Guilherme Fiuza
Se as eleições fossem hoje, Lula venceria no
primeiro turno com 171% dos votos do DataFilho do Brasil e do Instituto Lula de
Pesquisas Confiáveis – devidamente auditados pelo IPC (Institutos de Porta de
Cadeia). O resto do Brasil não vota, porque está preso do lado de fora da cela.
Este é o quadro da sucessão presidencial de 2018: os brasileiros resolveram
substituir a eleição por um meme, UMA PEGADINHA. Chega de monotonia.
Um desses especialistas de plantão que explicam
cientificamente qualquer rebolado estatístico diagnosticaria na bucha: o Brasil
cansou de eleição. É eleição demais, uma atrás da outra, ninguém aguenta. Este
ano resolveu quebrar o tédio e mandar às favas o repetitivo ritual de
candidaturas e votos, substituindo-o por um empolgante BBB CARCERÁRIO.
O coquetel que está melando a disputa e
embaçando o quadro sucessório no país é simples: você passa mais de ano
empurrando para segundo plano o dado de que a maioria da população não sabe em
quem votar, e transforma com jeitinho o político mais lembrado do país em
favorito das galáxias. DEPOIS BOTA O CHICO BUARQUE PARA VISITÁ-LO NO XADREZ E DECLARAR SEU VOTO IMAGINÁRIO NO SUJEITO QUE
TEM 12 ANOS DE SOL QUADRADO PELA FRENTE. O Brasil acredita. A imprensa amiga se excita. Os
progressistas de aluguel se eriçam. O mercado histérico compra. E o dólar
realiza o fetiche dos 4 reais.
Se o candidato mais vigiado do Brasil é o
protagonista do BBB ELEITORAL, ele deixa de ser um criminoso confinado para se
tornar um líder da disputa. Isso abre uma oportunidade valiosa para o
surgimento de oponentes cenográficos – como se o tal “LÍDER” já não
estivesse derrotado pela lei e pelas instituições que enxotaram sua militância
da máquina pública.
Não. É preciso inventar candidatos novinhos em
folha, que não têm nada com isso tudo que aí está (estavam esse tempo todo
resolvendo os problemas administrativos de Marte), têm horror à política e vão
derrotar o derrotado a golpes de poesia em rede social. Este é o quadro
sucessório às vésperas da eleição 2018.
O Brasil costuma acordar para decidir seu voto
umas duas semanas antes de se encontrar com a urna. Este ano talvez seja ainda
mais emocionante, com o despertar se dando umas 48 horas antes, oferecendo ao
dólar a oportunidade de belos SALTOS ORNAMENTAIS e deixando o respeitável
público de respiração presa ante o APOCALIPSE IMAGINÁRIO.
E existe até a chance de não acordar nunca,
consumando a profecia autorrealizável: se é tão fácil lavar dinheiro e
reputações, não custa nada legalizar o falso dilema entre a assombração do Lula
e a assombração do anti-Lula. AÍ O PAÍS DAS ALEGORIAS E ADEREÇOS TERÁ
CHEGADO À PERFEIÇÃO.
Não estamos aqui para estragar a brincadeira,
muito menos para impor seriedade a um carnaval tão pitoresco. Essa é a época em
que o brasileiro tradicionalmente se esquece dos erros grosseiros das pesquisas
às vésperas de todas as eleições passadas – e equilibrar a vida e o futuro
sobre percentuais voadores é uma espécie de religião nacional. NÃO VAMOS
PROFANAR ESSA CRENÇA.
Vamos só lembrar que o carnaval custa caro. Cada
dia a mais de folia corresponde a meses de limpeza e reconstrução do patrimônio
público depredado pelos foliões bêbados de civismo pirata. E a conta não tem
status de numerologia eleitoral. Ela chega – certinha, com todos os zeros.
Dizem que Zé Dirceu estava disfarçado na
passeata do MST rumo ao STF pela libertação de Lula. Não se sabe se estava
mesmo. A única certeza é que O STF ESTAVA DISFARÇADO DE CORTE SUPREMA,
ENQUANTO GARANTIA EM MAIS UMA DECISÃO HISTÓRICA A LIBERDADE DO COMPANHEIRO
DIRCEU –
condenado em segunda instância a 30 anos de prisão na operação Lava Jato.
O recurso pendente de Dirceu, que fundamentou a
decisão de salvá-lo da prisão, é um questionamento sobre o valor que ele deve
restituir aos cofres públicos.
Enquanto não devolve o dinheiro roubado, o
criminoso merece ficar livre para gastá-lo como bem entender – inclusive
patrocinar a micareta Lula Livre e a bagunça do processo eleitoral brasileiro. A
ONU DISSE QUE ESTÁ TUDO BEM, E A CARMINHA MANDOU NÃO DEIXAR O SAMBA MORRER.