Reinaldo
Azevedo
Joesley e
Wesley. Se me permitem a graça, com a habilidade de açougueiros experientes, FIZERAM
PICADINHO DAS LEIS, das instituições, da moralidade, da dignidade, da verdade,
da decência. E agora estão livres, leves e soltos em Nova York. Ninguém obteve
tamanho benefício em negociações de delação premiada.
Como? O grupo vai pagar multa de R$ 225
milhões? Horas antes do vazamento da informação, a CVM ficou sabendo que as
empresas ligadas à dupla adquiriram uma posição superior a US$ 1 bilhão no
mercado local. QUEREM VER COMO É DOCE A VIDA DOS BATISTAS?
Quando eles compraram mais de US$ 1
bilhão, a moeda estava cotada A R$ 3,134. Assim, os valentes empenharam um montante DE R$ 3,134 BILHÕES. Ora,
eles sabiam que, depois da delação, aconteceria o óbvio: o dólar dispararia. CHEGOU A R$ 3,40, com uma valorização DE 8,48% ontem. Sabem o que isso significa? Que
a DELAÇÃO RENDEU a Joesley e Wesley, na base da pura especulação, a bagatela de
R$ 265.763.200! Caso você decida subtrair daí os R$ 225 milhões da multa, ainda
sobram, de saldo positivo, R$ 45,765 MILHÕES.
Só isso? Não! Tanto quando eles sabiam
que o dólar iria disparar, tinham clareza de que as ações do grupo iriam
despencar. O que eles fizeram? Em abril, depois das conversações para a delação
premiada, OS BATISTAS VENDERAM R$ 329 MILHÕES EM AÇÕES DA JBS. Ontem, as ditas
cujas sofreram um tombo de 14,84%.
É UM ACINTE! Há muito tempo venho
insistindo na tecla de que a Operação Lava Jato, à diferença do que parece,
promove o maior espetáculo de impunidade de que se tem notícia. Venham a vida
fabulosa dos delatores, que estão soltos por aí, certamente torrando parte da
grana que roubaram dos brasileiros.
QUEREM UM PAÍS
SÉRIO? Querem um país sério? Então peçam para investigar essa
delação verdadeiramente pornográfica dos Batistas, que contou com a — terei de
escrever isto — anuência acovardada de Edson Fachin, que, adicionalmente, não
teve a coragem de recusar um pedido de abertura de inquérito contra o
presidente, uma vez que inexiste na gravação evidência de crime.
Um amigo me mandou a seguinte mensagem:
“Minha conclusão do episódio das gravações. Açougueiros criminosos, em
pareceria com um procurador irresponsável e um ministro do Supremo conivente,
aceitaram uma gravação clandestina como prova para justificar a delação
premiada e livrar da cadeia dois bandidos que eram os maiores financiadores de
campanha do país”.
POIS É… E
você? E nós? E os pobres? Joesley e Wesley cometeram crimes em penca.
Foram os maiores beneficiários do regime petista e das generosas linhas de
crédito do BNDES. Fizeram-se verdadeiros parceiros de Lula e de seu partido.
Quando a coisa aperta, decidem fazer uma “delação premiada”, negociada a termos
generosos jamais vistos. Parece que o propósito estava dado: “ENTREGUEM O
PRESIDENTE DA REPÚBLICA E O PRESIDENTE DO MAIOR PARTIDO DE OPOSIÇÃO E VOCÊS
TERÃO UMA COMPENSAÇÃO À ALTURA”.
E nós? E os
que não especulamos no mercado de câmbio? E nós? Os que não somos bucaneiros
disfarçados de jornalistas? E nós? Os que precisamos de uma país viável para
que nosso esforço possa ser devidamente recompensado?
E os que são
muito diferentes de nós porque mais pobres, com menos direitos, com menos
acesso aos bens da civilização, com menos autonomia para cuidar de seu destino?
E os que são muito diferentes de nós
porque a diferença entre um país em recessão e um país em crescimento é o
feijão na mesa?
E os que são muito diferentes de nós e
pagarão ainda mais caro se o país não fizer a reforma da Previdência e a
reforma trabalhista?
Ora, esse país não está no horizonte do
Ministério Público. Deltan Dallagnol, cada vez mais um político e menos um
procurador, escreveu o seguinte ontem no Facebook:
“Ninguém mais
aguenta toda essa podridão. Se este Congresso não fizer as reformas necessárias
contra a corrupção, será uma confissão de incompetência e merecerá a vergonha
dos crimes que o cobrem, com as honrosas exceções daqueles que estão lutando
por essas mudanças”.
Notem que as reformas de Dallagnol não
são a trabalhista e a da Previdência. O Ministério Público é contra as duas. E,
ainda assim, grupos que se dizem liberais e de direita tocam flauta para a
turma. A hostilidade ao Congresso é evidente, e as “HONROSAS EXCEÇÕES” ficam
por conta dos que concordam com as teses de Dallagnol.
E encerra a sua mensagem falando como o
bom fanático que é: “Não roubarão nosso país de nós. Lutaremos por ele até o
fim”.
Não duvidem! Dallagnol é do tipo que
luta até o fim. Se preciso, ele mata o paciente na sua “luta até o fim” contra
a doença!
E, como se vê, o país de Dallagnol
comporta os Batistas, que, a esta hora, flanam em Nova York, e os desdentados e
ferrados na vida, condenados a viver na mesquinharia, na pobreza e no atraso.
Se todos tiverem a alma limpa como a de
Dallagnol, ainda que não possam ter o seu salário, tudo bem! A miséria
dignifica um homem de espírito reto. Ah, sim! Ainda vou tratar da questão:
teria o presidente prevaricado?