Vitor Hugo Soares
Algo de novo e
promissor (no melhor sentido da palavra) parece se mover na política baiana e
brasileira desde a última quinta-feira, 19, da antepenúltima semana deste
surpreendente ano de 2013. Doze meses memoráveis (para o bem e para o mal)
deste divisor do tempo que, mesmo prestes a se esgotar, segue produzindo fatos
e atos tão instigantes quanto inusitados. Um exemplo emblemático: menos de 48
horas depois de aposentar suas vestes judiciais, em Brasília, ELIANA CALMON
(EX-MINISTRA DO STJ, EX-CORREGEDORA-GERAL DO CNJ, IMPLACÁVEL VIGILANTE CONTRA
CORRUPÇÃO E MALFEITOS EM GERAL NO BRASIL, ESPECIALMENTE OS PRATICADOS POR
"BANDIDOS DE TOGA") está no centro das atenções outra vez. Em Salvador, durante ato
retumbante das oposições e intenso foguetório verde e rosa-socialista (real e
figurativamente falando), Eliana assinou quinta-feira - via Rede, da
ex-senadora Marina Silva - ficha de filiação no PSB do governador Eduardo
Campos, de Pernambuco. Nome respeitável (apesar dos muitos muxoxos e palavreado
enciumado) à sucessão da petista Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Minutos
depois da ficha assinada, o batismo de fogo. A TEMIDA E RESPEITADA TANTO QUANTO DESTEMIDA EX-MAGISTRADA SUBIA
NO PALANQUE ARMADO EM UMA CASA DE FESTEJOS DA CAPITAL BAIANA. ALI FEZ SEU
PRIMEIRO, CONTUNDENTE E REVELADOR DISCURSO POLÍTICO, DESDE OS TEMPOS ACADÊMICOS
DA FACULDADE DE DIREITO DA UFBA, ONDE ELA ESTUDOU E DIPLOMOU-SE. Fui contemporâneo
de Faculdade de Eliana, uma das mais destacadas alunas de uma turma histórica
de brilhantes acadêmicos da tradicional e respeitada instituição pública de
ensino superior do País. Cito seu saudoso colega e amigo pessoal e comum, Pedro
Milton de Brito, ex-presidente duas vezes da seccional baiana da OAB,
conselheiro federal da Ordem e nome referencial de jurista e defensor dos
direitos humanos e da liberdade de expressão na Bahia e no Brasil . Pedro
dizia, a mim e quem quisesse ouvir: "ELIANA É UMA FIGURA INCOMUM. NO ESTUDO, NA INTELIGÊNCIA
PESSOAL E CAPACIDADE PROFISSIONAL NA APLICAÇÃO DO DIREITO E NA VIDA DIÁRIA.
SABE PENSAR, LER, FALAR E ESCREVER. ELA NASCEU PARA SER PROTAGONISTA, NUNCA UMA
COADJUVANTE QUALQUER". Este jornalista sente-se à vontade para acrescentar, agora,
tantos anos depois e quando o advogado notável e ser humano invulgar partiu:
"Ex" é uma expressão qualificativa que de maneira alguma combina com
o perfil desta mulher, "filha de Oxum" - segundo as saudações que
recebeu esta semana dos representantes de grupos afro-brasileiros, militantes
de lutas sociais e líderes de importantes terreiros de candomblé
soteropolitanos - que vai disputar pelo PSB-Rede a vaga baiana no Senado nas
eleições de 2014. Eliana Calmon estará na TV, no Rádio, nos palanques da
capital e do interior do estado ao lado de Lídice da Mata. Esta, uma política
tarimbada de carreira, ex-prefeita de Salvador, atual senadora, fisgada no
Congresso pelo governador de Pernambuco para ser a candidata socialista à
sucessão do petista Jaques Wagner no Palácio de Ondina. Ela é um dos nomes mais
bem cotados em todas as pesquisas de opinião realizadas, até agora, para o
governo da Bahia nas eleições do ano que vem. Eliana e Lídice receberam de
Campos e Marina, nos encontros de bastidores e na estréia de palanque da
ex-ministra do STJ, a garantia de que terão prioridade máxima nas apostas e
participação do PSB-Rede (e dos dois líderes em especial) na campanha que se
aproxima. "PARADA PARA DESMANTELO", como os baianos gostam de qualificar disputas assim. Do jeito
que, seguramente, Eliana mais gosta e ficou fartamente demonstrado na sua passagem
pela magistratura. "Na política a história é outra", dizem seus
adversários e as primeiras vozes que saem dos sussurros de gabinetes e
palácios, da Bahia a Brasília, para "bater" na candidata que ingressa
no corpo a corpo da disputa político-eleitoral. "Ela não conhece a
Bahia", arrisca o desconhecido e frágil secretário Rui Costa, último
colocado nas pesquisas de opinião, nome que o governador Jaques Wagner fez o PT
baiano engolir como candidato à sua sucessão. Costa, de quebra, disparou contra
Eduardo Campos: "ESTE GOVERNADOR
DE PERNAMBUCO ESTÁ SE METENDO DEMAIS NA BAHIA", resmungou sobre o
importante ex-aliado do PT até recentemente, fundamental na esmagadora votação
no Nordeste e na Bahia (a maior no País), que garantiu a vitória de Dilma para
o Palácio do Planalto. Terça - feira, 17, em Brasília, no ato emocionado de
despedida da atividade jurídica, durante a última sessão do ano, na Segunda
Turma do Superior Tribunal de Justiça, a ex-ministra foi didática. Disse que se
aposenta "COMO QUEM TROCA DE ROUPA, MAS OS SAPATOS FICAM APERTADOS". E
sabe que os novos caminhos a percorrer são duros, lamacentos algumas vezes,
outras poeirentos. Quinta-feira, já no calor do embate político, em Salvador, foi
mais direta. Na entrevista, deu resposta firme ao petista Rui Costa : "ELE TEM ALGUMA
RAZÃO, NÃO CONHEÇO A POLÍTICA DO CURRAL, DA CORRUPÇÃO, DOS GROTÕES". No palanque deu
recado contundente, ao explicar sua nova opção: "Nos piores momentos que
eu passei na corregedoria do CNJ, no momento que eu estava no meio do fogo
cruzado, com todas as Associações dos Magistrados que contra mim se levantavam
eu disse: NÃO SE METAM COMIGO QUE EU SOU BAIANA. E eu não poderia
deixar que isso fossem apenas palavras”. Bravo! Eis um fato novo de verdade,
com substância de conteúdo e densidade dignos da festa em Salvador que
assinalou a chegada de Eliana Calmon na política baiana e brasileira.
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