EM CAUSA PRÓPRIA
Ricardo Noblat
Que tal? Fica
combinado assim: Lula foi o vencedor da eleição para prefeito da cidade de São
Paulo. Lula, e não Fernando Haddad que nunca disputara eleição. O
PT? NÃO, GENTE - LULA. Porque o PT reagiu à arriscada proposta de Lula de ir à luta
com um candidato jovem e desconhecido dos paulistanos. Lula foi obrigado a
arquivar os bons modos: espancou a mesa e forçou o PT a se render à sua
vontade. OS PAULISTANOS? NÃO. LULA. Por que o que
teria sido deles se Lula, o esperto, não lhes tivesse proporcionado a
oportunidade de votar em Haddad? Fica combinado também que Lula nada tem a ver
com as derrotas colhidas pelos candidatos que apoiou em outras cidades. Nem
mesmo por aqueles que Lula se empenhou de fato em eleger - gravou mensagens
para os programas de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, pontificou
em comícios e passeatas, e repetiu a dose ao perceber que a primeira não fora
suficiente. VOCÊS IMAGINAM O
QUÊ DE LULA? QUE ELE É MILAGREIRO PARA SAIR POR AÍ ACENDENDO TODO TIPO DE
POSTE?
Lula acreditou que Vanessa Grazziotin, candidata do PC do B a prefeita de
Manaus, não era um poste. E não era. Foi vereadora, deputada estadual e
federal. E há dois anos se elegeu senadora derrotando Arthur Virgílio, na época
o todo-poderoso líder do PSDB no Senado. O governador do Estado apoiava
Vanessa. Eduardo Braga (PMDB), líder do governo Dilma no Senado, também. Fora
os principais grupos econômicos e de comunicação locais. LULA
DEVE TER PENSADO: POR QUE NÃO PEGAR CARONA NUMA VITÓRIA QUASE CERTA PARA ASSIM
PODER HUMILHAR ARTHUR? Foi direto e
franco. No bairro mais popular de Manaus, disse que estava ali menos por
Vanessa e mais por Arthur. Acusou Arthur de um dia tê-lo ameaçado com uma
surra. E pediu para que ninguém votasse nele. Pediu, não, cobrou, exigiu,
ordenou. Os manauaras não gostaram. Não gostam de quem quer mandar neles. A
cidade havia dado a Arthur a maioria dos seus votos para reconduzi-lo ao
Senado. Vanessa acabara eleita com os votos do interior. Manaus emitia todos os
sinais de que votaria de novo em Arthur. Por gostar dele. E como forma de
reparação. Lula despachou Dilma para lá há uma semana. Deu chabu. Vanessa subiu
somente um pontinho nas pesquisas de intenção de voto. Arthur ganhou, ontem, com
folga. A pedido de Lula que fora a Salvador duas vezes, Dilma desembarcou por
lá para barrar a eleição de ACM Neto (DEM). E atacou-o sem dó nem piedade. Ao
lado de Nelson Pelegrino, o candidato do PT em apuros, DILMA
BATEU DA CINTURA PARA BAIXO:- AQUI NÃO PODE TER UM GOVERNINHO. E INSISTIU:-
AQUI NÃO PODE TER UM GOVERNO PEQUENININHO. ACM NETO MEDE MENOS DE 1M65CM. Pesquisas para
consumo interno da campanha do candidato do PT mostraram que os moradores de
Salvador se irritaram com o que ouviram de Dilma. Mexer com uma característica
física do adversário? O que é isso, meu irmão? E se ACM Neto tivesse
respondido: Precisamos em Brasília de um governo mais enxuto, mais leve, mais
ágil...? A
MAIOR LAMBANÇA PROMOVIDA PELO PT NESTA ELEIÇÃO FOI NO RECIFE, CIDADE QUE
GOVERNA HÁ QUASE 12 ANOS. COMO O PREFEITO ERA MAL AVALIADO, LULA INDICOU O
SENADOR HUMBERTO COSTA PARA CONCORRER À VAGA DELE. ESQUECEU-SE DE COMBINAR COM
EDUARDO CAMPOS, GOVERNADOR DE PERNAMBUCO E PRESIDENTE DO PSB. Na véspera de
anunciar que a candidatura de Humberto teria seu patrocínio, Lula recebeu um
telefonema de Eduardo:- Presidente, estou ligando da sala onde meu avô, em
1964, recebeu dois militares, um deles armado com uma metralhadora, quando
vieram depô-lo. O avô de Eduardo, Miguel Arraes, era governador de Pernambuco.
Acabou preso e exilado. Eduardo continuou o que queria dizer a Lula.- Naquela
noite, havia nove crianças dormindo aqui no Palácio. Meu avô disse aos
militares: "Vocês me prenderão e me levarão daqui. Mas eu não renunciarei
ao mandato de governador de Pernambuco". Lula entendeu o recado e ainda
argumentou com Eduardo que o candidato poderia não ser Humberto. Mas Eduardo
sabia que o PT reservara espaço no programa do radialista Geraldo Freire para
Lula anunciar no dia seguinte a candidatura de Humberto. O PSB de Eduardo
lançou candidato a prefeito e o elegeu no primeiro turno. Lula fez cara de
paisagem. Eduardo fez cara de aspirante a candidato a presidente da República.
O desastre do PT no Recife, Salvador, Fortaleza, Diadema e Campinas, e a
vitória do PSDB em Manaus não significam que Lula e Dilma estejam em baixa nas
cidades onde apostaram o grosso de suas fichas. Longe disso. Significa apenas o
que o marqueteiro mais iniciante já sabe de cor: ELEIÇÃO
MUNICIPAL É UM FENÔMENO LOCAL, LOCAL, LOCAL. AS PESSOAS VOTAM EM QUEM POSSA
GOVERNAR BEM O LUGAR ONDE ELAS VIVEM. No caso de São Paulo, cansadas de Serra, elas o trocaram por
Russomano. Serra bateu o recorde da rejeição - 52%. Nem Maluf jamais foi tão
rejeitado. Mais tarde, decepcionadas com Russomano, aderiram a Haddad. Uma
fatia enorme se absteve ou votou nulo e em branco. Não foi por Lula que
elegeram Haddad. Basicamente, foi por elas mesmas.
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