Orçada
inicialmente em R$ 16 BILHÕES, a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte era uma
espécie de menina dos olhos do PT. Era defendida enfaticamente pelos ex-presidentes Luiz
Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff como solução para o suprimento energético
do País. Com padrinhos de peso incontestável, AO FIM, BELO MONTE CUSTOU QUASE O DOBRO DO ESTIMADO PRELIMINARMENTE:
R$ 30 BILHÕES. Seu valor astronômico, porém, não serviria só para cobrir
as despesas de engenharia da obra: um percentual era revertido em PROPINA para PT e PMDB. É o que atestam em depoimentos à Polícia Federal, obtidos com
exclusividade por ISTOÉ, os executivos Domingos Malzoni, da Cetenco Engenharia,
Celso Jacomel Junior, da J. Malucelli e Marcelo de Sousa Ribeiro, da Serveng.
Seus relatos mostram como eles foram achacados e sofreram toda a sorte de
pressões de JOÃO VACCARI NETO, EX-TESOUREIRO DO PT, DE MÁRCIO LOBÃO,
FILHO DO SENADOR EDISON LOBÃO
(PMDB-MA), e também da Andrade Gutierrez,
intermediária dos pagamentos, para que repassassem PROPINAS aos dois partidos.
OS ARRECADADORES
Documentos obtidos por ISTOÉ mostram que partidos exigiam 1% do total das obras de Belo Monte. Segundo Marcelo de Sousa Ribeiro, da Serveng, em reunião realizada na sede da Andrade Gutierrez, no Rio, houve imposição para que as empresas pagassem propinas ao PT e PMDB e que os arrecadadores seriam João Vaccari, pelo PT, e Márcio Lobão, pelo PMDB
O REPARTE DO DINHEIRO
Os depoimentos dos executivos das empresas – detentoras de
participação minoritária nas obras – foram prestados em agosto, mas estavam sob
sigilo. Vêm à tona agora pela primeira vez pelas páginas de ISTOÉ. Celso
Jacomel Junior, Domingos Malzoni e Marcelo Ribeiro disseram à PF que foram
informados por Flávio Barra, diretor da Andrade Gutierrez, QUE DEVIAM REPASSAR 1% DO FATURAMENTO COMO PROPINA AO PT E AO
PMDB. De acordo com Marcelo Ribeiro, da Serveng, o aviso sobre o
pagamento se tratou de “IMPOSIÇÃO”, não tendo havido qualquer discussão a
respeito. “Flávio David Barra limitou-se a informar que, em decorrência DE NEGOCIAÇÃO
política, as empresas TERIAM QUE DIRECIONAR 0,5% PARA O PT
E 0,5% PARA O PMDB”. Ainda segundo Ribeiro, a reunião foi realizada na sede da
Andrade Gutierrez no Rio de Janeiro e que durante o encontro “não houve
manifestação contrária de nenhum representante de empresa”. Ribeiro acrescentou
que “JOÃO VACCARI e MÁRCIO LOBÃO foram indicados como representantes do PT e do PMDB”
O COLETOR DE PIXULECOS Vaccari era o homem da mala do PT |
TESOUREIRO PETISTA PEDIU
CONTRIBUIÇÃO
O empreiteiro Celso Jacomel Junior, da J. Malucelli, disse à Polícia Federal que participou de reunião com o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, em que o petista lhe pediu contribuições para campanhas eleitorais do PT. Antes desse apelo, Flávio Barra, da Andrade Gutierrez, já havia lhe dito que “HAVERIA NECESSIDADE” da J.Malucelli realizar doações para campanhas eleitorais do PMDB.
A Andrade Gutierrez atuou firme e incisivamente em prol
dos pagamentos de propina. Causou espécie aos depoentes a maneira como se deram
os encontros com Vaccari e Márcio Lobão. Segundo os representantes das
empreiteiras, eles foram chamados para reuniões na sede da Andrade sem sequer
saberem da pauta. Quando chegaram lá, depararam-se com os arrecadadores do PT e do PMDB. “SOMENTE
QUANDO ESTAVA NA SEDE DAQUELA EMPRESA, O DECLARANTE FOI INFORMADO DE QUE A
REUNIÃO DESTINAVA-SE À APRESENTAÇÃO DO DECLARANTE A JOÃO VACCARI, TESOUREIRO DO
PT”, contou Malzoni, da Cetenco. Depois disso, ele relatou ter recebido uma
ligação de cobrança. Era Vaccari. Jacomel Junior, da J. Malucelli, por sua vez,
disse ter recebido insistentes telefonemas de Flávio Barra. O assunto era o
mesmo: A COBRANÇA DA PROPINA. Ao negar o pagamento, ouviu como
resposta que sua atitude: “geraria um problema ao consórcio”. Segundo Marcelo
Ribeiro, Flávio Barra também fazia pressão durante as reuniões com os
executivos, lembrando o tempo todo que “algumas empresas não estavam
‘comparecendo”.
Os depoimentos revelam detalhes do MODUS OPERANDI de Márcio Lobão, que atualmente é presidente da Brasilcap,
empresa de títulos de capitalização do Banco do Brasil, mas pediu afastamento
do cargo por 30 dias. Nos relatos aos agentes da PF, os executivos contaram que
a sede da Brasilcap foi palco de muitos dos encontros destinados a discutir o
andamento das obras de Belo Monte. Mas havia outro local “MAIS
APROPRIADO” para tratar de propina, segundo Marcelo Ribeiro, da
Serveng: um escritório na rua México, no Rio de Janeiro. Foi lá que ele manteve
a primeira conversa a sós com Márcio Lobão, por escolha deste. Ribeiro diz ter
explicado que a Serveng não toparia pagar o combinado e que Márcio Lobão “APARENTEMENTE
ENTENDEU”. Depois, diz ter sido recebido outras vezes na sede da
Brasilcap para, segundo ele, discutir investimentos da Serveng em um projeto
social envolvendo cisternas no Nordeste, mas que acabou não ocorrendo.
Procurado, o advogado de Márcio Lobão, Aristides Junqueira, disse que não
comentaria o caso. O PT tem declarado que as doações eleitorais recebidas obedecem
à legislação vigente e a defesa de Vaccari também tem sustentado que ele
solicitava doações legais e nunca recebeu recursos de origem ilícita.
UMA USINA DE ILEGALIDADES - COMO ERAM FEITAS AS
COBRANÇAS DE DINHEIRO AOS EMPREITEIROS QUE PARTICIPARAM DA OBRA DE BELO MONTE:
1. Flávio Barra, executivo da Andrade
Gutierrez, que liderava o consórcio, informava às outras empresas que era
necessário PAGAR PROPINA ao PT e ao PMDB em cima do faturamento da obra
2. Após o aviso, Barra convidava os
executivos das outras empresas para reuniões nas quais lhes apresentava a João
Vaccari Neto, ARRECADADOR DO PT, e Márcio Lobão, ARRECADADOR DO PMDB
3. Os PAGAMENTOS
DE PROPINA seriam por meio de doações oficiais ao PT e ao PMDB. Algumas empresas
dizem ter se recusado a pagar.
4. O custo da usina, construída em
Altamira (PA), acabou ficando em torno de R$ 30 bilhões. Segundo os delatores,
parte desse valor foi DESVIADO EM PROPINA ao PT e ao PMDB.