O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), primeiro na linha
sucessória de Michel Temer (PMDB-SP), também é alvo de inquéritos no
Supremo Tribunal Federal. Recaem sobre ele citações de delatores da
Odebrecht sobre repasses, via caixa dois, nas eleições de 2008, 2010 e
2012. O valor total dado pela empreiteira, às margens da lei eleitoral,
é de R$ 1 milhão, segundo relataram os colaboradores à
Procuradoria-Geral da República. Nas planilhas do departamento de
propinas da Odebrecht, Maia era identificado por ‘Botafogo’, time pelo
qual torce. Somente com base nas delações da empreiteira, dois
inquéritos tramitam no Supremo.
Relatório da Polícia Federal também chegou a apontar, supostas propinas de R$ 1 milhão da OAS ao parlamentar, em 2013. Maia pode assumir a Presidência se Temer não resistir à pressão
política que sofre desde que a Procuradoria-Geral da República o
denunciou pelo crime de corrupção passiva no caso JBS.
Em um inquérito, o presidente da Câmara é citado como integrante de
um grupo de deputados que teria ajudado, em troca de doações não
contabilizadas, a Braskem com alterações no texto da Medida Provisória
613/2013, que tratava de benefícios fiscais a produtores de etanol por
meio da redução de PIS/Pasep e Cofins.
O delator Cláudio Melo filho, que era funcionário do Setor de
Operações Estruturadas, o ‘departamento de propinas’ da Odebrecht,
relatou que o lobby da empreiteira pela iniciativa envolveu a abertura
de um caixa de R$ 7 milhões para os senadores e deputados que se
comprometessem a colaborar com os anseios do grupo.
Segundo o inquérito, teriam sido beneficiados os senadores Romero
Jucá (PMDB-RR), com quem teria sido feito o primeiro contato da
empreiteira sobre o tema no Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL),
Eunício Oliveira (PMDB-CE), o então líder do DEM, Rodrigo Maia, e Lúcio
Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ex-ministro do governo Temer, Geddel
Vieira Lima, preso desde segunda-feira, 3, na Papuda.
Segundo Cláudio Melo Filho, o principal contato na Câmara era com Lúcio, mas, por relações pessoais de amizade, chegou a procurar Maia. “Conhecia o deputado e sabia que se eu pedisse a ele olharia com carinho”, afirmou. Melo Filho, da Odebrecht, afirmou que, apesar de não ter recebido a ajuda esperada do deputado, recebeu uma solicitação. “Ele perguntou: ‘Cláudio, tem como ajudar?’ Ele tinha sido candidato em 2012 e ficou um resto de campanha a pagar”.
A título da possível ajuda com a Medida Provisória que beneficiaria
em especial a Braskem (empresa do setor petroquímico pertencente à
Odebrecht), Maia teria recebido R$ 100 mil, em 2013, via caixa dois, sob
o codinome de seu time do coração, o Botafogo.
Em outro inquérito contra o presidente da Câmara, o mesmo delator
relatou ter indicado pagamentos de R$ 350 mil, em 2008, quando Maia se
candidatou, sem sucesso, à Prefeitura do Rio de Janeiro, e R$ 600 mil em
2010, em sua campanha a deputado federal.
No âmbito da Operação Lava Jato, a Polícia Federal chegou a
identificar mensagens de celular entre Maia e o empreiteiro Léo
Pinheiro, ex-presidente da OAS, que apontavam para supostas propinas
de R$ 1 milhão ao deputado.
Segundo o inquérito da PF, em troca dos valores, o parlamentar teria
defendido interesses da empreiteira no Congresso, entre 2013 e 2014,
como na apresentação de emenda a uma Medida Provisória que definia
regras para a aviação regional, em benefício da construtora. À época em
que as investigações foram reveladas, o presidente da Câmara afirmou que
elas eram ‘um absurdo’.(AE).