Nos últimos dias, O
PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA tem atuado no
inquérito aberto com a delação da JBS, que envolve o presidente da República,
com uma pressa que contrasta com o vagar observado nos outros casos da
competência do sr. RODRIGO
JANOT. Até a própria delação do sr. Joesley
Batista, que o sr. Janot assegura versar sobre muitos e graves crimes ainda não
revelados, esperou boas semanas na gaveta do procurador-geral até que lhe fosse
dado encaminhamento. E O CASO SÓ VEIO A
PÚBLICO GRAÇAS A ILEGAL E AINDA NÃO ESCLARECIDO VAZAMENTO.
A fulgurante
diligência do PROCURADOR-GERAL
DA REPÚBLICA, que deseja colher o
depoimento do presidente Michel Temer o quanto antes, contrasta, por exemplo,
com sua atuação a respeito do controvertido áudio que registrou a conversa
entre Temer e Joesley Batista no Palácio do Jaburu. Mesmo tão interessado em
investigar a fundo as denúncias contra o presidente da República, o PROCURADOR-GERAL convenceu-se de cara de que é veraz o
que se ouve naquela gravação, pois a considerou como prova sem tê-la submetido
a perícia, uma providência que deveria ser trivial. E dali tirou conclusões
sobre o comportamento de Temer que a íntegra da gravação, posteriormente
conhecida de todos, MAL
SUSTENTA.
O sr. JANOT informou que não mandou periciar antes a
gravação por receio – atenção! – de que seu conteúdo pudesse vazar e, assim,
comprometer a operação em curso. Debalde, pois parece NÃO HAVER ENCANADOR CAPAZ DE CONTER
OS VAZAMENTOS.
Agora, o sr. JANOT, malgrado todo o cuidado que diz ter,
deseja, com a mais veemente celeridade, que o presidente Michel Temer se
manifeste – perante a Justiça – sobre um caso montado sobre um áudio a respeito
do qual não se sabe se merece inteiro crédito, já que não houve, até o momento,
perícia do material. Recorde-se, ademais, que ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) já observou que existem naquele tribunal PROCESSOS RELATIVOS À LAVA JATO À
ESPERA DE PROVIDÊNCIAS DA PROCURADORIA.
Para o PROCURADOR-GERAL, no entanto, bastam as impressões
derivadas do que ouviu naquela gravação, corroboradas, segundo ele, por “OUTRAS
PROVAS” – majoritariamente testemunhais, oferecidas por associados do sr.
Joesley Batista, empresário muito interessado em entregar ao Ministério Público
o que os procuradores desejam, isto é, a nata da política nacional, obtendo em
troca dadivosos benefícios. O sr. JANOT parece tão certo da culpa do presidente que disse ter constatado
nos pronunciamentos públicos de Temer a respeito de seu encontro com Joesley
Batista uma “CONFISSÃO
ESPONTÂNEA”.
No mesmo diapasão age
o ministro Edson Fachin, do STF. Ele acolheu o pedido do sr. JANOT para que o presidente de República
responda em 24 horas às perguntas a serem feitas pela Polícia Federal, embora
tenha dado à Polícia Federal nada menos que 30 dias para realizar a tal perícia
da gravação apresentada pelo sr. Joesley Batista.
A disparidade de
tratamento é tão notável que não se pode condenar quem, porventura, fique
cismado. Afinal, nem uma coisa nem outra se justifica – nem a pressa de ouvir o
presidente Temer sobre o conteúdo de uma gravação ainda não periciada nem a
demora em realizar a tal perícia. Alega-se que, no caso, há réu preso e isso
justifica a urgência do depoimento de Temer. SERÁ ESSE O ÚNICO CASO EM QUE HÁ RÉU PRESO? NOS DEMAIS CASOS,
NÃO HÁ A NECESSIDADE DE URGÊNCIA?
Também chama a atenção
o fato de tudo isso estar ocorrendo às vésperas da sessão do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) que vai analisar a ação contra a chapa Dilma-Temer por suposto
abuso de poder econômico. Mais uma vez, não se pode ignorar que os embaraços
jurídicos e políticos enfrentados agora por Michel Temer podem ter alguma
influência na decisão da Justiça Eleitoral.
Desde que o escândalo
da gravação estourou, há quem defenda que a cassação da chapa no TSE seria uma “SAÍDA
HONROSA” para Temer, seja lá o que isso signifique. Se assim for, os tribunais
estarão sendo usados para a produção de fatos políticos de extrema gravidade. E
não seria a primeira vez, como infelizmente sabemos. Isso, sim, precisa ser esclarecido o
mais rapidamente possível, mas parece que, sobre esse assunto, não há a menor
pressa (ESTADÃO).