Reinaldo Azevedo
Era para derrubar o presidente na primeira semana. Ele não caiu.
Agora, estamos na fase de acelerar o falatório. Depois da delação, que
importância tem a entrevista do bandido JOESLEY BATISTA, O AUTOR DE 245 CRIMES? O que a sua verborragia acusatória
acrescenta ao conjunto da obra? Nada! Um veículo do grupo, a “Época”, serve
para esquentar o noticiário do outro, a TV. E há as rádios, os jornais, o
portal… Neste domingo, houve mais Joesley no Fantástico.
MICHEL TEMER É O PRIMEIRO PRESIDENTE QUE A GLOBO QUER DERRUBAR
DESDE JOÃO GOULART. Todos os outros, convenham, ela se esforçou para manter.
Demorou para desembarcar de Collor. Foi uma pouco mais rápida com Dilma, MAS NADA, ASSIM, TÃO FULMINANTE COMO SE
VÊ COM TEMER.
Bem, meus caros, que fique claro: fiz uma crítica genérica a
essa espécie de ordem unida que se percebe nos veículos do grupo.
É evidente que essa generalização não se traduz numa crítica a
todos os profissionais que trabalham nos diversos veículos e programas
jornalísticos. Reconheço a existência de profissionais independentes, de
primeira linha. Não vou aqui nominá-los para não parecer que me outorgo o
direito de dizer quem é bom e quem não é; quem é sério e quem não é; quem é
respeitável e quem não é. Ou que faço uma seleção que tem como filtro relações
de amizade.
E notem: parto do princípio de que existam, sim, pessoas com a
mais genuína e clara convicção de que Michel Temer deve cair. E têm todo o
direito de ter essa opinião. O que me estranha, sobretudo naqueles programas, vamos
dizer, colegiados, de debates, é a ausência de contradição. O que me causa
espécie é ver comentaristas a ancorar o “fora Temer”, ainda que dito de maneira
mais delicada, nesta lei ou naquela, MAS IGNORANDO AS
ESPANTOSAS AGRESSÕES À LEGALIDADE QUE ESSE PROCESSO CARREGA DESDE A ORIGEM.
A gravação, senhores, o elemento primitivo dessa conversa, é uma
afronta a uma cláusula pétrea da Constituição. RODRIGO JANOT E EDSON FACHIN, SOB O OLHAR
COMPLACENTE (OU CONCUPISCENTE?) DE CÁRMEN LÚCIA, VIOLARAM O FUNDAMENTO, TAMBÉM
CONSTITUCIONAL, DO JUIZ LEGAL. Mais:
sem nenhuma investigação, toma-se uma delação como critério de verdade
absoluta. E isso vindo de um homem que passou boa parte da vida trapaceando,
cometendo crimes, violando todos os fundamentos da decência.
Não, senhores! Para derrubar um presidente, é preciso um pouco
mais do que isso. Quero aqui deixar claro que não pretendi nem pretendo atacar
a independência e a honradez dos jornalistas que trabalham para as empresas do
grupo. Eu mesmo conheço alguns que estão entre o que essa profissão pode
produzir de melhor, inclusive no caráter. O QUE FIZ FOI APONTAR A INCLINAÇÃO EDITORIAL DO GRUPO, QUE NÃO
ESCONDE — AO CONTRÁRIO: DEFENDE A POSIÇÃO — A SUA VONTADE: QUER A DEPOSIÇÃO DO PRESIDENTE.
Noto, no entanto, que uma posição editorial é diferente de uma
campanha em ordem unida. A primeira pertence ao terreno jornalístico; a outra, AO DA GUERRA. Minha deferência e meu abraço
àqueles todos que seguem a divisa que sigo: posso não falar tudo o que quero,
mas só falo o que quero.
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