O
EX-PREMIER PORTUGUÊS JOSÉ SÓCRATES, UM SOCIALISTA- AMICÍSSIMO DE LULA - , SEMPRE FOI CHAMADO
AQUI DE LULA LUSO. É DADO AO MESMO TIPO DE NEGOCIATAS DO TIRANETE
BRASILEIRO, QUE JÁ É HEPTARRÉU. UM JORNALISTA DE PORTUGAL FALA DO LULA DE LÁ EM
SUA COLUNA NO OBSERVADOR:
ALBERTO GONÇALVES
Na quinta-feira
à noite, a sra. dona Constança Cunha e Sá explicou na TVI o principal motivo
pelo qual a acusação de José Sócrates não vale a atenção de pessoas ilustres:
não trouxe, cito, “SURPRESAS”. Pelos vistos, trinta e um crimes não bastaram à
referida jornalista, que aparentemente gostaria que o antigo primeiro-ministro
fosse acusado de coisas inusitadas como o abuso de pinguins ou o roubo de tubos
de escape. Na verdade, a sra. dona Constança Cunha e Sá gostaria que José
Sócrates não fosse acusado de todo.
Tratou-se de um
raro e bonito momento de solidariedade para com o menino que sonhava com
ventoinhas e apartamentos em Paris. Em tempos, faltava pouco para que o fervor
dos devotos por José Sócrates suscitasse imolações pelo fogo. Hoje, os devotos
assobiam para o lado e, à cautela, preferem que o indivíduo se imole sozinho.
Nem a lepra assustava assim. Uma rápida consulta às capelinhas virtuais da
seita apenas encontra silêncio e distracções. Enquanto os “media”, com
discrição e fastio, davam as novas da “OPERAÇÃO
MARQUÊS”, no blogue do peru emproado que
enfiou o “engenheiro” na Sorbonne discorria-se em volta de “Che” Guevara: em
Outubro de 2017, até a associação a um psicopata parece comprometer menos do
que a intimidade com o “autor” de “A Confiança no Mundo”. E este é um mero
exemplo. Por regra, e à semelhança dos milhões movimentados nas negociatas, OS AMIGOS DE JOSÉ SÓCRATES SUMIRAM SEM
RASTO NEM VERGONHA.
O facto é tanto
mais notável quanto os amigos de José Sócrates eram imensos. Alguns, fiéis à
força, continuam a fazer-lhe companhia nas quatro mil páginas do processo. A
maioria passeia-se sorridente. Sorridente e amnésica. Se o pacote de acusados
constitui uma amostra razoável da oligarquia que regularmente enxovalha o país,
convém notar que, por definição, as amostras deixam o resto de fora.
E o resto é
demasiada gente. A gente dos “media”, nulidades amestradas que José Sócrates
inventou ou desenterrou para o servir. A gente do comentário “isento”, sob nome
próprio ou pseudónimo, cujas avenças cresciam de modo directamente proporcional
à beatificação do amo e senhor. A gente dos negócios que prosperava à sombra da
criatura e retribuía a prosperidade com juros. A gente da “justiça”, indivíduos
com pilosidade auricular que garantiam a impunidade do benemérito que lhes
arranjou emprego. A gente das “relações pessoais”, um folclórico grupo de
familiares, namoradas e espontâneos que cirandava em redor de dinheiro
facílimo. SOBRETUDO A GENTE DA POLÍTICA, QUE
SUBIU COM JOSÉ SÓCRATES, CONSPIROU COM ELE E ZELOSAMENTE LHE AMPARAVA OS
DELÍRIOS.
É POSSÍVEL QUE
ESSA GENTE NÃO TENHA SABIDO DE NADA, DADO POR NADA, REPARADO EM NADA,
DESCONFIADO DE NADA, PARTICIPADO EM NADA. É POSSÍVEL QUE ESSA GENTE CONSTITUA O
MAIOR AGLOMERADO NACIONAL DE DÉBEIS MENTAIS DESDE A INAUGURAÇÃO DE RILHAFOLES. É possível, e nesse caso seria um acto de
mera comiseração e humanidade remover essa gente do convívio com os demais, a
bem de uns e dos outros. É possível, e não se deve ficar tranquilo quando, ao
inventariar a tralha “socrática” que continua a infestar lugares de decisão ou
influência, imaginarmos que Portugal pode ser pasto de idiotas terminais. Ou
então não é possível, e a intranquilidade aumenta.
Se calhar, não é
realmente possível que essa gente não tenha experimentado o vestígio de uma
suspeita, ou estranhado a folia, ou mesmo colaborado nela. E se calhar não é
possível não saber que, além de obviamente ilegal, a folia acontecia À CUSTA DOS CIDADÃOS “COMUNS” QUE ESSA
GENTE FINGE DEFENDER EM CADA UMA DAS SUAS DESCARADAS INTERVENÇÕES. EM QUALQUER
DAS HIPÓTESES, ESSA GENTE NÃO MERECE ANDAR POR AÍ EM PAZ, OU PORQUE É
CLINICAMENTE INCAPAZ DISSO, OU PORQUE É MORALMENTE INDIGNA.
E, no entanto, é
preciso repetir: essa gente ANDA em paz. Para cúmulo, também MANDA em paz, e
com o exacto tipo de descontracção e alcance que JOSÉ SÓCRATES tentou sem
conseguir. Por morrer uma andorinha, ou ser julgada uma quadrilha, não acaba o
regabofe. A acusação do “animal feroz” e fauna restante, do honradíssimo sr.
Salgado aos portentosos gestores Bava e Granadeiro, é, para as suas inúmeras
vítimas, um instante de alívio “formal”. Mas, em última instância, é só uma
pedrita leve no charco de compadrios que aqui passa por regime. Salvo fogachos,
na sua repulsiva natureza o regime está bem e muitos – agora incluindo
certamente o próximo líder do PSD – recomendam-no. E os apreciadores farão,
como costumam fazer, bom proveito!!!