sexta-feira, 5 de maio de 2017

A PETEZADA SAFADA ENFIOU DINHEIRO NO RABO DOS CUBANOS

TRIUNVIRATO QUE SAIU DAS PROFUNDAS DO INFERNO PARA ATANAZAR A VIDA DOS POBRES CRISTÃO BRASILEIROS. CADEIA NELES!!!


Carlos Newton
Oportuna reportagem de Danielle Nogueira e Jeferson Ribeiro, em O Globo, levantou o véu do mistério que cerca o financiamento do BNDES para que a Odebrecht construísse o moderno Porto de Mariel em Cuba, enquanto as exportações brasileiras continuam prejudicadas pela obsolescência dos principais portos do país. A matéria mostra que a Odebrecht, embora tenha auferido vultosos lucros sem o menor risco, na verdade nem estava interessada em fazer a obra e só entrou no projeto a pedido dos presidentes Lula da Silva e Hugo Chávez, da Venezuela, onde a empreiteira também fazia negócios bilionários, movidos a propinas.
Em depoimento na Lava-Jato, Emílio Odebrecht conta que teve uma primeira conversa sobre o projeto com o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que tinha interesse no porto pelo fato de Cuba ser um governo aliado. Ao responder se Lula teve ingerência sobre o BNDES para liberar o financiamento, Emílio disse que ‘não tem dúvida’ de que isso ocorreu. A suspeita de tráfico de influência de Lula em favor da Odebrecht é alvo de inquérito do Ministério Público Federal em Brasília”, diz a reportagem.
TUDO FACILITADO  O investimento de US$ 682 milhões (R$ 2,1 bilhões) foi financiado pelo BNDES com juros entre 4,44% e 6,91% ao ano, e 25 anos de amortização, o prazo mais longo já concedido na linha que financia projetos de engenharia no exterior.
Segundo o BNDES, o prazo de 25 anos para o crédito do porto foi aprovado no âmbito da Câmara de Comércio Exterior (Camex). O banco diz ainda que “a operação contou com cobertura de Seguro de Crédito à Exportação (SCE) para 100% dos riscos políticos e extraordinários” e que a concessão do SCE teve lastro no Fundo de Garantia às Exportações (FGE), tendo sido aprovada pelo Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações (Cofig) e pela Camex”, dizem os repórteres, acrescentando que recentemente o BNDES criou uma comissão interna para apurar denúncias feitas no âmbito da Lava-Jato e que constam de duas petições do Supremo Tribunal Federal, mas nenhuma delas está relacionada ao Porto de Mariel.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA  A importante informação de Danielle Nogueira e Jeferson Ribeiro necessita de tradução simultânea. O financiamento ao Porto de Mariel é um dos maiores escândalos da história do BNDES, que mancha indelevelmente a trajetória do banco. Além dos juros de pai para filho e que não ficaram bem explicados (são de 4,44% ou 6,91% ao ano?), não houve nenhuma garantia.
Ao depor no Congresso Nacional, o então presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou que existiria risco de inadimplência do governo cubano, porque a operação estava garantida pela própria Odebrecht. Era mentira, mas os dirigentes da empreiteira, por motivos óbvios, fingiram não ter tomado conhecimento da afirmação falsa de Coutinho perante os parlamentares, que também não procuraram confirmar oficialmente se havia ou não essa garantia supostamente oferecida pela Odebrecht.
QUEM GARANTE? – As duas garantias agora citadas pelo BNDES (Seguro de Crédito à Exportação e Fundo de Garantia às Exportações) também são uma conversa fiada, porque significam uso de recursos públicos para beneficiar um país estrangeiro e uma empresa privada nacional – no caso, a Odebrecht –, para que obtivesse elevados lucros na obra.
A direção atual do BNDES repete Luciano Coutinho e também está mentindo, porque cita o Fundo de Garantia à Exportação e o Seguro de Crédito à Exportação como se fossem garantidores de verdade. Mas acontece que o Seguro não tem recursos e usa o patrimônio do Fundo, constituído em 1999 mediante a transferência de 98 bilhões de ações preferenciais do Banco do Brasil e um 1,2 bilhão de ações preferenciais da Telebrás.
DINHEIRO DO POVO – Traduzindo: o financiamento à obra do Porto de Mariel só teve garantia do governo brasileiro. Quem avalizou a operação do BNDES em Cuba foi o Tesouro Nacional, através do Ministério da Fazenda, usando os recursos públicos da União (ou seja, do povo brasileiro), porque o Fundo de Garantia à Exportação é apenas um instrumento contábil do Ministério da Fazenda.
Ou seja, Lula mandou o BNDES de Luciano Coutinho financiar Cuba com garantia do Tesouro Nacional. Usou recursos públicos para beneficiar um governo “amigo” e uma empresa “amiga”, em operação garantida também com recursos públicos. Nunca antes, na História deste país, aconteceu algo semelhante. E o governo Temer agora procura sepultar o escândalo, mas a força-tarefa da Lava Jato logo irá desvendá-lo. - As manchetes não fazem parte do texto original - 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

LIBERDADE PARA OS HERÓIS DO PETROLÃO





DEPOIS DA DITADURA VEM A ABERTURA (DA PORTEIRA). CAMINHANDO E CANTANDO E SEGUINDO O CIFRÃO...

Guilherme Fiuza

Os dias eram assim: José Carlos Bumlai, o laranja da revolução, o amigo fiel do chefe da gangue progressista e solidária que arrancou as calças do povo, é solto pelo STF. O próximo da lista da alforria é José Dirceu, identificado como maestro do mensalão e do petrolão, ou seja, um guerreiro do povo brasileiro pelo direito sagrado de garfar os cofres públicos sem perder a ternura. O ideal é que a Justiça dê liberdade logo a todos esses heróis da história recente, para que eles possam começar tudo outra vez. Caminhando e cantando e seguindo o cifrão.

Vamos parar de perseguir esses revolucionários estoicos. Ligue a TV e veja como eles eram lindos. E românticos. O fato de terem chegado ao poder e acabado todos em cana por ladroagem é um detalhe. Ninguém quer ficar lembrando notícia ruim. Se Hollywood pode cultivar Hugo Chávez como salvador do Terceiro Mundo (a Venezuela sangrenta e arrasada não coube no roteiro), por que não podemos continuar envernizando os anos de chumbo? A revolução de Jim Jones também foi linda. Por que ficar lembrando aquele incidente no final, com a morte de uns 900 seguidores por suicídio e assassinato? Mania de botar defeito em tudo.

A libertação de Bumlai é um episódio emocionante, se você imaginar quanto os amigos dele lutaram por liberdade nos anos 1960. Quem disse que utopia não vira realidade? Eis aí: o homem apontado como facilitador dos sonhos pecuniários dos pobres milionários do PT está livre. Valeu a pena sonhar.

Agora o Supremo Tribunal Federal está na dúvida se solta José Dirceu também. Depois da ditadura vem a abertura (da porteira). Eles até já se compararam a Nelson Mandela – ou seja, estão com a maquiagem em dia. Basta dar uma retocada quando o carcereiro chegar e correr para os braços do povo como ex-presos políticos. O Brasil adora esse tipo de herói. A cama de Lula está feita.

Intervalo comercial: a Advocacia-Geral da União está cobrando o ressarcimento de R$ 40 bilhões dos condenados na Lava Jato. Observando o sistema montado pelos governos Lula e Dilma para desfalcar o Erário, e notando a exuberância das cifras em cada uma das incontáveis transações reveladas, você já tinha feito suas contas: nossos doces guerreiros do povo estão bilionários. E deve ter dinheiro escondido até em casinha de cachorro.

Voltando à narrativa da gloriosa revolução socialista contra a direita malvada, a conta fecha de forma comovente. Faça a estimativa do custo de todos os advogados contratados a peso de ouro por nosso batalhão de heróis enrolados com a polícia por anos a fio e conclua sem medo de errar: estão podres de ricos. E é com esses advogados, com essa fortuna e com a boa vontade que esse charme todo suscita nos bons amigos do Judiciário que eles estão articulando a abertura (das celas).

Talvez você se lembre que Dirceu, em pleno julgamento como réu do mensalão, continuava faturando com o petrolão – conforme constatou a Lava Jato. Talvez você tenha registrado que já em 2014, com a força-tarefa de Curitiba a todo vapor desvendando o escândalo, as engrenagens do esquema continuavam em marcha, como se sabe agora, inclusive para abastecer a reeleição de Dilma, a presidenta mulher revolucionária do bem. Parece incrível, mas os dias eram assim.

Diante de uma quadrilha virtuosa como essa, que parece ter como característica especial a desinibição, é providencial que o STF comece a soltar os seus principais integrantes. Afinal, os fatos mostram que eles não vão fazer nada de mais, fora girar sua fortuna, reciclar os laços de amizade e voltar a irrigar seus negócios – que tiveram 13 anos de esplendor e ultimamente deram uma caída, prejudicados por fascistas invejosos.

Contratar pesquisas de opinião mostrando que Lula já é o próximo presidente e manifestos de intelectuais à la carte está pouco. É preciso que a Justiça tire os revolucionários do xadrez, para que Lula não tenha mais de ficar zanzando por aí de jatinho sem saber direito onde pode pousar. Chega de constrangimento.


Que a perseguição a esses homens de bem termine de vez e Lula possa chegar cheio de moral diante de Sergio Moro para dizer que não é nada dele. E depois comemorar com um churrasco no tríplex de Guarujá, que ninguém é de ferro.

O BRASIL ESTÁ COM LEIS TRABALHISTAS MODERNAS, DIGNAS DO SÉCULO XXI



Marcus Pestana
A sociedade moderna surgiu a partir da Revolução Industrial, no século XVIII, na Inglaterra, sob os escombros da ordem feudal e impulsionada pela enorme expansão comercial patrocinada pelo mercantilismo. As sucessivas inovações introduzidas pela ordem capitalista produziram um salto inédito de produtividade e diversificação produtiva. A divisão do trabalho, o tear mecânico, o uso do carvão e do ferro, a máquina a vapor, as ferrovias, a eletricidade, o motor a combustão, a telefonia, a urbanização, a introdução do aço e de produtos químicos foram avanços que progressivamente redesenharam a economia.
Do ponto de vista social, a nova ordem se ancorava em estrutura social caracterizada pela presença, de um lado, dos empresários e, de outro, dos trabalhadores. De início, a classe média era incipiente, e os setores agrários, senhores feudais e camponeses, decadentes. As condições de trabalho, nos primórdios do capitalismo, eram desumanas. Trabalho infantil, jornada de 16 horas, insalubridade, falta de segurança no trabalho, salários vis.
Nos países de capitalismo avançado, a evolução dos direitos dos trabalhadores se deu de baixo para cima, resultante das lutas sindicais, do avanço da democracia e do amadurecimento civilizatório.
Já cá, em nossas terras tropicais, as raízes históricas fincadas no escravismo colonial, a concentração extrema da propriedade da terra, a cultura excludente de nossas elites, a dinâmica política nada democrática, a economia agroexportadora, a incipiência da indústria e do mercado interno produziram um Estado forte e uma sociedade civil frágil.
A CLT veio na era Vargas, em pleno Estado Novo, “pelo alto”, a partir do governo. Várias conquistas importantes foram introduzidas para proteger o trabalhador e organizar o mercado de trabalho. MAS AS MARCAS, DIFERENTEMENTE DAS DEMOCRACIAS CAPITALISTAS MADURAS, ERAM A CENTRALIDADE DO ESTADO, A CULTURA PATERNALISTA, INTERVENCIONISTA E DE TUTELA, A PRIMAZIA DA RIGIDEZ DA REGRA, O PESO DESPROPORCIONAL DA JUSTIÇA TRABALHISTA E O DESPRESTÍGIO DA LIVRE NEGOCIAÇÃO.
ACONTECE QUE O MUNDO MUDOU. A economia hoje, em pleno século XXI, é globalizada, dinâmica, fragmentada e flexível. A rigidez da CLT, que cumpriu seu papel em dado momento histórico, É HOJE OBSTÁCULO À CRIAÇÃO DE EMPREGOS E AO DESENVOLVIMENTO DO PAÍS, concorrendo contra o próprio interesse dos trabalhadores, empurrados para a informalidade ou o desemprego. Nenhum país no mundo tem 4 milhões de processos trabalhistas por ano e tamanha insegurança jurídica. Isso é o que a “VANGUARDA DO ATRASO” não consegue entender.

Foi por isso que a Câmara dos Deputados aprovou, por ampla maioria, a modernização das regras que regem o mercado de trabalho, sem subtrair nenhum direito constitucional dos trabalhadores, num excepcional trabalho do relator, o deputado tucano Rogério Marinho (PSDB-RN). – A manchete e a imagem não fazem parte do texto original ´

COMISSÃO ESPECIAL APROVA TEXTO-BASE DA PREVIDÊNCIA


A Comissão Especial da Reforma da Previdência na Câmara aprovou, há pouco, o parecer do deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA) com mudanças nas regras da aposentadoria. Antes que o projeto siga para o plenário da Casa, resta ainda a análise dos destaques.
O parecer recebeu 23 votos favoráveis e 14 contrários. O resultado foi atingido com folga, já que, para ser aprovado, o relatório precisava de pelo menos 19 dos 37 votos dos deputados da comissão.
O texto estabelece a idade mínima de 65 anos para homens e de 62 anos para mulheres para aposentadoria pelo INSS, além exigir pelo menos 25 anos de tempo de contribuição. A proposta cria ainda uma regra de transição para quem já está no mercado de trabalho (veja mais regras ao fim da reportagem).
Depois que a votação for concluída na comissão, o texto seguirá para o plenário principal da Casa. Por se tratar de uma proposta de alteração na Constituição, precisará de pelo menos 308 votos, em dois turnos de votação.
O relator fez mudanças de última hora no parecer para incluir os policiais legislativos federais na mesma regra dos policiais federais, que poderão se aposentar com uma idade mínima menor, de 55 anos.
Para agentes penitenciários, Maia chegou a incluir a previsão de que a idade mínima de aposentadoria poderia ser reduzida até 55 anos, desde que fosse aprovada uma lei complementar no Congresso que estabelecesse essa alteração.
Diante da resistência de deputados, contrariados com a invasão do Ministério da Justiça na terça-feira (2) por agentes penitenciários, o relator retirou a categoria do grupo daqueles que terão aposentadoria especial.
REGRAS
Entenda as regras aprovadas na comissão especial, em comparação com o que foi inicialmente proposto pelo governo:
IDADE MÍNIMA
Como era a proposta: 65 anos para homens e mulheres, com 25 anos de contribuição.
Como ficou: 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, com 25 anos de contribuição.
BENEFÍCIO INTEGRAL
Como era: 49 anos de contribuição para atingir 100%, com valor estabelecido por 51% das médias dos salários, mais 1% por ano de contribuição.
Como ficou: 40 anos de contribuição para atingir 100%. O valor da aposentadoria corresponderá 70% do valor dos salários do trabalhador, acrescidos de 1,5% para cada ano que superar 25 anos de contribuição, 2% para o que passar de 30 anos e 2,5% para o que superar 35 anos.
REGRA DE TRANSIÇÃO
Como era: a partir de 45 anos para mulheres e de 50 anos para homens, com 50% de pedágio sobre o que faltar para cumprir 35 anos de contribuição para os homens e 30 anos para as mulheres.
Como ficou: idade mínima começará em 53 anos para mulheres e 55 anos para homens, sendo elevada em um ano a cada dois anos. Haverá um pedágio de 30% sobre o tempo de contribuição que faltar para atingir 35 anos (homens) e 30 anos (mulheres).
APOSENTADORIA RURAL
Como era: 65 anos de idade mínima, com 25 anos de contribuição.
Como ficou: idade mínima de 57 anos para mulheres e de 60 anos para homens, com mínimo de 15 anos de contribuição
BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC)
Como era: desvinculação do salário mínimo e idade mínima de 70 anos.
Como ficou: mantida vinculação do salário mínimo, com idade mínima começando em 65 anos, subindo gradativamente até atingir 68 anos em 2020
PENSÕES
Como era: desvinculação do salário mínimo e impossibilidade de acumulação de aposentadoria e pensão.
Como ficou: mantida vinculação ao salário mínimo, com possibilidade de acumular aposentadoria e pensão, com o limite de até dois salários mínimos.
SERVIDORES PÚBLICOS
Como era: idade mínima de 65 anos e 25 anos de contribuição.
Como ficou: idade mínima de 62 anos para mulheres e de 65 anos para homens.
PROFESSORES
Como era: idade mínima de 65 anos, com 25 anos de contribuição
Como ficou: idade mínima fixada em 60 anos, com 25 anos de contribuição
POLICIAIS FEDERAIS E POLICIAIS LEGISLATIVOS FEDERAIS
Como era: idade mínima de 65 anos, com 25 anos de contribuição.
Como ficou: idade mínima de 55 anos. Para homens, exigência de 30 anos de contribuição, sendo 25 em atividade policial. Para mulheres, exigência de 25 anos de contribuição, sendo 20 em atividade policial.
PARLAMENTARES
Como era: passariam a ser vinculados ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), cabendo à União, estados e municípios definirem regras de transição.
Como ficou: passam a ser vinculados ao RGPS, mas com transição diferente para o parlamentar federal. Nesses casos a aposentadoria será, inicialmente, aos 60 anos, subindo a partir de 2020 até o limite de 65 anos para homes e 62 anos para mulheres, com 35 anos de contribuição. Caberá a estados e municípios definirem regras de transição de seus respectivos parlamentares.(Fonte: G1).




quarta-feira, 3 de maio de 2017

BELCHIOR, ALTAMIR e um tal de E-MAIL...



Por Altamir Pinheiro

Já diz o poeta que, matamos o tempo e o tempo nos enterra. POIS BEM!!! Todos nós temos nossas máquinas do tempo. Algumas nos levam pra trás, são chamadas de memórias. Já há outras que nos levam para frente é o que podemos chamar de, tempos que vivi, mas continuam presentes... Corria o ano e só Deus sabe qual, e estava eu no Terraço  Churrascaria de Garanhuns-PE assistindo ao show de Belchior. Naquele local, com pouco mais de 200 pessoas, ESSE GÊNIO parecia um cantor comum diante de tão poucas pessoas...

Ao término do show, me dirigi ao seu camarim e, com anuências dele e do colunista social Saulo Paes que o acompanhava lhe dando guarida, adentrei no ambiente e ele estava jantando ou bebericando vinho tinto com peixe assado. Ao me apresentar como colunista de um jornal local ele sorriu pra mim, convidou-me a sentar à mesa para saborear o vinho  e peixe, agradeci, esperei terminar para entrevistá-lo.

Entreguei a um dos meus ídolos musicais de todos os tempos um papelote, datilografado (isso mesmo, datilografado!!!),  com cinco perguntas. Ele as leu, quando percebi que na última ele franziu a testa e, indagou-me: Como você sabe disso? Quem lhe contou?!?!?! Respondi-lhe: sou seu fã e tenho muitas coisas suas guardadas numa caixa de papelão em um quartinho de minha casa.

Laconicamente, me falou!!! Colunista, envie suas perguntas por E-MAIL que as responderei, aqui não vou me pronunciar  porque pode haver deturpação do que eu falar, aliás, já sou vítima disso. Mande-as por E-MAIL!!! Daí, perguntei: ENVIAR PRA QUEM?!?!?!  Ele respondeu, pelo computador, entendeu?. Agradeci, sai de fininho e a entrevista não saiu. Naquele momento, para mim, a INTERNET estava engatinhando.


terça-feira, 2 de maio de 2017

BELCHIOR FEZ UM ESFORÇO IMENSO PARA SER O DIRETOR, ESTRELA E PROTAGONISTA DE SEU PRÓPRIO FILME.


Paulo Moreira Leite

Em 1983, durante um depoimento de 50 minutos ao extinto Vox Populi, na TV Cultura, uma espectadora perguntou a Antonio Belchior qual a importância do sucesso profissional em sua vida. "SUCESSO É BRILHANTE, É BONITO," disse, antes de acrescentar: "A PUBLICIDADE DE MEU  NOME INTERESSA POUCO. O QUE ME INTERESSA É A GLÓRIA, O RECONHECIMENTO DE TER FEITO UMA COISA QUE, COMO ARTISTA E COMO CIDADÃO, JULGUEI SIGNIFICATIVA DE FAZER.".

Morto neste domingo, aos 70 anos de idade, a existência reclusa de Belchior nos últimos anos de vida  alimentou sérias dúvidas sobre a permanência de seu nome como garantia de vendas num mercado musical cada vez mais dominado por esquemas comerciais pesados. Não há dúvida, porém, de que alcançou a glória – no sentido mais nobre que essa palavra possui – como demonstram as homenagens recebidas, muito além da hipocrisia quase sempre obrigatória nessas ocasiões.

A CULTURA BRASILEIRA TEM UMA DÍVIDA IMENSA com a coerência de Belchior e sua capacidade para apresentar as próprias ideias de forma atraente e compreensível. Era porta-voz de um pensamento relativamente raro no país – libertário no sentido anarquista da palavra, de rejeição radical a toda forma de opressão e resistência a todo tipo de autoridade, mesmo consentida. Na música "Como o Diabo Gosta" chegou a escrever ("NUNCA FAZER O QUE O MESTRE MANDAR, SEMPRE DESOBEDECER") afirmando uma noção que iria repetir outras vezes.

Poeta que empregava a música como um suporte para versos que sempre foram a prioridade assumida de suas canções, construiu uma obra sofisticada e literariamente complexa. Engajado em diversas campanhas democráticas, mantinha o equilíbrio. Sem nunca ter sido panfletário, jamais escondeu uma escolha política clara entre as opções enfrentadas pela história do país ao longo dos últimos 50 anos, condição que foi bem traduzida por pichações surgidas nos muros de grandes cidades brasileiras após sua morte:  "Fora Temer. Fica Belchior."

Seminarista na adolescência, tinha um bom conhecimento de latim, o que lhe permitia um manejo erudito da língua portuguesa. Acumulou uma cultura literária acima da média, inclusive de autores do período romântico, brasileiros e portugueses, além de clássicos franceses. Também era um leitor frequente da Bíblia e de obras religiosas, em geral. Admirador de Antonio Conselheiro, o beato que liderou a revolta de Canudos no final do século XIX, exibia um traço místico no comportamento, fator que boa parte dos amigos mais antigos associam ao desaparecimento – sem nenhuma explicação plausível até aqui -- ocorrido na última década.  

O arquiteto e compositor Fausto Nilo, um dos primeiros amigos que Belchior fez em Fortaleza depois que a família saiu de Sobral, no interior do Ceará, para se estabelecer na capital cearense, recorda um episódio significativo. Aluno do primeiro ano do curso científico, de um dia para o outro Belchior sumiu da vista de todos por um longo período sem mandar notícias. "DE REPENTE, QUANDO EU ESTAVA ANDANDO PELA CIDADE, ELE BATEU NAS MINHAS COSTAS PARA CONTAR O QUE ESTAVA FAZENDO," contou Fausto Nilo. "Vestia trajes de noviço franciscano e, antes de se despedir, me deu conselhos para seguir na vida."

Estudante de Medicina, que frequentou até o quarto ano, Belchior considerava-se um herdeiro leal das ideias de 1968, o ano que transformou corações e mentes de sua geração. "Ele nunca foi militante mas frequentava o movimento estudantil," recorda Fausto Nilo, referindo-se a um universo político que incluiu lutas políticas importantes da juventude no mundo inteiro – inclusive no Brasil sob a ditadura militar – e mudanças de comportamento em vários níveis da vida cotidiana.

José Genoíno, a principal liderança entre os estudantes da Universidade Federal do Ceará, teve um percurso político comum a vários colegas do país inteiro.  Estudante de Direito, quadro clandestino do PC do B, participou da guerrilha do Araguaia. Saiu de lá para a tortura e cinco anos de prisão. Ao deixar a cadeia, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores. Em 1998, quando Genoíno disputava o terceiro mandato como parlamentar, Belchior participou de um show em benefício de sua campanha.
O sucesso de determinadas músicas chegou a tal ponto que ele só precisava pronunciar a primeira estrofe do primeiro verso -- deixando que o público cantasse até o final, sem erro. "Só preciso cantar 'Sou apenas um rapaz latino-americano'. Depois o publico faz o resto," costumava contar aos amigos, divertido. Nas canções de grande empatia, o bis não era suficiente. Precisava cantar três vezes.  

Mesmo mantendo um convívio regular e caloroso com os amigos da faculdade, seu caminho pela política seguiu um roteiro próprio. Em 1976, ano em que a violência da ditadura produziu a morte do operário Manoel Fiel Filho, em janeiro, e a Chacina da Lapa, em dezembro, que contabilizou três execuções no local, além de outros cinco casos de tortura, Belchior escreveu "COMO NOSSOS PAIS," obra prima com mensagens para o conjunto do país, inclusive para si próprio.

Sublinhando o valor supremo da vida humana num sistema onde massacres eram parte da paisagem, diz que "VIVER É MELHOR DO QUE SONHAR" e reconhece que "QUALQUER CANTO É MENOR DO QUE A VIDA DE QUALQUER PESSOA."

Num país onde "HÁ PERIGO NA ESQUINA", "ELES VENCERAM E O SINAL ESTÁ FECHADO PARA NÓS, QUE SOMOS JOVENS."  Referindo-se aos modismos mentais da época, acusa: "QUEM ME DEU A IDEIA DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA ESTÁ EM CASA, GUARDADO POR DEUS, CONTANDO O VIL METAL."

É um imenso pessimismo, coerente com a situação  no início da década de 1970. Mas não é uma derrota absoluta. É preciso querer enxergar a mudança: quem  ama o passado" (...) "não vê que o novo sempre vem."    

Em 1996, numa entrevista a jornalista Claudia Nocchi,  Belchior  colocou-se como devedor de "uma corrente de pensamentos que nasceu nos sessenta." O radicalismo residia aí. Falou de uma geração que quis " MUDAR O MUNDO, SE DESESPEROU, PERDEU, SE DECEPCIONOU".  A seguir reforçou: "é só o que me interessa." Quando a jornalista quis saber se ele não se arrependia por ter abandonado o curso de Medicina, decisão que provocou uma compreensível reviravolta na casa dos país, Belchior deu uma resposta figurada que também pode ser aplicada a outros temas: "neste cinema você desempenha o papel que lhe cabe."


Numa  época em que a vida privada é prato de consumo  e ajuda a reproduzir o mundo como  mercadoria, Belchior fazia um esforço imenso para ser o diretor, estrela e protagonista de seu próprio filme. Protegendo a vida privada com cuidados extremos, portava-se como trovadores à moda antiga, onde a pessoa real era confundida com lendas construídas a sua volta. Uma vez, disse claramente que sua pessoa era "MENOS IMPORTANTE DO QUE O PERSONAGEM QUE, ACIDENTALMENTE, PODE SER EU." Em outra oportunidade, falou de uma "espécie de biografia de um personagem de minha geração com o qual me identifico." Sempre em ambiente de certo mistério, jamais permitiu que seus casamentos, seus filhos, os hábitos de consumo, se tornassem assunto de domínio público no parque de diversos com homens e mulheres da indústria cultural. Estes cuidados ajudam a entender como um rosto conhecido e uma voz inconfundível puderam desaparecer de uma vez por todas por tanto tempo, levando consigo as razões para um gesto tão extremo.

BELCHIOR FARIA TUDO OUTRA VEZ!!!



AO FAZER UMA AUTOANÁLISE, CONSIDEROU-SE APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO E, AO OLHAR SUA FOTOGRAFIA 3×4, IMEDIATAMENTE TRAÇOU UM PEQUENO PERFIL DE UM CIDADÃO COMUM. DESTA FORMA, PERCEBEU QUE VIVIA A PALO SECO E SENTIU FOME, POIS JÁ ESTAVA NA HORA DO ALMOÇO. ALMOÇOU, E APÓS FAZER UM BREVE COMENTÁRIO A RESPEITO DE JONH, RIU, EM SEGUIDA, VESTIU A SUA VELHA ROUPA COLORIDA E PARTIU PARA A BALADA DE MADAME FRIGIDAIRE.

Jandeilmo Cleidson


Ao se espremer entre homo sapiens no transporte coletivo no qual embarcara, concluiu que A VIDA NÃO PASSAVA DE UMA DIVINA COMÉDIA HUMANA, todavia era preciso manter as aparências. No caminho,  presenciou um caso comum de trânsito, onde uma pessoa gritava enfurecida: SAIA DO MEU CAMINHO! Ignorou e, como não era com ele, julgou-se um sujeito de sorte. De modo disfarçado, riu novamente ao olhar o semblante dos ocupantes da condução lotada na qual entrara há quase meia hora, ao perceber que cada um se considerava um ser de primeira grandeza. A ansiedade para vê-la o fizera chegar cedo ao local combinado, observou o ambiente, que parecia ter sido todo projetado através de esquadros e, enquanto um baihuno servia-lhe aquele drink barato, lembrou-se do conselho dado pelo seu velho amigo quando fora encontrá-la a primeira vez: “NÃO LEVE FLORES!”.   As pessoas começaram a chegar e, repentinamente, do meio do populus, como uma ALUCINAÇÃO, ela surgiu! Estava brasileiramente linda, como o diabo gosta. Ofereceu-lhe um drink, e ficou um tempo apenas apreciando-a. Ao lado dela, não notava as horas passarem, mesmo assim, fez mentalmente um pequeno mapa do tempo e lembrou-se da viagem a sua terra que os dois fariam naquela madrugada. De lá mesmo tomaram um táxi para o aeroporto, ao entrar no carro o taxista, não se conteve e riu daquele sujeito esquisito, TODO SUJO DE BATON. Embarcaram com 10 minutos de atraso e, na hora da decolagem, segurou firme na mão dela, pois nunca escondera de ninguém o seu MEDO DE AVIÃO. Durante a viagem conversaram sobre diversas coisas e, ao ser indagado se aquela viagem havia sido uma boa ideia, respondeu:  – Conheço meu lugar! Relembrou os GALOS, NOITES E QUINTAIS, e de uma terrível seca, quando houve um verdadeiro clamor no deserto por parte do seu povo. Quando ela perguntou a opinião dele acerca das transformações sociais que estavam ocorrendo, respondeu: – A SOCIEDADE PODE ATÉ MUDAR, MAS A ESSÊNCIA DAS PESSOAS PERMANECE INTACTA, AINDA VIVEMOS COMO NOSSOS PAIS. Sobre se havia arrependimento por algo que fizera, afirmou sem pestanejar que se tivesse oportunidade, FARIA TUDO OUTRA VEZ. O tempo passou, ele viveu o auge, o esquecimento, sumiu, reapareceu… Mas o anjo do Senhor (de quem nos fala o Livro Santo) desceu do céu pra uma cerveja, junto dele, no seu canto e a morte o carregou, feito um pacote, no seu manto…  Que a terra lhe seja leve! Os verdadeiros não morrem, sua memória se eterniza por meio das suas obras.  Belchior é um desses!

VELÓRIO DE BELCHIOR TEM CORTEJO E BANDA TOCANDO SUAS MÚSICAS


O corpo de Belchior, morto aos 70 anos neste domingo (30), em decorrência de um rompimento da aorta, foi velado no Theatro São João, em Sobral (CE), terra natal do cantor, na manhã desta segunda-feira (1º). À tarde, o corpo seguiu para outro velório, em Fortaleza.

O avião que fez o traslado do corpo de Belchior de Porto Alegre para Sobral, a 232 km de Fortaleza, aterrissou na cidade cearense às 7h40. Estavam no voo a viúva de Belchior, Edna Prometeu, e duas irmãs do compositor, Lília e Angela, além de alguns sobrinhos. Do aeroporto, o caixão seguiu em cortejo pelas ruas de Sobral em um carro do corpo de bombeiros até o teatro.

Na chegada ao teatro, a banda da cidade tocou "Apenas Um Rapaz Latino-Americano". E, durante todo o velório, estão sendo executadas canções do compositor na cerimônia aberta ao público.

Angela Belchior disse ao jornal "Diário do Nordeste" que a morte do irmão, que vivia em Santa Cruz do Sul (RS), a 150 km de Porto Alegre, pegou a todos de surpresa. "Apesar dos anos sem rever os parentes, nós nos amávamos. E escolhemos tê-lo nesse último momento em sua cidade, que é Sobral. Depois seguiremos para Fortaleza onde meu irmão será velado novamente e sepultado junto dos nossos pais", falou.
Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, conhecido como Belchior, despontou nos anos 1970 com álbuns como "Alucinação" (1976), que trazia os clássicos "Apenas um Rapaz Latino-Americano", "Velha Roupa Colorida" e "Como Nossos Pais" -que ficou conhecida na voz da cantora Elis Regina.

Nascido em Sobral, no Ceará, em 26 de outubro de 1946, Belchior estudou medicina em Fortaleza, mas abandonou o curso antes de se formar para se dedicar a vida de músico.

Entre 1965 e 1970, tocou em festivais de música no Nordeste e, em 1971, venceu o IV Festival Universitário da MPB com a canção "Na Hora do Almoço", cantada por Jorge Melo e Jorge Teles.

Foi nos anos 1970 que o compositor consolidou sua discografia, sempre com letras que se aproximam das artes, da filosofia e da literatura. "Mote e Glosa" (1974), seu disco de estreia, é o cartão de visitas do projeto musical de Belchior. O trabalho contém canções como a que dá título ao álbum, além de "A Palo Seco" e "Todo Sujo de Batom".

Dois anos depois, ele lança "Alucinação", álbum que marca a sua carreira e que o firmou como grande revelação da MPB. Nele, estão clássicos como "Apenas um Rapaz Latino Americano", "Como Nossos Pais", "Velha Roupa Colorida" e "Sujeito de Sorte".

Sucesso popular e de crítica, o músico chegou a lançar mais álbuns, entre eles "Coração Selvagem" (1977), "Era Uma Vez um Homem e o Seu Tempo" (1979), "Cenas do Próximo Capítulo" (1984), "Elogio da Loucura" (1988) e "Baihuno" (1993), que consolida as principais ideias que o músico teve em sua carreira.

ADEUS A BELCHIOR

Veja abaixo a repercussão da morte de Belchior.

"Foi uma notícia que tive hoje pela manhã ao despertar, sem saber se era verdade ou não, mas agora já está confirmado.

Nós nos encontramos no colégio Liceu do Ceará. Ele era um menino do sertão que tinha chegado na cidade e sabia latim como ninguém, conhecia todos os detalhes da bíblia e lia romances.

Eu encontrei ele depois em 1968, quando eu era do movimento estudantil e ele estava fazendo música. Eu era do grupo, mas só frequentava o bar. Não tinha manifesto, eram pessoas individualmente talentosas e ele apareceu e foi o primeiro letrista.

A nossa amizade passou desde o colégio até o desaparecimento dele, quando ele desertou da cidade. Ele ia em casa e a gente ria muito. Com ele as minhas conversas eram para rir muito. É isso, ele era uma figura, um cara brilhante", comenta o compositor Fausto Nilo, parceiro de Belchior.

"O Fausto Nilo me ligou pela manhã e deu a notícia. Realmente lamento pelo grande poeta, era um artista único, representa muito para mim, que fui um dos responsáveis por trazê-lo para o Rio. Temos uma música muito importante, que era 'Mucuripe', canção importante para nós e para o nosso Estado", disse Fagner à reportagem.

"Logo que eu comecei a compor, no Ceará, tivemos um momento muito bom. Ele era um cara muito respeitado, três anos mais velho do que eu. Quando eu comecei a minha carreira, ele já era uma referência", acrescenta.

"Nós não éramos grandes amigos, nos víamos muito pouco, então tinha uma distância. Com o sumiço, ficou meio complicado. Todo mundo me perguntava muito. Pelo nosso trabalho, as pessoas achavam que a gente era muito próprio. Ele já tinha sumido, então já tínhamos pouca esperança de revê-lo.". Belchior está sendo velado em Sobral e seu enterro será em Fortaleza. (Folhapress)


segunda-feira, 1 de maio de 2017

BELCHIOR DISSE O TEMPO TODO QUE ALGO NÃO IA BEM



Júlio Maria

Belchior deixou sempre muito evidente que estava sofrendo. Uma angústia representada em suas letras e em seu comportamento, mesmo quando a carreira atingia o que poderia considerar picos de sucesso. Caetano, Gil, Zé Ramalho, Fagner, Djavan, Tom Zé, Milton Nascimento, Dominguinhos. De todos os emigrantes que procuraram as 'mecas' Rio-São Paulo para serem alguém de 1960 para 1970, Belchior foi o único que sentiria um impacto emocional irreversível. A selvageria mercantilista, para ele, era um mal a ser combatido e ele, logo ele, acabaria também vendido a ela no momento em que assinasse com uma grande gravadora.

Na gênese de Belchior, a quem os mais próximos chamavam de Bel, não está a música, mas a filosofia. Enquanto o samba-jazz ainda fervia no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, e Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lira e Luiz Bonfá davam adeus à primeira fase da Bossa Nova com um espetáculo no Carnegie Hall, de Nova York, Belchior lia Sócrates e Platão no curso de Filosofia na universidade em Fortaleza. Sua vida acadêmica ainda passaria pela Medicina antes de ser abandonada, assim que a turma de conterrâneos que tinha Fagner e Ednardo, conhecida depois como Pessoal do Ceará, cruzasse seu caminho.

Bel era considerado o estranho, o fechado, o imprevisível. Metódico, preferia ler a sair com amigos e tinha uma relação de distanciamento com o dinheiro, principalmente quando alguma nota deveria sair da própria carteira. Devia de quantias irrisórias que pedia emprestado a amigos ou que precisava pagar ao pedreiro a grandes volumes, como as contas dos dois automóveis que abandonou em São Paulo, um deles, no estacionamento do Aeroporto de Congonhas.

Belchior cansou, e seria redutor imaginar que desapareceu nos últimos dez anos para fugir das dívidas. Se assim fosse, teria aceitado oferta de empresários que quiseram pagar suas contas para que ele voltasse aos palcos. Ou aceitado a proposta vultosa de uma montadora de carros que o queria como garoto propaganda dizendo, ao volante, algo como "com um carro desses, até eu volto". Era melhor viver de favores em um asilo, escondido no interior do País.

O único artista que pratica o auto-exílio na história da música brasileira, fugindo de si mesmo, de um personagem que não aceita mais, era um angustiado, como fez questão de cantar muitas vezes. A palavra "medo" era recorrente em sua obra, principalmente desde o irretocável Alucinação, de 1976.

Ao saber de sua partida, o pesquisador Zuza Homem de Mello faz questão de ligar para a reportagem para dizer o que sente sobre Belchior: "Ele foi um dos mais cultos artistas da MPB. Possuía uma importância extraordinária no pop sobretudo pela canção 'Como Nossos Pais'. Aquilo foi uma revelação, e ele colocou o tema de maneira extraordinária. Elis Regina teve a percepção disso ao escolher a música para lançá-la no Falso Brilhante."

Mas Belchior preferiu a distância do passado. Mesmo ovacionado por novas gerações de músicos, tranca-se e passa a dedicar-se a projetos solitários, como a tradução dos 14.230 versos da Divina Comédia, de Dante Alighieri para a linguagem popular, um projeto que nunca concluiria