domingo, 25 de maio de 2008

CAPELA VENDIDA EM LEILÃO NO SERTÃO
Por Wilson Monteiro/Salgueiro
Igreja erguida nos anos 50 por uma moradora de Salgueiro foi arrematada pela prefeitura do município. A intenção era preservar o temploUm leilão nunca antes visto na região surpreendeu o município de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, distante 516 quilômetros do Recife. A peça colocada na vitrine era nada menos que uma igreja, construída nos anos 50 pela moradora Martiniana Filgueira Soares, com apoio da comunidade local. Para proteger o patrimônio da cidade, a prefeitura adquiriu a Capela de Nossa Senhora das Graças por R$ 79 mil.
O templo religioso foi penhorado por causa de dívidas da Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Desde 1994, a capela estava sob responsabilidade de Maria Inez Soares Ribeiro e Silva, neta de Martiniana. Como ela era casada com um médico (falecido) que fazia parte da Casa de Saúde, a igreja e outros bens da viúva foram penhorados para pagamento da dívida.
“Isso é uma coisa escandalosa, onde já se viu leiloar uma igreja”, questiona Adelaide Soares de Sá Sampaio, 70 anos, filha de Martiniana Filgueira, que morreu em 1994 com mais de cem anos. A capela foi construída na área de um armazém de mamona, de propriedade de Antônio Filgueira Soares (falecido), irmão mais velho de Adelaide e pai de Inez.
Conforme Adelaide Soares, moradores da cidade participaram de campanhas para ajudar na construção do templo e na aquisição de bancos. “A capela estava em área particular, mas é um bem da comunidade. Fomos todos surpreendidos pela notícia”, destaca.
A família, que sempre cuidou do templo, tinha intenção de repassar a imóvel à Paróquia de Salgueiro. “Demos esse conselho a Inez e já havia um contrato de comodato, quando o prazo expirasse, seria feita a doação. Não passou pela cabeça de ninguém que aconteceria uma coisa dessas”, declara.
Cleusa Pereira do Nascimento, prefeita de Salgueiro pelo PSB, tentou impedir que a igreja fosse à leilão, com um decreto de desapropriação do imóvel, avaliado em R$ 80 mil. “Não tive êxito, mas quando vi que a capela poderia ser comprada por um particular, derrubada e transformada num bar, fiz a aquisição, em respeito à religiosidade do povo”, justifica.
Ela está providenciando um novo contrato de comodato, para manter a igreja com a paróquia. “É uma solução imediata, enquanto resolvemos a situação em definitivo”, diz. As atividades religiosas do templo estão asseguradas.
Joaquim Alencar, advogado de Maria Inez, recorreu da penhora dos bens ao Tribunal Regional Federal e aguarda o julgamento do recurso. “A Justiça Federal atendeu um pedido do INSS, mas minha cliente não é diretora da casa de saúde”, assegura[www.palavrasdosertao.com.br]

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