Guilherme Fiuza
E o mistério permanece: as manifestações em defesa da educação, que voltaram a acontecer, ofereceram um variado cardápio que foi de LULA LIVRE a agressão de jornalista. Teve algumas fogueiras também. Isso talvez tenha sido uma homenagem ao incêndio do Museu Nacional, destruído pela incúria da UFRJ – instituição altamente partidarizada ao longo dos anos, portanto um evidente modelo educacional.
Quando você vê na rua militantes do PT, da CUT, do PSOL e cia, você tem certeza de que a luta é mesmo pela educação. Vale o esclarecimento aos que estão chegando agora ao Brasil: educação, no caso, significa uma plantação de cabides para pendurar sindicalistas e parasitas associados do setor de ensino, movimento muito bem sucedido neste século. Claro que salas de aula por todo o país viraram palanque de autoperpetuação dessa classe unida e gulosa, mas isso nunca foi um problema para os que estão gritando que a democracia está em risco.
Aquela grita do primeiro mortadelaço, quer dizer, do primeiro protesto contra o massacre das verbas da educação não foi ouvida com a mesma dramaticidade no segundo mortadelaç… no segundo protesto. Depois que circularam uns 200 gráficos mostrando que não se tratava de corte, mas de um contingenciamento (contenção) igualzinho aos dos outros governos – incluindo os dos intelectuais Lula da Silva e Dilma Rousseff – esse refrão perdeu um pouco do apelo.
Mas todo mundo sabe que a educação só seria realmente bem gerida num governo Haddad – não apenas pela sólida formação recebida diretamente do decano na cela da Polícia Federal, como porque já transcorreu um bom tempo desde que ele não conseguia aplicar direito uma única prova do Enem (tricampeão de fraudes), e a turma da resistência democrática acredita no aprendizado. Dava para ver nos olhares inconformados dos manifestantes o desejo explícito de que a educação brasileira estivesse neste momento nas mãos de um suplente de presidiário – que até já estivera à frente do MEC e aproveitara para ensinar os brasileiros a escrever “nós pega o peixe”.
Na Presidência da República, possivelmente teria a chance de voltar a conjugar, com o notório saber acadêmico do seu partido, o “nós pega a grana”. Entendeu agora os gritos de Lula livre nas passeatas pela educação?
O que mais surpreendeu nesse show de civismo e valorização do conhecimento foi a postura dos fiscais de passeata. É uma categoria nova, muito operativa e sagaz, que faz uma espécie de meteorologia política. Assim como os responsáveis pela previsão do tempo, que alertam para o risco de grandes tempestades, os fiscais de passeata advertem sobre o risco de autoritarismo na convocação de uma manifestação de rua. Para o ato de 26 de maio, por exemplo, cuja pauta era o apoio às reformas econômicas e da Previdência, os meteorologistas cívicos previram nuvens negras: uma onda fascista se aproximava sob a superfície verde e amarela.
A manifestação transcorreu em paz no país inteiro, concentrada na pauta que a convocara e sem sinais de pregação boçal ou exortação antidemocrática, mas a semente do fascismo devia estar muito bem escondida debaixo de algum chapelão daqueles, porque fiscal de passeata não erra.
Já para o mortadelaço, quer dizer, o ato pela educação, a meteorologia cívica não soltou qualquer boletim prévio. Os sensores e mapas dos fiscais deviam estar apontando só tempo bom e democracia radiante, porque não se ouviu um único alerta como aqueles todos que antecederam o domingo 26. As fogueiras, as hostilidades à imprensa e a defesa ostensiva de criminosos condenados que se viram no mortadel… ato pela educação devem ter sido só uma brincadeira do pessoal irreverente que tirou folga do trabalho e da escola naquela quinta-feira, porque os fiscais de passeata não erram.
Fica combinado assim: quem quiser saber as sutis diferenças semânticas entre educação, politicagem, democracia e vadiagem, procure o fiscal de passeata mais próximo. Ele certamente saberá ajudar.
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