No auge da crise do mensalão, deputados do PT choraram no plenário da Câmara, em Brasília, na exibição pública de imenso desgosto, até ali retido em privacidade. Desde o início do governo Lula, a debandada dos melhores quadros do PT se deu de maneira sistemática, silenciosa. Outros saíram atirando, como Cristovam Buarque e Heloísa Helena, adversários do presidente na disputa eleitoral em curso. No momento em que as denúncias de Roberto Jefferson (alguém se lembra dele?) sobre o caixa 2 foram confirmadas por Delúbio Soares, não foi mais possível segurar, e as lágrimas rolaram nas faces, os olhos perplexos assistindo ao sonho desmoronar. Após a catarse e a queda da corte - quase de uma vez caíram José Dirceu, Genoíno, Delúbio e Sílvio Pereira, sem esquecer o ministro Palocci - a crise do governo e do partido foi transformada em sublimação ética, valendo-se em parte do clima de indignação popular contra os políticos que se acumula no país há alguns anos: "os fins justificam os meios", "isto sempre existiu" e "política é assim mesmo" foram e continuam sendo bordões repetidos nas hostes petistas, e ecoados na sociedade.
O fato de que esse tipo de ataque provém, via de regra, de artistas e ativistas patrocinados pelo governo federal, tão somente ratifica a sua proposta central, resumida por Wagner Tiso: "Que me interessa a ética?", perguntou, saindo do tom dos homens sérios. Colocar as mãos na lama ou dólares na cueca é a mesma e inevitável prática, sob a ótica convertida daqueles que, uma eleição atrás, brandiam sua "pureza" como arma contra "os poderosos".
Para o PT e simpatizantes, o inferno continuam sendo os outros. A fim de minimizar a decepção dos que ficaram, atira-se no colo da própria política - do "sistema" - a culpa pelas mazelas cometidas por alguns companheiros. A pirueta ideológica é perigosa, e nega a política como bem, justificando-a como um mal necessário. É um raciocínio que, no limite, mata a política para salvar os políticos de mãos sujas.
Com todos os problemas, a democracia tem ensinado que a política não se resume ao desmoronamento de credos e mentiras sobre as cabeças de militantes fanáticos ou de cidadãos crédulos. Acima de tudo, a política é construção ética - de mulheres e homens com as mãos limpas, que não se conformam com o discurso cínico da generalização e do nivelamento por baixo.
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