LEIAM
ESTE EXCELENTE TEXTO DO JORNALISTA MAGNO
MARTINS
O ano de 2014 foi tenebroso para
Pernambuco. A perda do ex-governador Eduardo Campos (PSB) representou um
tremendo choque. Deus levou precocemente um dos maiores líderes políticos dos
últimos anos, deixando um vácuo que certamente será muito difícil preencher. Um
Estado quando perde uma liderança de peso, densidade e respeito no seu
comando, com o invejável trânsito nacional que Eduardo tinha, fica esvaziado e
sem referências.
A saída repentina de Eduardo do nosso
convívio abre, por outro lado, um extremo risco de o Estado sofrer um
retrocesso nos avanços que vinha alcançando. Eduardo se forjou ao longo de mais
de 30 anos em lutas, relacionamentos profundos e intensos com grandes mestres
brasileiros da arte da política dos últimos 60 anos.
Lideranças mitológicas, cada qual com
seu legado próprio, como Miguel Arraes, Tancredo Neves, Leonel Brizola, Ulisses
Guimarães, Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos,
Pelópidas da Silveira e Luiz Inácio Lula da Silva, dentre muitos outros.
Eduardo trazia na sua alma uma
inquietação única, carregava o espírito de verdadeiro líder destemido e sagaz,
disposto tanto para o confronto quanto para o entendimento, seguindo os
preceitos táticos e estratégicos de Maquiavel e de Sun Tzu.
Mais do que isso, Eduardo carregava
no corpo uma energia incomum de trabalhar obsessivamente, de estar todo dia e a
toda hora dedicado a enfrentar desafios crescentes, tanto nos pequenos detalhes
da província quanto nos amplos espaços nacionais.
Apesar de ter desentendimentos ao longo
de tantos anos de convivência com Eduardo, num deles tendo ficado mais de dois
anos sem dar um bom dia a ele, não posso deixar de reconhecer suas grandes
virtudes.
Todos os seus amigos com os quais
conversei para prestar esta homenagem ao final do ano em que ele partiu para a
eternidade dizem que Eduardo era amigo dos amigos, sedutor, fiel, leal,
solidário, dedicado, generoso, disponível, presente, explícito, sincero,
afetuoso, carinhoso, apaixonado, mesmo que muitas vezes abrasivo, agressivo,
duro, autoritário, explosivo, sempre intenso e pronto para a reciprocidade.
Eduardo também era valente com o
inimigos e adversários, porém respeitoso, digno e aberto à conciliação, como
fez com Jarbas Vasconcelos, Joaquim Francisco, Roberto Magalhães e tantos outros
que no passado estiveram em lados opostos.
Eduardo era pragmático, fazia o jogo
do mais leve ao mais pesado, dentro das regras dominantes, lidando assim com
empresas e empresários, que tanto usufruíram do seu governo em Pernambuco e do
seu prestígio nacional.
Eduardo era um político de visão,
soube aproveitar as bases recebidas do Governo Jarbas Vasconcelos e lançou o
Estado rumo a uma onda poderosa de industrialização enquanto o resto do Brasil
estava se desindustrializando de forma acelerada.
Eduardo era um líder que conseguia
unificar as mais diferentes correntes, como foi o caso de juntar 21 partidos
para apoiar Paulo Câmara, algo inédito na história do Brasil. Não foi por acaso
que Eduardo recebeu a confiança extrema com 83% dos votos dos pernambucanos em
2010, algo também inédito na história do Brasil, porque ele representava uma
força humana raríssima em qualquer lugar do planeta.
Por isso que, como pernambucano,
termino 2014 com esta profunda tristeza: perder Eduardo foi mais do que uma
tragédia, representa uma ameaça para a prosperidade futura do Estado. Em nome
da memória futura de Eduardo, tenho certeza que ele diria, com todas as letras:
'Paulo Câmara, honre o meu legado, não para simplesmente seguir quaisquer dos
meus passos passados como um autômato e ser controlado seja por que grupo for,
mas sim firmando sua autoridade conquistada com os 68% dos votos'.
Paulo Câmara não pode deixar que o
desaparecimento de Eduardo se transforme em outro prolongado desastre trágico,
caso fique dominado e refém dos grupos remanescentes dos destroços do
eduardismo.
Para tanto, Câmara deve demonstrar
autoridade e coragem, garantindo não apenas a eficiência da máquina estatal bem
como um alto nível de honestidade no trato da coisa pública, além de trazer
novos projetos e investimentos estruturadores que honrarão a memória de
Eduardo.
Um feliz 2015!
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