quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

EM PERNAMBUCO, A UCRANIANA CLARICE LISPECTOR TORNOU-SE BRASILEIRA

Por Altamir Pinheiro

De Recife para o mundo, a escritora, advogada e jornalista Clarice Lispector, se viva fosse, estaria completando 100 anos de idade hoje, dia 10 de dezembro de 2020.

Conforme nos conta o jornalista e historiador Santa Rosa, Lispector foi uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira. Após chegar no Brasil vinda da Ucrânia ainda bebê, a autora de A Hora da Estrela e Laços de Família viveu no Recife até os 14 anos de idade. Nascida em plena Guerra Civil, Clarice Lispector veio aos dois anos para o Brasil fugindo com a família do antissemitismo. Chegou primeiro em Maceió, onde passou um curto período de tempo, logo depois veio ao Recife. Se mudou da cidade apenas aos 14 anos para morar no Rio de Janeiro, onde estudou Direito na Universidade Federal e fixou residência. Clarice faleceu aos 56 anos por conta de um câncer de ovário.


A profundidade e amplidão de sua literatura, junto à sua figura misteriosa, propensa a mitificações, a tornaram uma tábula rasa, sobre a qual nenhuma interpretação parece ser suficientemente absurda. Quem a lê e se deixa envolver por sua prosa quer tomá-la para si, o que acontece até hoje com intelectuais, estudantes, celebridades. Pilhas de livros tentaram compreendê-la, ligá-la ao feminismo, ao judaísmo e até ao zen-budismo. As hipóteses para decodificar esse estado de coisas são variadas. “Ela não era banal. Ucraniana, falava iídiche (Língua falada pelos judeus, principalmente na Rússia, Polônia, Lituânia, Hungria, Romênia, E.U.A. e Brasil.) e teve uma vida de peripécias. Belíssima, tinha mesmo tudo para se transformar em ícone. As pessoas se identificam porque a sensibilidade dela está em um ponto entre a mulher e o homem. Ainda não há quem possa ocupar o seu lugar”, avalia a poetisa e professora de Letras da UFPE, Lucila Nogueira.


A meninice da escritora que se dizia pertencer à terra dos altos coqueiros Clarice Lispector no Recife marca parte de sua obra. O amor da escritora pela cidade era tanto que ela costumava se definir como pernambucana. No entanto, lê-se nos jornais ou vê-se in loco que a casa em que morou com a família, no bairro da Boa Vista, na região central da capital, se encontra atualmente fechada, com sinais de depredação. A Santa Casa de Misericórdia, dona do imóvel, alega falta de verbas e parceiros para a reforma. Quem passa pela rua vê que parte do telhado caiu, o mato está crescendo pelas paredes e as portas estão lacradas com tijolos. O imóvel em que Clarice morou na infância fica na esquina da Rua do Aragão com a Travessa do Veras, ao redor da imunda Praça Maciel Pinheiro que se tornou em alojamento e dormitório dos drogados, onde há uma estátua da escritora.


Entre tantas homenagens às quais fora agraciada em seus cinquenta e seis anos de vida e nos cem anos de nascida, a escritora Clarice Lispector recebeu o título de patrona da literatura de Pernambuco. O reconhecimento foi oficializado, por meio de uma lei de autoria do deputado estadual Professor Paulo Dutra (PSB) publicada no Diário Oficial. Já na Praça Maciel Pinheiro, Boa Vista, centro do Recife. Lugar onde Clarice Lispector (1920-1977) passou alguns dos anos mais importantes de sua infância e a fez afirmar, em entrevista próxima à sua morte: “O Recife está todo em mim”.

A Clarice de cimento está sentada, com a máquina de escrever no colo.



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