sábado, 9 de novembro de 2013
FIM DO CICLO
O sociólogo, jornalista e escritor Demétrio Magnoli escreve artigo na
Folha de S. Paulo deste sábado que merece ser lido com atenção. Na verdade,
Magnoli está oferecendo, de graça, uma consultoria de primeira linha para a
oposição. Com extraordinária capacidade de síntese e objetividade, Demétrio
Magnoli desenha a realidade política brasileira de forma nua e crua e constata,
com razão, que O CICLO DO LULISMO JÁ ESTÁ
FAZENDO ÁGUA, ainda que permaneça no ar o favoritismo eleitoral do esquema petista Como
fazer tudo isso chegar ao entendimento dos cidadãos comuns é o desafio com o
qual os candidatos oposicionistas terão de lidar de forma competente. Mas não
resta a menor dúvida de que O CICLO PETISTA ESTÁ
AGONIZANDO. Recomendo a leitura do artigo de Magnoli que transcrevo na íntegra. Leiam:
"Não existe essa coisa de sociedade" --a frase célebre, de Margaret
Thatcher, era a exposição da crença ultraliberal no individualismo. Situado no
polo oposto aparente do thatcherismo, o lulismo compartilha a descrença nessa "COISA
DE SOCIEDADE": no lugar da coleção de indivíduos atomizados da ex-premiê
britânica, nosso presidente honorífico enxerga uma coleção de corporações
reivindicantes. É essa leitura da política que explica a reação indignada do
Planalto às críticas sobre a deterioração da situação fiscal do país. Na visão
do governo, os "EMPRESÁRIOS" --os beneficiários da concessão de
desonerações tributárias-- comportam-se como traidores quando atiram pedras nas
autoridades que protegeram seus lucros. Trata-se de uma forma de auto-engano: o
recurso habitual para conservar a ilusão num encanto que já desapareceu. A
inteligência política de Lula, cantada em prosa e verso, é uma qualidade real,
mas circunscrita às conjunturas favoráveis. Formado no sindicalismo, o
presidente honorífico montou seu sistema de poder como uma mesa ampliada de
negociação sindical. TRAJANDO O MANTO DO
BONAPARTE, O GOVERNO OPERA COMO GRANDE NEGOCIADOR, DISTRIBUINDO BENESSES AOS
"SETORES ORGANIZADOS" EM GRUPOS EMPRESARIAIS, MÁFIAS POLÍTICAS,
CORPORAÇÕES SINDICAIS E MOVIMENTOS SOCIAIS. A ESTRATÉGIA FUNCIONOU, DO PONTO DE
VISTA DA REPRODUÇÃO DO PODER LULISTA, ENQUANTO O CENÁRIO ECONÔMICO PROPORCIONOU
RECURSOS PARA ATENDER ÀS "REIVINDICAÇÕES" DOS PARCEIROS NEGOCIADORES.
MAS O CICLO DA ABUNDÂNCIA ENCERROU-SE, EXPLODINDO A CASCA FRÁGIL DO CONSENSO
POLÍTICO. Na "era Lula", o Brasil esculpiu um modelo econômico
impulsionado pelos motores do crédito público e privado e da explosão do
consumo. A "ETAPA CHINESA" da globalização proporcionou os
combustíveis do modelo: investimentos externos fartos, derivados da elevada
liquidez internacional, e altas rendas de exportação, oriundas da valorização
das commodities. A poção mágica diluiu-se com o colapso das finanças mundiais,
mas as reservas no tanque permitiram ao governo servir um simulacro aditivado
na hora das eleições de 2010. O TANQUE, AGORA, ESTÁ
QUASE VAZIO: o governo reduz a BOLSA-EMPRESÁRIO enquanto pressiona o Congresso para
fechar a torneira que irriga as corporações sindicais. Sem acesso à substância
estimulante, os negociadores se dispersam --e até os fiéis petroleiros
ensaiaram uma "traição". As "JORNADAS DE JUNHO" foram o
primeiro sintoma do encerramento do ciclo. Desconcertando o governo, centenas
de milhares de pessoas tomaram as ruas para dizer que a sociedade existe --e
exige serviços públicos dignos. O segundo sintoma foi o rearranjo do tabuleiro
eleitoral deflagrado pela unificação entre PSB e Rede, uma operação celebrada
pelo PSDB. O radar dos analistas ainda não detectou o alcance dos eventos, mas
o Planalto entendeu o que se passa. EDUARDO
CAMPOS E MARINA SILVA SALTARAM DA CONDIÇÃO DE ALTERNATIVAS DISSIDENTES À DE
CANDIDATOS OPOSICIONISTAS, enquanto Aécio Neves admitiu que os tucanos perderam o
estatuto de núcleo dirigente da oposição. Na prática, configurou-se uma frente
de oposição tricéfala --e os três aspirantes decidiram que o primeiro turno de
2014 será tratado como uma eleição primária para a escolha do desafiante da
oposição unida. O giro da política monetária americana, previsto para os
próximos meses, ameaça provocar uma tempestade perfeita no Brasil,
desvalorizando o real e pressionando o botão da inflação. Mesmo assim, Dilma
Rousseff (ou Lula da Silva) conserva o favoritismo. O FIM DE CICLO, por si mesmo,
não conduz automaticamente à reversão da fortuna eleitoral. Para derrotar o
lulismo, a frente oposicionista precisaria dialogar com os cidadãos comuns: os
manifestantes de junho e o país que os apoiou. Os três aspirantes teriam que
dizer que "ESSA COISA DE SOCIEDADE" existe (Este texto foi gentilmente roubado lá do Blog do Aluízio Amorim).
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