Guilherme Fiuza
O ministro do STF Ricardo Lewandowski mandou prender um passageiro do seu voo de São Paulo para Brasília. O passageiro havia dito a Lewandowski que “o STF é uma vergonha”. No desembarque em Brasília, a Polícia Federal já estava a postos para cumprir a ordem do ministro.
Viu como a Fernanda Lima e o pessoal da resistência de auditório tinham razão ao gritar contra a ameaça do autoritarismo? Olha ele aí. A única diferença é que o arroubo autoritário contra a liberdade de expressão proveio, nesse caso, de um petista fantasiado de juiz. Aí a resistência de auditório some, porque arbitrariedade companheira pode.
Ricardo Lewandowski deveria ter aproveitado seu jato de moralidade e mandado remover, naquele dia mesmo, todos os espelhos da rua residência. Vergonha nunca mais.
Para quem não está ligando o nome à toga, Lewandowski é aquele que foi flagrado, ao raiar da Lava Jato, numa reunião secreta em Portugal com a então presidente da República Dilma Rousseff. Os comandantes dos poderes Executivo e Judiciário se encontrando às escondidas do outro lado do oceano, em plena decolagem da maior operação anticorrupção da história (envolvendo o partido governante), só podia se tratar de duas coisas: amor ou poesia.
Certamente largaram tudo no Brasil e se mandaram para Portugal em busca de um pouco de paz para mergulhar em Fernando Pessoa e Luis de Camões. Navegar é preciso, despistar a polícia também.
Cerca de um ano depois, novo momento poético unindo esses dois personagens lendários da vida brasileira: Dilma Rousseff sofre o impeachment e Ricardo Lewandowski, transformando a Constituição em poesia marginal (Manual do Covarde, página 34), mantém os direitos políticos da companheira cassada. Nunca mais despreze o valor de um passeio discreto a Portugal.
É bem verdade que, se não fosse o companheiro Lewandowski – o selvagem do avião – você jamais poderia ter visto a ex-presidenta mulher sendo escorraçada pelas urnas dois anos depois. Obrigado, Lewa.
À parte esse belo espetáculo estético-eleitoral, porém, o fato é que a licença para Dilma sair zanzando pelo mundo de primeira classe contando história triste de progressista injustiçada foi um doce, romântico e proverbial escândalo. De saída, a lenda do golpe contra a mulher sapiens foi a maior fonte de outra lenda poderosa – a do Lula preso político.
E esta foi a base da operação para tumultuar a eleição presidencial deste ano, com o auxílio luxuoso de boa parte da imprensa internacional e da picaretagem panfletária pendurada na ONU.
Lewandowski, o selvagem do avião, foi visto bem no meio do tumulto eleitoral lutando por uma entrevista de Lula de dentro da cadeia. Agora, segure a emoção com tanta solidariedade e pergunte rapidamente ao Google como o companheiro Lewa foi parar no Supremo. Se estiver em público, esconda os olhos, porque você vai chorar.
O passageiro foi detido pela PF porque disse que o STF é uma vergonha. Já que a resistência de auditório ao autoritarismo continua em seu silêncio de chumbo, vamos socorrer o passageiro amordaçado complementando sua mensagem:
O STF é uma vergonha porque inocentou a quadrilha do mensalão (Luis Roberto Barroso: “quem está preso tem pressa”);
O STF é uma vergonha porque blindou Dilma, de mãos dadas com Rodrigo Janot, e fez assim uma avalanche de crimes do petrolão morrer na praia;
O STF é uma vergonha porque tentou sabotar o impeachment com uma intervenção ditatorial (alô, Fernanda) no Congresso Nacional;
O STF é uma vergonha porque abençoou, em rito sumário, a conspiração de Janot, Joesley, Miller e cia para derrubar um presidente no grito e asilar um criminoso confesso em Nova York;
O STF é uma vergonha porque tentou evitar a prisão de Lula transformando um julgamento de habeas corpus em circo, com direito a efeito suspensivo e outras marmeladas, desmontadas pelo povo na rua;
O STF é uma vergonha porque soltou José Dirceu na mão grande;
O STF é uma vergonha, querido selvagem do avião, porque está cheio de petistas como você.