NA
“ESCOLINHA DO PROFESSOR MERCADANTE”, REDAÇÕES COM “RASOAVEL”, “TROUSSE” E “ENCHERGAR” MERECEM NOTA MÁXIMA!!!
É
ESPANTOSO! O jornal “O Globo” pediu que redações que receberam a nota máxima no
Enem — 1.000 — fossem enviadas à redação para servir de exemplo e coisa e tal.
Chegaram algumas. E lá havia maravilhas como “RASOAVEL”, “TROUSSE” e “ENCHERGAR”. Parece pouco? Havia erros em penca de concordância verbal, de
concordância nominal, de conjugação verbal, de acentuação. Não obstante, esses
candidatos mereceram a nota máxima — é bem provável que os corretores também
não soubessem o certo, não é? O Globo entrou em contato com o MEC. Recebeu uma
resposta burocrática e cretina. Em nota, o ministério afirma que “UM TEXTO PODE APRESENTAR EVENTUAIS ERROS
DE GRAFIA, MAS PODE SER RICO EM SUA ORGANIZAÇÃO SINTÁTICA, REVELANDO UM
EXCELENTE DOMÍNIO DAS ESTRUTURAS DA LÍNGUA PORTUGUESA”. É enrolação. Ninguém está sustentando o contrário. Até pode
acontecer. Ocorre que “NOTA MIL” caracteriza a redação que conseguiu eficiência
máxima em todos os quesitos. E um deles é justamente a fidelidade à normal
culta da língua. De resto, “TROUSSE”, “ENCHERGAR” e “RASOAVEL” não são variantes linguísticas nem segundo as considerações dos
aloprados do “NÓS PEGA OS PEIXE”. Vai
bem a escolinha do professor Mercadante. Leiam trecho da reportagem de Lauro
Neto. * “Rasoavel”, “enchergar”, “trousse”. Esses são alguns dos erros de
grafia encontrados em redações que receberam nota 1.000 no Exame Nacional de
Ensino Médio 2012 (Enem). Durante um mês, O GLOBO recebeu mais de 30 textos
enviados por candidatos que atingiram a pontuação máxima, com a comprovação das
notas pelo Ministério da Educação (MEC) e a confirmação pelas universidades
federais em que os estudantes foram aprovados. Além desses absurdos na língua
portuguesa, várias redações continham graves problemas de concordância verbal,
acentuação e pontuação. Apesar de seguirem a proposta do tema “A IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL NO SÉCULO XXI”, os textos não respeitavam a primeira das cinco competências
avaliadas pelos corretores: “DEMONSTRAR DOMÍNIO DA NORMA PADRÃO DA LÍNGUA
ESCRITA”. Cada competência
tem a pontuação máxima de 200 pontos. Segundo o “Guia do participante: a redação
no Enem 2012”, produzido pelo MEC, os 200 pontos na competência 1 são atingidos
apenas se “o participante demonstra excelente domínio da norma padrão, não
apresentando ou apresentando pouquíssimos desvios gramaticais leves e de
convenções da escrita. (…) Desvios mais graves, como a ausência de concordância
verbal, excluem a redação da pontuação mais alta”. O manual aponta, entre os
desvios mais graves, erros de grafia, acentuação e pontuação. NA MESMA REDAÇÃO EM
QUE FIGURA A GRAFIA “RASOAVEL”, PALAVRAS COMO “INDIVÍDUOS”, “SAÚDE”,
“GEOGRÁFICA” E “NECESSÁRIO” APARECEM SEM ACENTO. E
ao menos dois períodos terminam sem o ponto final. Em outro texto recebido pelo
GLOBO, aparecem problemas de concordância verbal, como nos trechos “ESSAS PROVIDÊNCIAS, NO ENTANTO, NÃO DEVE (SIC) SER EXPULSÃO” E
“OS MOVIMENTOS IMIGRATÓRIOS PARA O BRASIL NO SÉCULO XXI É (SIC)”. O mesmo candidato, equivocadamente, conjuga no plural o verbo
haver no sentido de existir em duas ocasiões: “É
FUNDAMENTAL QUE HAJAM (SIC) DEBATES” E “DE MODO QUE NÃO HAJAM (SIC)
DIFERENÇAS”. Uma terceira
redação nota 1.000 apresenta a grafia “ENCHERGAR”, além de problema de
concordância nominal no trecho “O MOVIMENTO MIGRATÓRIO PARA O BRASIL ADVÉM DE
NECESSIDADES BÁSICAS DE ALGUNS CIDADÃOS, E, PORTANTO, DEVE SER COMPREENDIDA (SIC)”. Em outro texto, além da palavra “TROUSSE”, há ausência de
acento circunflexo em “RECEBÊ-LOS” e uso impróprio da forma “porque” na
pergunta “PORÉM, PORQUE (SIC) ESSA POPULAÇÃO ESCOLHEU O BRASIL?”. Pós-doutor em
Linguística Aplicada e professor da UFRJ e da Uerj, Jerônimo Rodrigues de
Moraes Neto diz que essas redações não deveriam receber a pontuação máxima. “A
ATRIBUIÇÃO INJUSTA DO CONCEITO MÁXIMO A QUEM NÃO TEVE O MÉRITO ESTIMULA A
POPULARIZAÇÃO DO USO DA LÍNGUA PORTUGUESA, IMPEDINDO NOSSOS ALUNOS DE FALAR,
LER E ESCREVER RECONHECENDO SUAS VARIEDADES LINGUÍSTICAS. ALÉM DISSO, PROVOCA A
FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS INCAPAZES DE SE COMUNICAR, EM NÍVEIS PROFISSIONAL E
PESSOAL, E DE DECODIFICAR O PRÓPRIO SISTEMA DA LÍNGUA PORTUGUESA”, aponta
Moraes Neto. Claudio Cezar Henriques, professor titular de Língua Portuguesa do
Instituto de Letras da Uerj, reitera que, ao ingressar na universidade, esses
alunos terão de se ajustar às normas da língua de prestígio acadêmico se
quiserem se tornar profissionais capacitados. Ele observa que a banca corretora
não usa o termo “ERRO”, mas
“DESVIO”, algo que, segundo
ele, é “eufemismo da moda”. “A DEMAGOGIA
POLÍTICA ANDA DE BRAÇO DADO COM A DEMAGOGIA LINGUÍSTICA. É preciso lembrar que as avaliações oficiais julgam os alunos,
mas também julgam o sistema de ensino. Na vida real, redações como essas jamais
tirariam nota máxima, pois contêm erros que a sociedade não aceita. Afinal,
pareceres, relatórios, artigos científicos, livros e matérias de jornal que contiverem
esses DESVIOS/ERROS colocarão em risco o emprego de revisores, pesquisadores e
jornalistas, não é?”, ele indaga (Blog do Reinaldo Azevedo).
Um comentário:
Estava escrevendo sobre as barbeiragens do MEC, onde cito o mesmo texto do Reinaldo Azevedo. Enviei para AGD. A abordagem é diferente, mas citei seu Pitaco como exemplo de onde se pode errar com humor.
No caso do ENEM do Haddad/Mercandante, é cagada mesmo. Parabéns pelo texto.
Zezinho de Caetés (A Gazeta Ditital)
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