Augusto Nunes
Em abril de 2006, numa discurseira em Curitiba, Hugo Chávez pediu à plateia que reelegesse o presidente Lula, qualificado pelo companheiro venezuelano de “herói do Brasil”. A retribuição veio em novembro do mesmo ano: num comício em Ciudad Guayana, na Venezuela, Lula recomendou aos espectadores que mantivessem Chávez no poder. Entusiasmado com o som da própria voz, o futuro presidiário incluiu no berreiro uma saudação a Daniel Ortega, que acabara de vencer a disputa pela Presidência da Nicarágua.
Em outubro de 2009, Chávez comparou Lula a Jesus Cristo e virou cabo eleitoral de Dilma Rousseff. Em abril de 2013, o candidato Nicolás Maduro animou a turma no palanque em Maracaibo com a apresentação do vídeo em que Lula afirma que a vitória do sucessor do Bolívar de hospício consumaria o parto da Venezuela sonhada pelo inesquecível amigo Chávez. Comovido, Maduro agradeceu a Lula “por todo o apoio que deu a Chávez, por todo o apoio que deu à revolução bolivariana”.
Em fevereiro de 2017, Lula e Dilma apoiaram publicamente a candidatura de Maduro. Nos anos seguintes, o coração de Dilma Rousseff sempre bateu em descompasso nos encontros com o homem que conversa com um passarinho em que Chávez costuma reencarnar. Os governos petistas, ao longo de 13 anos, torraram dinheiro dos brasileiros com os donativos que financiaram a construção do metrô de Caracas e outras bandalheiras da Odebrecht. Maduro anunciou há poucos meses que vai agradecer a ajuda com um calote bilionário.
Agora, confrontados com a irreversível agonia da ditadura bolivariana, Lula e o que restou do PT em liberdade exigem que o governo Bolsonaro respeite a soberania da Venezuela. Entre Maduro e Guaidó, o partido que virou quadrilha quer que o Brasil escolha a neutralidade. Haja cinismo.
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