O JORNALISTA MAGNO
MARTINS
VEM RETRATANDO COM MUITA PROPRIEDADE A SECA DO SERTÃO E AGRESTE PERNAMBUCANO:
VOCABULÁRIO
USADO PELO BLOGUEIRO MAGNO MARTINS EM SUAS ANDANÇAS NO DESERTO PERNAMBUCANO:
-A MAIOR
SECA DOS ÚLTMOS 50 ANOS;
-GADO
ABATIDO PELA FOME;
-COLAPSO
DE ÁGUA;
-RASTRO DE
DESTRUIÇÃO;
-ÁGUA
BARRENTA NUM BALDE;
-LONGA
ESTIAGEM;
-MORTE E
DESESPERO;
-SERTÃO
ESTURRICADO;
-AÇUDES
SECOS;
-GADO
ESQUELÉTICO;
-SOL
INCLEMENTE;
-CARRADA
DE ÁGUA;
-SOCA DE
ABACAXI e MANDACARU QUEIMADO;
-REFÉNS DA
SECA;
-CENÁRIO
DRAMÁTICO E DEVASTADOR;
-AGUA
SALOBRA;
-
ESTOU EM TEMPO DE ENLOUQUECER...
-TRAJETO
DAS VIDAS SECAS.
FRASES USADAS E OUVIDAS ALEATORIAMENTE
PELO JORNALISTA MAGNO MARTINS
EM SUA TRAVESSIA PELO SERTÃO PERNAMBUCANO:
Na terra de Lula,
gado morre e água de beber só pagando;
Seu traço comum é a permanente luta pela sobrevivência numa
região inóspita, marcada pelo abandono, traçada pela morte, identificada pela
fome estampada na face;
A seca é um cenário de filme de terror;
Quem tem dinheiro compra a particular, cuja água vem de
cacimbas, mas quem não tem bebe a água entregue nos pipas;
Carcaças de boi, vacas e novilhas empalheiradas, cenário do
horror vivido por quem ainda resiste em se manter numa terra esturricada;
Levo meu filho ao médico em Serra Talhada num pau-de-arara.
Nunca vi tamanho sofrimento para o bichinho, mas vou fazer de tudo para
deixá-lo saudável e pronto para a batalha da vida”, afirma Maria Lúcia, que
mora numa vila sem água nas torneiras e sem iluminação pública. “Isso aqui de
noite vira um breu”, conta;
Carros-pipas percorrem rua por rua da cidade levando uma água imprópria
para o consumo humano;
Minha vida é uma tristeza, mas vou levando assim, como Deus
quer;
Essa seca, que tanto falam por aí, fez muita gente rica por
aqui. Tem bolsa-família, bolsa estiagem, seguro safra, aposentadoria disso e
daquilo outro. Nunca vi tantos benefícios. A seca, portanto, não tá fazendo
ninguém morrer de fome. Quem morre de fome mesmo é o gado. De fome e sede,
porque não há pasto e não tem água. Mas, o povo, não. Tá todo mundo rico,
graças ao presidente Lula;
Seca dizima o gado e
Só um criador perde 200 animais;
O semblante de fome, desesperança e da longa agonia se reflete
nas palavras, nos gestos, nas emoções, muitas vezes de pingos de gente...
O peixe fede, mas serve para matar a fome dos meus filhos em
casa. Não temos outra forma de matar a fome;
Deparei-me com mais de 40 animais encurralados mortos, um
próximo ao outro, formando um cenário de horror nunca visto na região. Aquilo
virou um verdadeiro cemitério de gado;
Perder uma criação é como perder um filho. A dor também é muito
grande, porque a gente se apega muito;
As Marias, com a mesma força dos Josés, fazem serviços braçais
de homens;
O pior na terra de Lula não é a falta de água, mas a mortandade
do gado;
A seca é assim: escraviza, cria uma legião de esfomeados;
O único alimento que ainda resta para o gado é mandacaru
queimado. Antes da seca se agravar, mandacaru era oferecido de graça aos
fazendeiros. Hoje, custa R$ 70 uma carrada e não se encontra mais com tanta
facilidade. “Pelo jeito, vamos perder todo o mandacaru existente no município”;
Por falta de pasto,
o gado sobrevive do lixo;
No único manancial que abastece a população e no ritmo em que os
pipeiros retiram água de lá corre o risco de secar muito em breve;
Água? Isso aqui só aparece uma vez por mês. “Isso dá uma dor no
coração terrível”;
O drama gerado pela seca na terra de Lula é visto a olho nu, em
qualquer parte da cidade. Nas ruas, tonéis enfeitam as casas à espera do
líquido;
Maria não tem bolsa família nem bolsa estiagem, nem tampouco
dinheiro na bolsa. Mas tem dignidade e esperança...
Bacia leiteira em
colapso. Com plantel sendo dizimado;
Sem pasto e sem dinheiro para comprar ração vi o meu gado cair
no chão e não levantar mais de tanta fome;
É uma área mais castigada pela seca porque suas reservas
hídricas foram devastadas e seu solo é pobre para abertura de poços artesianos;
Tomo banho de cuia, mas é como se tivesse tomando banho no mar
de tão salgada que é a água;
Nem xique-xique tem na minha área;
Carrego água, arranco mato, carrego areia, enfim, faço tudo, só
não faço roubar, porque meus pais me ensinaram que não se deve tomar o alheio;
Os personagens mudam, mas o retrato é o mesmo;
Os traços mais assemelhados com o Fabiano, do romance Vidas
Secas, de Graciliano Ramos, se espalham agora pelo Alto Sertão;
Improviso, a emergência, os paliativos, nunca a solução
duradoura;
E assim resistem os Severinos que a seca insiste em arrastar
para o túmulo nos sertões, enquanto os insensatos de Brasília nada fazem. E
costumam tratar o doente com os mesmos remédios de antes – o improviso, a
emergência, os paliativos, nunca a solução duradoura.
Os sertanejos já não precisam de um programa, mas de um santo:
SÃO PEDRO.
MEU DEUS, MEU DEUS
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
MEU DEUS, MEU DEUS
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
AI, AI, AI, AI
A treze do mês
Ele fez experiênça
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
MEU DEUS, MEU DEUS
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
AI, AI, AI, AI
Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além
MEU DEUS, MEU DEUS
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois barra não tem
AI, AI, AI, AI
Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
MEU DEUS, MEU DEUS
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
AI, AI, AI, AI
Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Sinhô São José
MEU DEUS, MEU DEUS
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé......
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
MEU DEUS, MEU DEUS
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
AI, AI, AI, AI
A treze do mês
Ele fez experiênça
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
MEU DEUS, MEU DEUS
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
AI, AI, AI, AI
Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além
MEU DEUS, MEU DEUS
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois barra não tem
AI, AI, AI, AI
Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
MEU DEUS, MEU DEUS
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
AI, AI, AI, AI
Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Sinhô São José
MEU DEUS, MEU DEUS
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé......