quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O QUEBRA-MESA, CARLOS ANDRÉ, JÁ É QUASE UM NOVENTÃO

 


Por Altamir Pinheiro

O hino do homem que sofre à mesa de um bar é  uma das âncoras que manteve  o cantor no mercado por quase meio século:  Eu hoje quebro esta mesa / se meu amor não chegar / Também não pago a despesa / Não saio desse lugar. / Tem tanta mulher me olhando / Querendo me conquistar / Acabo me desesperando / Se meu amor não chegar. / Pra que dois copos na mesa? / Com uma cadeira vazia / E eu aqui na incerteza / Vendo amanhecer o dia /Não posso mais eu confesso / Confesso  que vou chorar / Eu hoje quebro esta mesa / Se meu amor não chegar.  O artista nascido em Mossoró, no Rio Grande do Norte,  ainda hoje informa que, “Se o “QUEBRA-MESA” fosse sucesso hoje, eu estaria rico”, comenta ele, que, religiosamente, durante seus shows, geralmente, desce até a plateia para cantar seu maior hit ao lado dos fãs.


A jornalista e socióloga pernambucana Fabiana Moraes afirma  que na pirâmide sociocultural do cantor e compositor Oséias Carlos André Meida Lopes, era conhecido como  “artista de cabaré”, “cantor de brega”, fazia “música de empregada”, como também  de caminhoneiros, pedreiros, manicures, serventes, estivadores e putas. Nesse sentido, era quase um impropério, entre intelectuais e demais esclarecidos do Brasil de 1975, ouvir e cantar versos como “não posso mais, eu confesso/ confesso que vou chorar/ eu hoje quebro essa mesa/ se meu amor não chegar”. Escondida na última faixa do lado B do compacto duplo O APAIXONADO, a música “Se Meu Amor Não Chegar” (de Lindolfo Barbosa e Wilson Nascimento) provocou um sismo nas rádios do País quando foi lançada.


Apesar de tudo, a música de Carlos André fazia parte do cimento do preconceito em relação a tal produção. Esse olhar negativo era duplo na época da ditadura militar: enquanto direitistas julgavam as músicas como cafonas, esquerdistas viam ali o subjugo do intelecto a favor da alienação. “A esquerda era muito elitizada”, conta Carlos André. Mesmo assim, O enorme interesse pela música agradou imensamente à gravadora Beverly: um milhão de cópias foram vendidas, instigando a empresa a realizar mais cinco discos com o mesmo título O APAIXONADO (que distinguiam-se pelo número do volume: 2, 3, 4, 5, 6).


O  APAIXONADO veio em 1974/75 e logo todos cantavam as dores do homem que se perguntava “pra que dois copos na mesa/ e uma cadeira vazia?”. Ironicamente, a canção que tornaria Carlos André nacionalmente famoso quase não era gravada – foi considerada por alguns como “popular demais” para ser interpretada pelo cantor. Seu conteúdo atormentado, pouco contido, dramático, soava meio… brega. Diziam: Essa música é muito sem-vergonha para o senhor cantar. Mas se ser brega é agradar o povão, então eu sou. Carlos André Lançou mais 32 discos, boa parte deles gravados enquanto Carlos também trabalhava como diretor artístico da Copacabana, que o contratou em 1979. Produziu trabalhos de artistas como Luiz Gonzaga, Zé Ribeiro, Genival Santos, Bartô Galeno e tantos outros. 


Na seara das biografias sobre os cantores e autores que deram vida à música brega, há de um tudo, como nos confirma o poeta, escritor e historiador de Campina Grande(PB), Bruno Gaudêncio:  traições, desilusões e amores não correspondidos. O universo da chamada “música brega” é rico nesses temas, temas bastante universais que abrangem do erudito inglês Shakespeare aos desabafos embriagados do “ZÉ DO BOTEQUIM”, passando, claro, por textos deliciosamente trágicos de  Nelson Rodrigues e canções imortalizadas por Evaldo Braga, Waldick Soriano e Reginaldo Rossi, entre tantos outros. Tudo isso faz parte do cancioneiro que embalou histórias de relacionamento a dois, alegres ou tristes, nos anos 1970/1980 e que hoje, é visto com muito humor e deboche. Basta ouvir  Eu vou tirar você desse lugar, de Odair José, a Entre espumas, de Roberto Muller e o homem que sofre na mesa de um bar, SE MEU AMOR NÃO CHEGAR tão bem interpretada por Carlos André na década de 70. 

https://www.youtube.com/watch?v=hJ2_oaJS4rI

 

 


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