O corpo de Belchior, morto aos 70
anos neste domingo (30), em decorrência de um rompimento da aorta, foi velado no Theatro São João, em Sobral (CE), terra natal do cantor, na manhã desta
segunda-feira (1º). À tarde, o corpo seguiu para outro velório, em Fortaleza.
O avião que fez o traslado do
corpo de Belchior de Porto Alegre para Sobral, a 232 km de Fortaleza,
aterrissou na cidade cearense às 7h40. Estavam no voo a viúva de Belchior, Edna
Prometeu, e duas irmãs do compositor, Lília e Angela, além de alguns sobrinhos.
Do aeroporto, o caixão seguiu em cortejo pelas ruas de Sobral em um carro do
corpo de bombeiros até o teatro.
Na chegada ao teatro, a banda da
cidade tocou "Apenas Um Rapaz Latino-Americano". E, durante todo o
velório, estão sendo executadas canções do compositor na cerimônia aberta ao
público.
Angela Belchior disse ao jornal
"Diário do Nordeste" que a morte do irmão, que vivia em Santa Cruz do
Sul (RS), a 150 km de Porto Alegre, pegou a todos de surpresa. "Apesar dos
anos sem rever os parentes, nós nos amávamos. E escolhemos tê-lo nesse último
momento em sua cidade, que é Sobral. Depois seguiremos para Fortaleza onde meu
irmão será velado novamente e sepultado junto dos nossos pais", falou.
Antônio Carlos Gomes Belchior
Fontenelle Fernandes, conhecido como Belchior, despontou nos anos 1970 com
álbuns como "Alucinação" (1976), que trazia os clássicos "Apenas
um Rapaz Latino-Americano", "Velha Roupa Colorida" e "Como
Nossos Pais" -que ficou conhecida na voz da cantora Elis Regina.
Nascido em Sobral, no Ceará, em 26
de outubro de 1946, Belchior estudou medicina em Fortaleza, mas abandonou o
curso antes de se formar para se dedicar a vida de músico.
Entre 1965 e 1970, tocou em
festivais de música no Nordeste e, em 1971, venceu o IV Festival Universitário
da MPB com a canção "Na Hora do Almoço", cantada por Jorge Melo e
Jorge Teles.
Foi nos anos 1970 que o compositor
consolidou sua discografia, sempre com letras que se aproximam das artes, da
filosofia e da literatura. "Mote e Glosa" (1974), seu disco de
estreia, é o cartão de visitas do projeto musical de Belchior. O trabalho
contém canções como a que dá título ao álbum, além de "A Palo Seco" e
"Todo Sujo de Batom".
Dois anos depois, ele lança
"Alucinação", álbum que marca a sua carreira e que o firmou como
grande revelação da MPB. Nele, estão clássicos como "Apenas um Rapaz
Latino Americano", "Como Nossos Pais", "Velha Roupa
Colorida" e "Sujeito de Sorte".
Sucesso popular e de crítica, o
músico chegou a lançar mais álbuns, entre eles "Coração Selvagem"
(1977), "Era Uma Vez um Homem e o Seu Tempo" (1979), "Cenas do
Próximo Capítulo" (1984), "Elogio da Loucura" (1988) e
"Baihuno" (1993), que consolida as principais ideias que o músico
teve em sua carreira.
ADEUS A BELCHIOR
Veja abaixo a repercussão da morte
de Belchior.
"Foi uma notícia que tive
hoje pela manhã ao despertar, sem saber se era verdade ou não, mas agora já
está confirmado.
Nós nos encontramos no colégio
Liceu do Ceará. Ele era um menino do sertão que tinha chegado na cidade e sabia
latim como ninguém, conhecia todos os detalhes da bíblia e lia romances.
Eu encontrei ele depois em 1968,
quando eu era do movimento estudantil e ele estava fazendo música. Eu era do
grupo, mas só frequentava o bar. Não tinha manifesto, eram pessoas
individualmente talentosas e ele apareceu e foi o primeiro letrista.
A nossa amizade passou desde o
colégio até o desaparecimento dele, quando ele desertou da cidade. Ele ia em
casa e a gente ria muito. Com ele as minhas conversas eram para rir muito. É
isso, ele era uma figura, um cara brilhante", comenta o compositor Fausto
Nilo, parceiro de Belchior.
"O Fausto Nilo me ligou pela
manhã e deu a notícia. Realmente lamento pelo grande poeta, era um artista
único, representa muito para mim, que fui um dos responsáveis por trazê-lo para
o Rio. Temos uma música muito importante, que era 'Mucuripe', canção importante
para nós e para o nosso Estado", disse Fagner à reportagem.
"Logo que eu comecei a compor,
no Ceará, tivemos um momento muito bom. Ele era um cara muito respeitado, três
anos mais velho do que eu. Quando eu comecei a minha carreira, ele já era uma
referência", acrescenta.
"Nós não éramos grandes
amigos, nos víamos muito pouco, então tinha uma distância. Com o sumiço, ficou
meio complicado. Todo mundo me perguntava muito. Pelo nosso trabalho, as
pessoas achavam que a gente era muito próprio. Ele já tinha sumido, então já
tínhamos pouca esperança de revê-lo.". Belchior está sendo velado em Sobral
e seu enterro será em Fortaleza. (Folhapress)
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