DEPOIS DA DITADURA VEM A ABERTURA (DA PORTEIRA). CAMINHANDO E CANTANDO E SEGUINDO O CIFRÃO...
Guilherme
Fiuza
Os
dias eram assim: José Carlos Bumlai, o laranja da revolução, o amigo fiel do
chefe da gangue progressista e solidária que arrancou as calças do povo, é
solto pelo STF. O próximo da lista da alforria é José Dirceu, identificado como
maestro do mensalão e do petrolão, ou seja, um guerreiro do povo brasileiro
pelo direito sagrado de garfar os cofres públicos sem perder a ternura. O ideal
é que a Justiça dê liberdade logo a todos esses heróis da história recente,
para que eles possam começar tudo outra vez. Caminhando e cantando e seguindo o
cifrão.
Vamos
parar de perseguir esses revolucionários estoicos. Ligue a TV e veja como eles
eram lindos. E românticos. O fato de terem chegado ao poder e acabado todos em
cana por ladroagem é um detalhe. Ninguém quer ficar lembrando notícia ruim. Se
Hollywood pode cultivar Hugo Chávez como salvador do Terceiro Mundo (a
Venezuela sangrenta e arrasada não coube no roteiro), por que não podemos
continuar envernizando os anos de chumbo? A revolução de Jim Jones também foi linda.
Por que ficar lembrando aquele incidente no final, com a morte de uns 900
seguidores por suicídio e assassinato? Mania de botar defeito em tudo.
A
libertação de Bumlai é um episódio emocionante, se você imaginar quanto os
amigos dele lutaram por liberdade nos anos 1960. Quem disse que utopia não vira
realidade? Eis aí: o homem apontado como facilitador dos sonhos pecuniários dos
pobres milionários do PT está livre. Valeu a pena sonhar.
Agora
o Supremo Tribunal Federal está na dúvida se solta José Dirceu também. Depois
da ditadura vem a abertura (da porteira). Eles até já se compararam a Nelson
Mandela – ou seja, estão com a maquiagem em dia. Basta dar uma retocada quando
o carcereiro chegar e correr para os braços do povo como ex-presos políticos. O
Brasil adora esse tipo de herói. A cama de Lula está feita.
Intervalo
comercial: a Advocacia-Geral da União está cobrando o ressarcimento de R$ 40
bilhões dos condenados na Lava Jato. Observando o sistema montado pelos
governos Lula e Dilma para desfalcar o Erário, e notando a exuberância das
cifras em cada uma das incontáveis transações reveladas, você já tinha feito
suas contas: nossos doces guerreiros do povo estão bilionários. E deve ter
dinheiro escondido até em casinha de cachorro.
Voltando
à narrativa da gloriosa revolução socialista contra a direita malvada, a conta
fecha de forma comovente. Faça a estimativa do custo de todos os advogados
contratados a peso de ouro por nosso batalhão de heróis enrolados com a polícia
por anos a fio e conclua sem medo de errar: estão podres de ricos. E é com
esses advogados, com essa fortuna e com a boa vontade que esse charme todo
suscita nos bons amigos do Judiciário que eles estão articulando a abertura
(das celas).
Talvez
você se lembre que Dirceu, em pleno julgamento como réu do mensalão, continuava
faturando com o petrolão – conforme constatou a Lava Jato. Talvez você tenha
registrado que já em 2014, com a força-tarefa de Curitiba a todo vapor
desvendando o escândalo, as engrenagens do esquema continuavam em marcha, como
se sabe agora, inclusive para abastecer a reeleição de Dilma, a presidenta
mulher revolucionária do bem. Parece incrível, mas os dias eram assim.
Diante
de uma quadrilha virtuosa como essa, que parece ter como característica
especial a desinibição, é providencial que o STF comece a soltar os seus
principais integrantes. Afinal, os fatos mostram que eles não vão fazer nada de
mais, fora girar sua fortuna, reciclar os laços de amizade e voltar a irrigar
seus negócios – que tiveram 13 anos de esplendor e ultimamente deram uma caída,
prejudicados por fascistas invejosos.
Contratar
pesquisas de opinião mostrando que Lula já é o próximo presidente e manifestos
de intelectuais à la carte está pouco. É preciso que a Justiça tire os
revolucionários do xadrez, para que Lula não tenha mais de ficar zanzando por
aí de jatinho sem saber direito onde pode pousar. Chega de constrangimento.
Que
a perseguição a esses homens de bem termine de vez e Lula possa chegar cheio de
moral diante de Sergio Moro para dizer que não é nada dele. E depois comemorar
com um churrasco no tríplex de Guarujá, que ninguém é de ferro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário