segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
A MÚSICA PERNAMBUCANA MODERNA TEM TRÊS VERTENTES: A SERTANEJA, CUJO ÍCONE ERA LUIZ GONZAGA. A VERTENTE SOCIAL, CUJA EXPRESSÃO MAIS SENSÍVEL FOI CHICO SCIENCE. E A VERTENTE URBANA QUE REGINALDO ROSSI REPRESENTOU TÃO FIELMENTE.
Por Fernando Castilho
Nas últimas horas, uma grande quantidade
de pessoas, analistas e críticos de música, além de pessoas comuns cuidaram de prantear
o nosso Reginaldo Rossi, certamente, uma das mais firmes referências musicais
de Pernambuco depois de Gonzaga. E, certamente, no mesmo nível de um
Dominguinhos, um Chico Science para não falar do pessoal do Frevo e cometer
injustiças ao esquecer algum nome. Mas, é que Rossi é isso tudo mesmo. E sem
querer me atrever na área dominada por gente como José Teles ou Marcelo
Pereira, apenas para falar do pessoal do Jornal do Commercio, gostaria de
destacar um aspecto mais ligado a minha área de trabalho, para dizer que
Reginaldo é o que, no mercado, chamamos de um produto Premium. No mercado, se
diz que um produto é Premium, não porque ele é preferido pelos consumidores das
classes A e B. UM PRODUTO É PREMIUM
PORQUE ELE É LÍDER EM TODAS AS CLASSES DE CONSUMO. Até porque, não seria apenas o consumo das classes A e B que o
tornariam líder de vendas e ser o referencial da concorrência. Por isso, antes
que alguém se queixe de que Rossi é apenas o líder musical de um segmento
social de baixa escolaridade ou de baixa renda, é necessário dizer que Rossi
sempre perpassou por todas as classes sociais, inclusive, as de maior
escolaridade. Até porque, intelectualmente, Rossi era uma pessoa muito bem
informada e formada. Com formação acadêmica em engenharia, curso que abandonou
pela carreira, conhecimento fluente em inglês e francês, disciplinas que chegou
a ser professor, assim como conhecimento de física e matemática. É, talvez, por
ter essa base intelectual que Rossi pode descer com tanta precisão à poesia de
nível popular. Ou seja: Rossi escrevia letras bregas (ou facilmente acessíveis
pelas rima direta) conscientemente. Tinha foco e sabia o nicho de mercado a que
tinha que atingir. E isso é complemente diferente da música escrita por alguém
com baixa escolaridade. Se você ler (sem o som), a construção dos versos de
Rossi vai ver, claramente, que há uma enorme precisão de cada palavra ali
colocada. ISSO QUER DIZER CONSCIÊNCIA DE
MERCADO, OBJETIVIDADE DO PRODUTO E ALTA COMPETITIVIDADE SOBRE OS CONCORRENTES. Fazia sucesso não porque era simples. Fazia sucesso porque sua
música tinha qualidade Premium. Ou, como diziam os amigos Rossi, sabia porque
cantava o cotidiano. Tem coisa mais precisa que isso? Alguém pode dizer: Ah,
mais Reginaldo cantou a traição, a desilusão e o sofrimento. Certo, mas desde
quando o mundo deixou de cantar isso? O ser humano sofre mais por isso mesmo.
Chifre é uma coisa que se põe nas outras pessoas desde que o mundo existe. O
difícil é cantar isso com qualidade e foco, e se diferenciar. Ou alguém acha
que algum dos chamados artistas cult cantam algo diferente. Dor de corno é um
sentimento normal do ser humano. Quer um exemplo? Põe a poesia de Rossi no
ritmo do cantor que você escolher e vê no que dá! E isso vale para quem você
escolher. Isso quer dizer, qualidade de classe mundial. Vale no Recife, em São
Paulo, em Nova Iorque ou em Kuala Lumpur, na Malásia. Isso quer dizer foco e
consciência do produto que põe no mercado. Então para resumir (e agora que
Rossi “baixou a terra”), a gente já pode dizer que ficamos todos menores com a
perda dele. A gente sabe que Rossi viveu no limite da vida durante mais de 40
anos, mas ele era isso mesmo. A gente fica triste como ficou com a subida para
o “andar de cima” de Chico Science, de Gonzaga e, mais recentemente, de
Dominguinhos. MAS, É COMO SE A PRATELEIRA MUSICAL
ESTIVESSE SEM AQUELE PRODUTO. E ISSO DÁ UMA SAUDADE DANADA (Manchete original do texto: Por
que Reginaldo Rossi é Premium –A manchete deste artigo é de autoria de Luiz
Otávio Cavalcanti)
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