Reinaldo Azevedo
Bem, não se trata de procurar coerência nas bobagens que Lula
disse ao longo da vida e diz ainda. Este senhor bordou o emblema de seu
pensamento já nos primeiros dias de 2003, no primeiro ano de seu primeiro
mandato, quando afirmou: “A GENTE, QUANDO ESTÁ NA OPOSIÇÃO,
FAZ MUITA BRAVATA”. E, claro, ele olhava para si mesmo e
concluía: “SER
BRAVATEIRO COMPENSA”.
Nesta quinta, na Argentina, Lula fez questão de desqualificar a
Standard & Poor’s por ter rebaixado o Brasil, relegando-o ao grau
especulativo. Segundo esse gênio da raça, o rebaixamento “NÃO SIGNIFICA NADA”. Disse ainda “ACHAR MUITO ENGRAÇADO” que a Standard & Poor’s tenha
tomado essa decisão e criticou as agências de classificação de risco em geral,
que, segundo ele, não usam os mesmos critérios para “países quebrados da
Europa”. No discurso, o ex-presidente aproveitou para criticar também a
estratégia de ajustes econômicos, que, a seu juízo, provocam recessão e
desemprego.
Isso é hoje. Vamos ver como ele reagiu em 2008, quando a mesma
S&P elevou o país à categoria de “grau de investimento”:
“EU
ACHO QUE O BRASIL VIVE… EU DIZIA AO EX-PRESIDENTE COLLOR: O BRASIL VIVE UM
MOMENTO MÁGICO. NÓS ACABAMOS DE RECEBER A NOTÍCIA DE QUE O BRASIL PASSOU A SER
‘INVESTMENT GRADE’. EU NÃO SEI NEM FALAR DIREITO A PALAVRA, MAS, SE A GENTE FOR
TRADUZIR ISSO PARA UMA LINGUAGEM QUE OS BRASILEIROS ENTENDA (SIC), OU SEJA: O BRASIL FOI DECLARADO UM
PAÍS SÉRIO”.
Viram só? Como dizem por aí, Quando Lula tira nota alta, ele se
considera o melhor, o mais capaz, o mais competente. Se a nota é ruim, então a
professora é que não sabe avaliar.
Em 2008, estavam dados alguns elementos estruturais que
conduziriam o país à pindaíba. A política econômica já empurrava a indústria
brasileira, por exemplo, para o vinagre. Que chance havia de isso ser debatido
com seriedade? Quem se atrevia a tanto era chamado de “PESSIMISTA” para baixo.
Alguns tontos ditos liberais (o país está cheio de liberais só de carteirinha),
que se grudaram às partes pudendas do petismo, diziam que as críticas partiam
dos “DESENVOLVIMENTISTAS”. Não! Partiam da matemática. E, ora vejam, até a
S&P caiu no truque.
Agora a fala de 2008: Voltem lá à fala de 2008. Por que mesmo o
Brasil havia sido declarado “SÉRIO”, nas palavras de Lula? A S&P explicou então: devia-se ao
tripé “metas de inflação, rigor fiscal e câmbio flutuante”. Como já demonstrei
aqui, para manter o modelo de pés de barro de Lula, foi preciso mandar inflação
e rigor fiscal para a cucuia, o que iria agravar a situação da dívida.
Não havia modelo mágico nenhum. Havia apenas circunstâncias que
robusteceram o erro — por exemplo, SUPERVALORIZAÇÃO DAS COMMODITIES — e que deram corda ao potencial enforcado. E ele se enforcou.
Mágica, como se sabe, é truque. A mágica só existe porque há um
lapso, uma interrupção, uma ausência na relação de causa e efeito; porque não
conseguimos descobrir como se passou da Situação A para a Situação B. Como não
há intervenção miraculosa, já que Deus não se ocupa dessas vulgaridades, aquilo
a que Lula chamava “MOMENTO MÁGICO” ERA SÓ UM EFEITO TÓXICO. PASSOU.
EIS A REBORDOSA.
Quanto às bravatas, dizer o quê? Quanto mais a situação se torna
dramática, mais Lula revela o Homo naledi que dormitava por baixo da casaca. Em
recente discurso no Paraguai, ele afirmou que, entre combater A FOME E FAZER UMA PONTE, ELE PREFERIU COMBATER A FOME.
Se a humanidade, ao longo de sua
trajetória, tivesse considerado essas duas coisas elementos excludentes ou
alternativos, teria desaparecido, enterrada numa caverna.