A MOLECAFGEM PARIDA POR UM
OCTOGENÁRIO ATESTA QUE O
PERIGO MORA NO CONGRESSO...
O país que aplaude o Supremo pela condenação dos mensaleiros é o mesmo que elege um Congresso com cara de clube dos cafajestes, que trata a pontapés a honestidade. O país que promoveu Joaquim Barbosa a herói popular é o mesmo que, a cada quatro anos, ratifica a supremacia dos casos de polícia no Poder Legislativo. O país que admira a face clara contempla a escura com bovina mansidão. Decididamente, o Brasil não é para amadores. E surpreende até quem acha que já viu tudo, informa o espetáculo do absurdo encenado na Praça dos Três Poderes. A sucessão de espantos chegou ao clímax nesta quarta-feira, com a molecagem arquitetada por um octogenário: foi José Sarney o pai da ideia de votar numa única sessão mais de 3 mil vetos presidenciais acumulados desde o começo do século. Para derrubar o veto de Dilma Rousseff que modificou a nova distribuição dos royalties do petróleo, o Congresso mais PREGUIÇOSO DO MUNDO resolveu fazer em algumas horas o que não fez durante 12 anos. Os gerentes da Casa do Espanto e da Mansão dos Horrores primeiro tentaram furar a fila. Barrados pela liminar do ministro Luiz Fux que proibiu a esperteza inconstitucional, Sarney sucumbiu a um ligeiro surto de coragem. “A decisão usurpa prerrogativa do Poder Legislativo e o deixa de joelhos frente a outro Poder”, protestou no recurso encaminhado ao STF. Como se o Congresso não estivesse de joelhos diante do Executivo desde que foi amestrado por Lula. Como se não vivesse de quatro para os próprios interesses corporativistas. Por saber disso, Sarney voltou no mesmo dia ao estado normal. Em vez de desafiar o Supremo, preferiu torturar a lógica, estuprar a sensatez e enterrar 3 mil vetos na mesma cova rasa. O cansaço chegou antes do começo do trabalho. Exauridos pela fabricação de tantas pilantragens em tempo tão curto, o chefão do Senado e Marco Maia, presidente da Câmara, resolveram armazenar energias para as festas do fim do ano. Fechado o picadeiro, a noite no circo ficou para 2013. “Temos o vício insanável da amizade”, ensinou em fevereiro de 2009 o deputado Edmar Moreira, dono de um castelo de R$ 20 milhões que escondeu na roça para escapar do imposto de renda. Esse vício explica, por exemplo, a resistência do presidente da Câmara, Marco Maia, à cassação dos mandatos dos deputados condenados no julgamento do mensalão. Também ajuda a entender por que tramitam no Legislativo tantos projetos concebidos para suprimir poderes e amputar atribuições do Supremo ou do Ministério Público. Um deles proíbe promotores de Justiça e procuradores de contribuírem para o esclarecimento de crimes e a identificação dos culpados. Há outros vícios, favorecidos pela erradicação da vergonha consumada por todos os partidos. Na terça-feira, por exemplo, o sepultamento da CPI do Cachoeira foi o desfecho de uma missa negra celebrada em conjunto por sacerdotes companheiros, aliados e oposicionistas. O PT conseguiu livrar do relatório final o governador Agnelo Queiroz. O PMDB, interessado em proteger a Construtora Delta e o governador Sérgio Cabral, juntou-se ao PSDB, decidido a resgatar o governador Marconi Perillo, para rejeitar o papelório produzido pelo relator Odair Cunha. Os três partidos logo estarão de mãos dadas para instalar RENAN CALHEIROS na presidência do Senado. A desfaçatez do Legislativo, que age de mãos dadas com o Executivo, ameaça o equilíbrio entre os Poderes que o Judiciário tenta preservar. Os inimigos do Estado Democrático de Direito estão cada vez mais atrevidos. Para eles, o perigo mora no Supremo. Para quem vê as coisas como as coisas são, o perigo está acampado em instituições controladas por figuras e partidos que se julgam acima e à margem da lei. Graças ao julgamento do mensalão, o ano terminou com a derrota dos carrascos da verdade, castigados nesta quarta-feira por outra má notícia: o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao STF a imediata prisão dos condenados. “EM 2013, O BICHO VAI PEGAR”, miou Gilberto Carvalho em nome dos vilões que querem mudar o fim do filme. É bom que venham preparados. O Brasil decente vai reaprendendo a vencer.
DEPOIS DAS 6 MIL CRECHES QUE SÃO
SÓ SETE, DILMA VAI DEIXAR DE
CONSTRUIR 800 AEROPORTOS.
Empolgado com a inauguração da Arena Castelão, o neurônio solitário que se empolga até quando inaugura pedras fundamentais enxergou no primeiro estádio pronto para abrigar jogos da Copa do Mundo outra evidência de que governa uma potência de impressionar presidente americano. Faltam 11, mas o pontapé inicial bastou para que Dilma Rousseff desandasse na discurseira: “O Castelão honra o Brasil e mostra pro Brasil inteiro que nós somos capazes, sim, não só di ganhá o jogo no campo mas di ganhá o jogo fora do campo”, caprichou no domingo em Fortaleza. “Nesse momento, olhando este estádio, nós sabemos que nós damos conta das mais diferentes, das mais importantes ações e obras”, gabou-se a supergerente de araque. Nem todas, nem tantas, alertara na véspera mais um apagão. Sobre a “interrupção do fornecimento de energia”, a oradora não disse uma única vírgula. Apagão é coisa de FHC desde 2003, quando Lula avisou que descobrira uma doutora em energia capaz de tornar o Brasil mais feérico que Las Vegas. Passados dez anos, o que mudou foi o nome da coisa. Apagão virou apaguinho. O comício em Fortaleza confirmou que o espetáculo da tapeação não pode parar. O Brasil que Lula inventou e Dilma aperfeiçoa é tão deslumbrante que, se melhorar, estraga. Nada a ver com o país infestado de governantes ineptos, ministros corruptos, parlamentares vigaristas e quadrilheiros de estimação. Esse Brasil de verdade castiga o bolso e a paciência dos habitantes com licitações fraudadas, roubalheiras espantosas, colossos que nunca ficam prontos, canteiros de obras desertos, maluquices em ruínas emonumentos ao desperdício. O governo não cuida do que existe nem executa o que planeja, mas é muito inventivo. Os programas ou projetos federais, por exemplo, já não são enterrados quando morreram. Por falta do atestado de óbito, continuam oficialmente vivos. O Fome Zero, o Primeiro Emprego, o PAC da Copa, o PAC da Olimpíada ou o Segundo Tempo, por exemplo, morreram de inépcia, de ladroagem, de inoperância, de politicagem ─ ou da soma dessas pragas tropicais. Permanecem no porão dos fracassos insepultos,para que os brasileiros que pagam todas as contas não enxerguem os naufrágios que financiaram nem os embustes eleitoreiros em que embarcaram. É o caso do terceiro aeroporto de São Paulo, que começou a tomar forma em 20 de julho de 2007, na entrevista coletiva concedida por Dilma Rousseff em Congonhas. “Determinamos a construção de um novo aeroporto e a expansão dos já existentes. Os estudos ficarão prontos em 90 dias”, acelerou a Mãe do PAC já na largada do falatório. Onde seria construído?, excitaram-se os jornalistas. “Não sabemos onde será e, se soubéssemos, não diríamos”, ensinou Dilma. “Jamais iríamos dizer isso para não sermos fontes de especulação imobiliária”. Cinco anos e meio depois, Cumbica e Congonhas estão na antessala do colapso e o TERCEIRO AEROPORTO NÃO EXISTE. Nesse período, sempre em parceria com o chefe, padrinho e agora preceptor, Dilma fez de conta que reformou Viracopos, construiu o trem-bala, ressuscitou a malha ferroviária e espalhou aeroportos pela rota da Copa de 2014. E ainda achou pouco. Na visita à França, resolveu assombrar uma plateia de empresários com a novidade de dimensões chinesas: a presidente que não construiu nenhum aeroporto vai fazer 800 de uma vez só. “Oitocentos aeroportos parecem muitos, não?”, perguntou a jornalistas brasileiros um perplexo Tony Tyler, executivo chefe da Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês). Deveria ter buscado informações com gente menos desinformada ─ e menos compassiva com um governo que esconde a indecorosa nudez administrativa com fantasias que fundem muita propaganda, muita discurseira e muito cinismo. Por ignorância ou má fé, a imprensa limitou-se a reproduzir o absurdo. Existem no Brasil 721 aeroportos ou aeródromos com pistas pavimentadas, quase todos em estado lastimável. Dilma decidiu dobrar esse número porque os eleitores de todas as cidades com mais de mil habitantes merecem andar de avião. Os jornalistas só desconfiaram da conversa de hospício dois dias mais tarde. E então se soube que Dilma, antes da viagem, examinara numa reunião com assessores da área um plano que prevê a construção de menos de 50 aeroportos. Viraram 800 porque Dilma Rousseff mente compulsivamente, e com a naturalidade de espiã de cinema. A candidata à presidência da República passou a campanha de 2010, por exemplo, prometendo inaugurar 6 mil creches nos quatro anos seguintes. Passados dois anos, construiu apenas sete creches. Aplicada aos 800 aeroportos, essa conta permite calcular quantos estarão em funcionamento no fim de 2014. Nenhum.
O MAIS IMPORTANTE JULGAMENTO DA
HISTÓRIA CHEGOU AO FIM COM O
TRIUNFO DOS BRASILEIROS DECENTES
Talvez por terem sofrido derrotas demais, os brasileiros decentes parecem incapazes de enxergar uma vitória. E que vitória: nesta segunda-feira, o desfecho do mais importante julgamento da história do Supremo Tribunal Federal oficializou o triunfo do país que presta sobre a corrupção em geral e, em particular, a quadrilha que tentou tomar de assalto as instituições democráticas e ferir de morte o Estado de Direito. Os vilões estão atarantados com o fracasso retumbante. Os vencedores não estão comemorando como deveriam o final feliz do filme que começou há sete anos. Se entendessem claramente o que acabou de acontecer, incontáveis homens de bem estariam nas ruas, decidindo com a torcida do Corinthians o campeonato das multidões. A temporada na cadeia imposta a figurões do governo Lula vale mais que o gol de Paolo Guerrero. As multas impostas a banqueiros larápios são mais relevantes que as defesas de Cássio. Em contraste com a justa euforia dos corintianos, a inibição dos democratas atesta que o ceticismo epidêmico deixou sequelas. A maioria parece ainda duvidar da vitória sobre os FORA-DA-LEI. O mensalão não será julgado, acreditaram até julho deste ano milhões de brasileiros minados pela desesperança. Ninguém será condenado, imaginaram quando foi afinal marcada a data para o início do julgamento. Os ministros punirão os alevinos para poupar peixes graúdos, insistiram depois de confrontados com a discurseira dos advogados de defesa. Só depois das primeiras condenações a imensidão de descrentes admitiu que ainda existem juízes no Brasil. Existem e, ao menos por enquanto, são majoritários no STF. O acórdão que resume o julgamento estará pronto até março. Assim que for publicado, Altos Companheiros contemplados pelo chefe com a licença para roubar vão saber como é a vida na cadeia. E terão como vizinhos de cela banqueiros, empresários e outros meliantes da primeira classe. Parece mentira. Mas a verdade é que, a partir desta segunda-feira, nada será como antes. Deixaram de existir os condenados à perpétua impunidade. A contratação de advogados que cobram em dólares por hora já não garante a absolvição de delinquentes juramentados. Expirou o prazo de validade dos salvo-condutos expedidos por Lula e Dilma Rousseff para proteger pecadores. Todos agora sabem que pesquisas de popularidade não conferem a nenhum governante o poder de revogar o Código Penal. A lei finalmente vale para todos. Os quadrilheiros teriam chegado lá se não tropeçassem na resistência de jornalistas que não estão à venda, na altivez do Ministério Público, na independência do Supremo e, sobretudo, na indignação dos pagadores de impostos que sustentam a farra criminosa. A reação das vítimas implodiu a falácia segundo a qual os habitantes da terra de Macunaíma não dão maior importância a roubalheiras ─ e engolem sem engasgos quaisquer afrontas produzidas por corruptos. Os fatos fulminaram a fantasia. Joaquim Barbosa virou herói nacional. Ricardo Lewandowski é hostilizado em restaurantes. Ayres Britto é aplaudido nas ruas. Dias Toffoli prefere entrar no cinema com a sala já escura. A manchete do site de VEJA é um perfeito resumo da ópera: “Termina o julgamento do século. A corrupção perdeu”. Nenhum país muda drasticamente da noite para o dia. Mas o Brasil dormirá nesta noite diferente do que era quando acordou. A cara ficou melhor.
SE INSISTIR NO JOGO PERIGOSO,
O COMPANHEIRO MARCO MAIA
PODE ACABAR EXPULSO DE
CAMPO.
Na sessão que encerrou o julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal aprovou por unanimidade a suspensão dos direitos políticos de todos os condenados, incluídos os deputados federais João Paulo Cunha, Pedro Henry e Valdemar Costa Neto. Em consequência disso, decidiu o ministro Celso de Mello, os parlamentares criminosos devem deixar o Congresso. “A perda do mandato resultará da suspensão dos direitos políticos, causada diretamente pela condenação criminal do congressista transitada em julgado, cabendo à casa legislativa à qual pertence o condenado meramente declarar esse fato extintivo do mandato legislativo”, ensinou o decano do STF. Seguiu-se a advertência endereçada a Marco Maia, militante do PT que preside a Câmara. “Reações ou susceptibilidades partidárias não podem justificar afirmações politicamente irresponsáveis e juridicamente inaceitáveis, segundo as quais não cumprirão uma decisão do STF”, avisou Celso de Mello. “É inadmissível o comportamento de quem, não demonstrando o devido senso de responsabilidade, proclama que não vai cumprir a decisão do Supremo”. O fim do mais importante julgamento da história do STF não encerrou o jogo perigoso. O desfecho depende de Marco Maia. Se tiver juízo, seguirá as regras determinadas pela Constituição. Se ficar com a bola e tentar driblar o juiz, arrisca-se a consumar um desastroso gol contra e acabar expulso de campo.
@@@ TEXTOS GENTILMENTE ROUBADOS LÁ NO BLOG DO AUGUSTO NUNES
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