domingo, 2 de agosto de 2009

SUA VIDA FOI ANDAR
POR ESTE PAÍS:
(BLOG CHUMBO GROSSO)
LUIZ LUA GONZAGA, QUE HOJE COMPLETA 20 ANOS DE SUA MORTE FOI UM SUJEITO DE PAVIO CURTO, IRASC�VEL. UM HOMEM MAND�O, CORONELESCO, E PARADOXALMENTE GENEROSO, AMIGO, SOLID�RIO. ENFIM, DONO DE UMA PERSONALIDADE COMPLEXA, QUE NENHUMA DOS SEUS BI�GRAFOS ANALISOU COM MAIOR PROFUNDIDADE. ISTO SE DEVE AO FATO DE CONSULTAREM MAIS PARENTES PR�XIMOS, CONFERIR ENTREVISTAS, E DEIXAR EM SEGUNDO PLANO QUEM MAIS CONVIVIA COM ELE NO DIA A DIA: M�SICOS, AMIGOS E COMPOSITORES. AFINAL, GONZAG�O PASSAVA MESES FORA DE CASA, RODANDO PELO BRASIL, PATROCINADO POR EMPRESAS COMO O COL�RIO MOURA BRASIL E BANORTE. FOI, PROVAVELMENTE, O ARTISTA BRASILEIRO QUE MAIS FOI AT� ONDE O POVO ESTAVA. RAROS FORAM OS MUNIC�PIOS DO PA�S N�O VISITADOS POR ELE. RARA TAMB�M A CIDADE NA QUAL ELE N�O TIVESSE UM �COMPADRE�. NESSAS ANDAN�AS N�O FORAM POUCOS OS �CAUSOS� ACONTECIDO COM GONZAG�O GRANDE PARTE SEM REGISTRO EM LIVROS. VAMOS A ALGUNS:
O COMPADRE
Conta Marcelo Melo, do Quinteto Violado, que fez muita excurs�o com �seu� Luiz, que certo dia eles iam tocar no interior de S�o Paulo, e mal entraram na cidade, Luiz Gonzaga mandou que o motorista do �nibus se dirigisse a uma determinada rua onde morava um dos "compadres" dele. O �nibus parou em frente � casa do compadre que, quando viu Luiz Gonzaga perguntou: �Oi, Luiz, o que � que t�s fazendo por aqui?!� Luiz Gonzaga respondeu, na bucha: �Vinha fazer um show�. E o compadre, estranhando: �Vinha? N�o vai fazer mais n�o? Por qu�?� E o irasc�vel Rei do Bai�o: ��xe, se tu, que � meu compadre, n�o sabe sobre o show, que dir� o povo! N�o vai dar ningu�m, e eu vou embora�.
A VOZ DO DONO
Em 1973, Luiz Gonzaga ia casar a filha Rosinha, mas o dinheiro estava curto. A sa�da foi pedir um adiantamente � RCA, onde estava desde os anos 40. O novo presidente da empresa, um tal Mr. Evans, negou o adiantamento. Gonzag�o irritou-se e foi falar pessoalmente com o gringo. Chegou no andar da presid�ncia, foi barrado pela secret�ria. A irita��o virou f�ria: �PQP, h� mais de 30 anos trabalho na RCA, e s� vejo o cachorro, nunca o dono! (o cachorro no caso era o c�ozinho latindo para um gramofone, no logotipo da RCA). Dito isto, emburacou no gabinete de Mr. Evans, e pediu rescis�o de contrato. Quem lhe conseguiu o adiantamente e um contrato na Odeon, foi o tamb�m pernambucano Fernando Lobo (pai de Edu Lobo). Ironicamente, foi o mesmo Fernando Lobo quem havia proibido Luiz Gonzaga de cantar na R�dio Tamoio, da qua era diretor, alegando que ele havia sido contrato como sanfoneiro, portanto s� podia tocar sanfona.
O REGGAE
Jos� Oliveira, mais conhecido por Z� da Flauta, como integrante do Quinteto Violado, nos anos 70, fez muita viagens pelo Brasil com Luiz Gonzaga, uma dobradinha musical adorada pelo povo. Mas nunca se aproximou muito de �seu� Luiz, porque este raramente abria a guarda. Uma vez, na estrada, Z� da Flauta notou que Gonzag�o tamborilava com os dedos no bra�o da poltrona do �nibus, acompanhando um reggae de Bob Marley, que tocava no som-ambiente. �Quando a m�sica terminou, eu tentei puxar assunto: e a�, seu Luiz gostou do reggae?�. Luiz Gonzaga voltou-se para ele, com o jeito meio abusado caracter�stico, e respondeu: �Que r�gue, que nada! Isto � s� um xote metido a besta!�
RECOLHE O DISCO
De passagem para o Exu, Gonzag�o fez uma visita a Onildo Almeida para mostrar seu novo LP. Onildo olhou o disco, e notou um erro na capa: �Comigo ele nunca ficava brabo n�o. Costumo dizer tudo na cara, e fiz isso naquele dia. Olhei pra ele e falei: Luiz me admiro voc�, um nordestino, que sabe tudo do Nordeste, deixar que botem um t�tulo deste na capa do disco: �De fi� pavi�. Gonzag�o pegou o �lbum, olhou pra capa, para Onildo e questionou: �Que � que tem de errado?� E Onildo: �Mas, homem, a express�o � de fi a pavi (de fio a pavio, equivalente a de cabo a rabo). Onildo conta que quando Gonzag�o se deu conta do erro, ligou para a gravadora a fim de que os LPs fossem recolhidos. N�o foram, j� estavam distribu�dos pela lojas Brasil afora. At� hoje o �lbum continua com o t�tulo, que n�o significa absolutamente nada.
ERRADO ATÉ O FIM
S�rgio Gonzaga, filho de Chiquinha Gonzaga, �nica irm� de Gonzag�o que se tornou cantora (e ainda continua na profiss�o, aos 82 anos), nos anos 70 trabalhou com o tio, como zabumbeiro e motorista do autom�vel que o levava para shows pelo interior do Nordeste, em �poca de vacas mag�rrimas para o Rei do Bai�o. Uma noite, voltavam para Exu, onde Gonzaga j� havia montado casa, no hoje parque Aza Branca (com Z mesmo). Acontece que h� dois caminhos para chegar � cidade. Um deles, que passa por Bodoc�, alonga o trajeto em 60 quil�metros. Sonolento, S�rgio Gonzaga pegou o caminho errado. Quando notou, j� havia dirigido uns dez quil�metros. Respirou fundo, tomou coragem e falou, �Tio, peguei o caminho errado. Volto?� E Gonzag�o, sem nem sequer olhar pra ele: �N�o. Agora vai errado at� o fim!�
FISCAL FULEIRO
Luiz Gonzaga, instrumentista intuitivo, m�sico desde menino, aprendendo de ouvido, n�o tinha a menor paci�ncia com os burocratas da ordem dos m�sicos. Certa vez, nos est�dios da RCA, no Rio amea�ou bater num fiscal que lhe exigia a famigerada carteirinha da ordem. N�o se sabe como o fiscal entrou no est�dio. Quando Gonzag�o entendeu o que ele queria, e que o sujeito amea�ava parar a grava��o se n�o visse as carteiras da ordem, Gonzag�o correu atr�s dele. Acuado num canto da sala, o fiscal afinou: �Seu Luiz, pelo amor de Deus n�o fa�a nada comigo n�o, Sou seu f�. L� em casa tem at� um p� de laranja que tem seu nome!�
FISCAL FULEIRO 2
Outro epis�dio com fiscal da Ordem dos M�sicos aconteceu em Arcoverde, no Agreste pernambucano. Quem conta o caso � Arlindo dos Oito Baixos, sanfoneiro que acompanhou Luiz Gonzaga em shows pelo Nordeste durante 18 anos. �A gente ia tocar em pra�a p�blica, em cima de um caminh�o. Quando seu Luiz ia subindo um rapaz falou com ele. Queria ver a carteira da ordem�. O que Gonzag�o mostrou ao rapaz foi um gesto universal. Estendeu-lhe a m�o, com o dedo m�dio em riste e foi curto e grosso: �Aqui pra tu, �!�
ANTES SÓ
A pior fase na carreira de Luiz Gonzaga, ao menos em termos econ�micos, aconteceu nos anos 70. Curiosamente, depois do show Volta pra curtir, no Rio, a sua redescoberta pela classe m�dia urbana, que s� o curtiu mesmo durante alguns meses. Depois disto, seu Luiz teve que retornar para os grot�es sertanejos, onde estava o pov�o que nunca o esqueceu, no meio do qual nunca deixou de fazer sucesso. Era comum, por volta de 1974, 75, Luiz Gonzaga viajar sem conjunto. Apenas com a sanfona. Ivan Bulh�es, que apresenta um programa de forr�, na Radio Jornal, de Caruaru (antiga R�dio Difusora) h� 45 anos (o mais antigo do g�nero), teve sua �poca de produtor, inclusive agenciando shows de Gonzag�o. Uma noite, ele foi esperar o Rei do Bai�o na rodovi�ria da cidade, nesta �poca ainda no Centro. Seu Luiz desceu do �nibus sozinho, com o instrumento a tiracolo. Querendo agrad�-lo Bulh�es falou: �Sozinho, seu Luiz?� A resposta: �Antes s� que mal acompanhado!�
EU SOU O FORRÓ
Ainda Ivan bulh�es. Ele conta que em meados dos anos 70 contratou um show para Luiz Gonzaga, numa cidade no interior da Para�ba. Um show em pra�a p�blica. Depois da apresenta��o, ele foi convidado pelo prefeito para o clube da cidade, onde acontecia uma festa. L� pras tantas, pediram que Luiz Gonzaga desse uma canja, coisa que ele raramente aceitava fazer. Mas daquela vez pegou sua sanfona e cantou de gra�a. Os casais todos dan�ando o melhor forr� do mundo, e nem a� para Gonzag�o. Ele notou que ningu�m dava a m�nima para ele, ningu�m o olhava. Em dado momento, perdeu a paci�ncia. Desceu do palco: �� bando de fi duma �gua, t�o ligando pra mim n�o �? Pois saiba que quem inventou isso fui eu, o bai�o, o xote, o xamego...� E se foi, porta afora.
Jos� Telesteles@jc.com.br

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