Carolina Benevides
Recém-empossado presidente do PSB no Rio,
o deputado federal Romário se divide agora entre o Congresso e a organização do
partido no estado. A presidência foi oferecida a ele para que voltasse ao PSB,
depois de ter deixado o partido por incompatibilidade com o então presidente da
sigla no Rio, Alexandre Cardoso, prefeito de Caxias. - Não fiz parte do
processo de expulsão. Mas o que ele fez (apoiar o governador Sérgio Cabral em
detrimento do PSB) não é digno de presidente de partido. Foi infidelidade
partidária - diz Romário, que acredita ainda ser "muito cedo" para
definir alianças no estado: -Hoje, nem o (Eduardo) Campos (presidente do
partido) pode dizer com quem faremos aliança. Quase três anos após ter sido
eleito com mais de 146 mil votos, Romário falou ao GLOBO sobre ter tido "RECEIO DE PERDER A IDOLATRIA', disse que "político só anda se tiver bandeiras", explicou
porque deixou o PSB e voltou menos de dois meses depois, falou em reeleição e
disse ter aprendido a "ser político" e concluído que, no Congresso, "A
MAIORIA É DO MAL": - Aprendi a ouvir coisas que não vão beneficiar o povo
e a ter que engolir. Voto no que acredito. Mas aqui (no Congresso), o mal
prevalece. Compro as brigas que acho que devo comprar, mesmo sabendo que vou
perder. No Congresso, a maioria é do mal...
QUE BALANÇO
O SENHOR FAZ DO QUE JÁ APRENDEU NO CONGRESSO?
Aprendi a ser político. Aprendi a ouvir
coisas que não vão beneficiar o povo e a ter que engolir. Voto no que acredito.
Mas aqui (no Congresso), o mal prevalece. Compro as brigas que acho que devo
comprar, mesmo sabendo que vou perder. No Congresso, a maioria é do mal... A
maioria é contrária ao que o povo precisa. Pode ser que o bem prevaleça lá para
frente...
O SENHOR FOI
CONVIDADO A SE FILIAR AO PSB...
Tenho consciência de ser puxador de voto.
Mas quando aceitei, aceitei para ganhar. Eu não sabia o que me esperava, mas
tenho sido feliz. Acredito que a maioria confia em mim. Eu tinha receio de
perder a idolatria. Mas me sinto mais ídolo do que antes, porque me respeitam
como homem público. Eu jogava, falava e cumpria. Agora, é assim também.
O SENHOR
ABRAÇOU ALGUMAS BANDEIRAS, TORNOU-SE CRÍTICO FERRENHO DOS GASTOS COM A COPA.
Político só anda se tiver bandeiras, mas
não adianta ter 50. Tem que ter foco no que vai fazer. Cheguei com uma
bandeira, a dos deficientes, e agora são cinco: combate ao crack, deficientes,
Hip Hop, doenças raras e a fiscalização combativa dos gastos com a Copa. Sobre
a Lei da Copa, eu gostaria que alguns artigos não tivessem sido aprovados, que
os gastos não fossem absurdos e fora da realidade do país. Mas (no Congresso)
tem muito mais interesse de lobby do que do povo. E eu tenho que votar em
outros projetos (além dos que defendo) por obrigação. Então, tento me inteirar
para votar no que é positivo para o povo.
POR QUE O
SENHOR DECIDIU DEIXAR O PSB?
Eu me sentia engessado pelo partido. Se
uma pesquisa mostrasse que eu poderia concorrer ao Senado, que era bem cotado,
mesmo assim não poderia. Ia sempre ser deputado, não podia ser senador,
prefeito, vice-governador, nada. Com o acordo com o PMDB, seria sempre
deputado. Foi o que me fez sair.
E POR QUE
VOLTOU?
Porque passei a ter liberdade para
decidir como vir em cada eleição: deputado, senador, vice, governador. Se
estiver bem colocado na pesquisa, posso decidir. Também assumi a presidência no
Rio. E, como presidente, posso dar essa liberdade de ação a todos. Se existe a
vontade de um deputado estadual se candidatar a outro cargo, a gente senta,
dialoga.
O QUE MAIS O SENHOR PRETENDE À FRENTE
DA PRESIDÊNCIA?
Quero reunir os 92 diretórios do estado e
convidar a Marina (Silva, recém filiada ao PSB) e o (Eduardo) Campos
(presidente nacional do partido) para participar. Eu nunca havia sido convidado
para nenhuma reunião e quero mudar isso, quero reunir as pessoas no dia 9 de
novembro. Já no ano que vem, em fevereiro, provavelmente, vou visitar os 91
municípios para conhecer o PSB nesses locais e também as pessoas. Me importo
com o corpo a corpo, é muito fácil usar telefone, fax, internet, mas ir ao
local é mais intimista. As pessoas hoje esperam algo diferente do PSB, e é
preciso entender o que o partido precisa em cada cidade.
LOGO DEPOIS
DO SENHOR ASSUMIR, O PSB SE DESVINCULOU DO PMDB. COMO TEM VISTO O GOVERNO
CABRAL?
É um governo falido. Desrespeita as
classes C, D e E ao usar dinheiro público para andar de helicóptero. Já passou
do limite da decência, do respeito. Sei que foi um governo positivo durante um
tempo. Mas nos últimos dois anos, o Cabral pessoa física superou o Cabral
governador.
E O GOVERNO
DILMA?
De 0 a 10, dou nota 6. Mas já teve nota
8. O PT faz a velha política. Claro que tem coisas, como Mais Médicos, que
respeito. Mas respeito porque as pessoas estão sendo beneficiadas.
O SENHOR JÁ
SE REUNIU COM MARINA?
Não. Eu me apresentei a ela naquele
sábado da filiação ao partido. Foi rápido. Seria uma honra para mim sentar e
conversar com ela.
A
EX-SENADORA SUGERIU O NOME DO DEPUTADO FEDERAL MIRO TEIXEIRA (PROS) PARA O
GOVERNO DO RIO.
Marina simpatiza muito com ele e eu
também. Mas isso não significa aliança e ainda é muito cedo para decidir. Nós
vamos estudar o que é melhor para o Rio e para o PSB.
O SENHOR
DECLAROU QUE SIMPATIZA TAMBÉM COM O LINDBERGH FARIAS, PRÉ-CANDIDATO PETISTA...
Simpatizo. Sempre me dei bem com ele, com
o Miro, com o Garotinho, com o Crivella. Isso não significa coligar, não é
aliança. Hoje, nem o (Eduardo) Campos (presidente do partido) pode dizer com
quem faremos aliança no Rio.
O SENHOR
PODE VIR A SER O CANDIDATO DO PSB AO GOVERNO DO RIO?
Tenho consciência que não tenho vasta
experiência política para ser governador do Rio. Mas não tinha experiência
quando cheguei ao Congresso. Com um grupo de trabalho sério e vontade de fazer
o bem, pode-se trazer benefícios (para o povo). Eu não tenho a experiência dos
que vão se candidatar, não tenho a experiência do (Anthony) Garotinho, do (Luiz
Fernando) Pezão e do Lindbergh, que já estiveram em cargos no Executivo. Mas se
lá na frente, eu for candidato ao governo, tenho certeza que não vou
decepcionar.
E O SENHOR
VAI SER?
Hoje, 80% de chance de tentar a reeleição
como candidato a deputado federal. E 20% de chance de tentar concorrer para o
Senado. Mas política é muito dinâmica, tudo pode mudar.