históricas de que a força inesgotável das oligarquias com poder sediado no sertão REPRESENTA PARA A REGIÃO ESPECÍFICA E PARA TODO O BRASIL UMA PRAGA PIOR DO QUE O FLAGELO DAS SECAS PERIÓDICAS E A MACONHA PERENE. Na falta de chuvas deste ano, a situação aflitiva das populações sertanejas é amenizada pela ESMOLA ESTATAL da Bolsa-Família. A famosa bravata de dom Pedro II, que prometeu empenhar o último diamante da coroa imperial para evitar que um cearense morresse de fome, foi assumida pela República assistencialista, que adotou O "NEOCORONELISMO" COM CARTÃO MAGNÉTICO E TROCOU O VOTO DE CABRESTO PELO SUFRÁGIO DO GUIDOM. Pois o JEGUE foi substituído pela MOTO, financiada a perder de vista, mas também a perder da vida, pois o comprador é dizimado nas rodovias em acidentes fatais e dificilmente sobrevive à própria dívida. No entanto, os animais criados pelas famílias dos camponeses pobres são sacrificados pela inclemência climática e pela insensibilidade do Estado ausente. O poder do latifúndio no passado foi tema de clássicos da sociologia brasileira, tais como Coronelismo, Enxada e Voto, de Victor Nunes Leal, Coronel, Coronéis – Apogeu e Declínio do Coronelismo no Nordeste, de Marcos Vinicios Vilaça e Roberto Cavalcanti de Albuquerque, e Família e Coronelismo no Brasil – Uma História de Poder, de André Heráclio do Rêgo. A "INCLUSÃO" dos costumes desse mandonismo na República petista tem merecido um estudioso à altura desses citados expoentes da sociologia do latifúndio, o professor Luiz Werneck Vianna, que no artigo As cidades e o sertão,  esclareceu: "Está aí a mais perfeita tradução da quasímoda articulação, no processo de modernização capitalista do País, entre o moderno e o atraso, ilustração viva do ensaio de José de Souza Martins A Aliança entre Capital e Propriedade da Terra: a Aliança do Atraso (in A Política do Brasil Lúmpen e Místico, São Paulo, Editora Contexto, 2011) e que se vem atualizando por meio da conversão do imenso estoque de capital social, econômico e político do latifúndio tradicional, que se processa no circuito da política e mediante favorecimento da ação estatal, em que seus herdeiros se reciclam para o exercício de papéis modernos. Para quem é renitente em não ver, este é o lado obscuro do nosso presidencialismo de coalizão, via escusa em que os porões da nossa História se maquiam e mudam para continuarem em suas posições de mando". Ou seja, "ou fingimos que mudamos ou eles mudam contra nós" – parafraseando o príncipe de Salina, protagonista do romance O Leopardo. O maquiavélico conselho do cínico protagonista da obra-prima de Giuseppe Tomasi di Lampedusa ao sobrinho Tancredi traduz a aliança entre os socialistas pragmáticos do PT e os senhores da terra do semiárido. Não se trata de acusar o neto pelos crimes atribuídos ao avô nem de atribuir ao bisavô os deslizes do bisneto, e sim de reconhecer a renitente sobrevivência do semifeudalismo rural sertanejo nos costumes políticos do Brasil contemporâneo. A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO, ANUNCIADA PARA MATAR A SEDE DOS SERTANEJOS, NÃO PASSA DE TRUQUE RETÓRICO PARA DAR CUNHO SOCIAL A UMA OBRA FARAÔNICA, QUE CUSTARÁ CARO AO CONTRIBUINTE E ENTREGARÁ A ÁGUA A QUEM JÁ TEM A TERRA PARA IRRIGAR. A estéril discussão sobre os efeitos do clima no semiárido, sem consequências práticas, representa a manutenção do domínio político e econômico dos oligarcas, confirmado por fatos. Este ano, a prefeitura de Campina Grande, centro universitário de alta tecnologia, será disputada por Daniela, irmã de Aguinaldo Ribeiro e neta de Agnaldo Veloso Borges, por Romero Rodrigues, primo do senador Cássio, parente de Zé Cunha Lima, de Brejo de Areia, e por Tatiana Medeiros, apoiada pelo prefeito Veneziano Vital do Rêgo Segundo, parente do célebre Chico Heráclio do Rego, personagem-síntese do mandonismo no sertão.


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