Embora
sejam separados por mais de 150 quilômetros, o sítio de Atibaia e o triplex do
Guarujá estão unidos por um destino. As duas propriedades atribuídas ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Ministério Público Federal (MPF) ESTÃO VAZIAS, SEM USO. No
caso do sítio, foi-se o glamour das visitas presidenciais e o cheiro de
churrasco. Já no Condomínio Solaris, o apartamento 164-A ESTÁ TRANCADO, sem perspectiva de ocupação – e o edifício inteiro parece ter
se “desvalorizado”.
Vizinhos
do sítio comentam que o local já não tem o brilho de quando era frequentado
pela família de Lula. “Não tem vindo mais ninguém aí, a não ser vocês da
imprensa. O último acontecimento foi quando a Polícia Federal entrou e revistou
tudo”, disse a vizinha Ana Lúcia Farias da Silva.
Naquele
dia – em 4 de março do ano passado –, os agentes pediram à sobrinha dela,
Marina, que fosse testemunha das buscas. “Foi a única vez que alguém da família
entrou lá. Depois, até os churrascos pararam. Antes, a gente via fumaça e
sentia o cheiro de carne assada”, disse. “Vinha sempre um carro com vidros
‘filmados’, diziam que era ele.” Hoje, o acesso ao sítio, por estrada
exclusiva, ESTÁ ÀS MOSCAS, disse outra
vizinha, a auxiliar administrativa Roberta Kubota.
Gerente
de uma padaria próxima, Gesuldo Gomes disse que a ex-primeira-dama Marisa
Letícia, já falecida, parava o carro na porta, mas não entrava. “Era sempre
outra pessoa, uma empregada, que comprava pão, cerveja e refrigerante. Ela
ficava no carro, COM O VIDRO
ABAIXADO, FUMANDO.”
Hoje,
quem passa em frente ao sítio já pode observar SINAIS
DE ABANDONO na entrada.
Algumas pranchas da ponte de madeira que dá acesso ao portão apodreceram. O
interfone ainda funciona, mas apenas na quarta tentativa o caseiro Élcio
Pereira Vieira atendeu à chamada. Ao ser informado de que se tratava de
reportagem, afirmou que não há ninguém na propriedade a não ser ele. “Não posso
permitir a entrada sem autorização do proprietário”, disse.
Questionado
se o proprietário é Lula, como diz o MPF, respondeu: “Que eu saiba o dono aqui
é Jacó Bittar (ex-prefeito
de Campinas e amigo de Lula).”
A
reportagem entrou em contato com o escritório Toron Advogados, que atua em nome
de Bittar, e foi informada de que o advogado Alberto Zacharias Toron é o único
que fala sobre o assunto, mas ele está em férias. O advogado Ary Bergher, que
defende Jonas Suassuna, disse que seu cliente não é dono do Sítio Santa
Bárbara, mas do Sítio Santa Denise, uma propriedade contígua, com outra
matrícula.
Em
um sítio vizinho – local de onde o jornal Estado fez as fotos –, foi possível
observar que OS JARDINS ESTÃO COM MATO ALTO. Os
dois pedalinhos em forma de cisne ainda estão em um dos lagos. Mas não se veem
animais, como os pavões ou as galinhas que eram presas de gambás, conforme
relatado pelo caseiro em e-mail enviado ao Instituto Lula que consta da
denúncia. O MPF acusa Lula de ser dono do imóvel, supostamente adquirido com
dinheiro desviado da Petrobrás. Em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, da
Lava Jato, O PETISTA NEGOU
SER DONO DA PROPRIEDADE
O triplex. O Condomínio Solaris, na Praia de Asturias, no Guarujá, ainda
resiste como ponto turístico involuntário. Não é raro ver alguém apontando o
celular para o prédio com o firme propósito de tirar uma selfie – tendo “O TRIPLEX DO LULA” como cenário. Os mais ousados chegam a tocar o interfone e
fazer perguntas ao porteiro: “É
DELE MESMO?”
Na
tarde desta sexta-feira, 30, uma família da Bahia estacionou sua picape bem na
frente do edifício. Do carro, desceram seis pessoas. “Somos fãs do Lula. Meu
pai é nascido na cidade de Caculé, no interior. Antes do Lula o lugar não tinha
nem iluminação”, contou o empresário William de Lima, de 47 anos. Mas nem todos
os curiosos param para demonstrar apoio. “ESTOU
FOTOGRAFANDO PORQUE TAMBÉM É MEU. FOI FEITO COM DINHEIRO QUE ROUBARAM DO POVO”, disse uma mulher que preferiu não se identificar.
Segundo
moradores e funcionários, O
TRIPLEX ESTÁ FECHADO, com acesso bloqueado
e sem nenhuma perspectiva de ocupação. Após a exposição do caso, o prédio
passou a ser considerado um “MICO” por corretores imobiliários da região – o valor de um
apartamento comum (não um triplex) caiu de R$ 700 mil para R$ 550 mil e não há
quase procura.
Em
um voo de drone feito pela reportagem do Estado,
foram notados dois trabalhadores na área próxima ao triplex. Como o edifício
está em reforma, dois homens foram vistos dentro do limite do apartamento e
logo depois pularam para a unidade ao lado. A assessoria de imprensa da OAS
afirmou que o apartamento está fechado, mas que, eventualmente, funcionários
podem entrar na área externa para trabalhos de reforma.
Questionada
sobre a reforma, a assessoria do Instituto Lula disse desconhecer a obra e afirmou
que o ex-presidente não é dono do apartamento. Nas alegações finais, a defesa
do petista informou que o imóvel, desde 2010, é de propriedade de um fundo
gerido pela Caixa Econômica Federal. A sentença pode sair a qualquer momento. – Fonte O Estadão -
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