MEL E FEL
Luiz Otavio Cavalcanti
A sucessão de 2010, vista em perspectiva, desdobra a mudança que elegeu Lula, em 2002. Lula foi o fato novo em eleição na qual o eleitorado optou pela esperança. Ora, a eleição de 2010 significa continuar essa caminhada. Aprofundar a mudança. Sem medo. Porque, como disse Danuza Leão, medo eu tenho é da cara de Dilma. Que só soube sorrir o sorriso maquiado depois que Lula a indicou candidata. Na prática, 2010 é a continuação de 2002. Mas não é sua continuidade. É a mudança na mudança.
A senadora Marina Silva é uma aposta no Brasil real. Não quero dizer que ela elegeu-se a vereadora mais votada de Rio Branco, deputada estadual mais votada do Acre, duas vezes senadora, ministra do meio ambiente. Nada disso. Uma carreira improvável. Igual improbabilidade cerca sua candidatura presidencial. Não importa.
Importa falar de gesto bonito, seu, que tem faltado a vida pública, no país. O gesto de deixar o ministério depois de ela ter sido maltratada por Dilma e desautorizada pelo presidente. Que conferiu a Mangabeira Unger a coordenação do plano da Amazônia. Ela não curvou a convicção de seus valores ao usufruto do poder. Essa é a parte que coube a Marina. Ela a fez. Importa dizer que seu discurso sobre sustentabilidade eleva a qualidade do debate na campanha. Agora, cabe-nos fazer nossa parte. Marina é raridade política, que pode se transformar em realidade política. Se nós quisermos. Por que apoiar a senadora Marina Silva? Simples. Pelo que ela é. Como pessoa e como política. Isso basta. Para apoiar o desenvolvimento sustentável que não destrói, constrói, e enfrentar a política do atraso de desatualizados coronéis.
Como vai ficando claro, a vida/discurso de Marina Silva, na defesa da qualidade de fazer, é perfeito contraste com a arenga quantitativa de um PAC manco. Como vai ficando nítido o discurso/vida de Marina Silva está sintonizado com a fatia de esperança da cidadania no seu próprio destino. Vai ficando evidente a diferença o antigo e o moderno. A opção Marina Silva está na lógica do futuro brasileiro, ajustada ao horizonte do tempo social.
O presidente Lula cumpriu etapa do processo de democratização da política brasileira. Terminou coronelizando o governo nas sombras de uma trinca impensável: Lula, Sarney e Collor. A senadora Marina Silva dá despacho saneador nesse processo. Ela contorna icibergs agregando a imensa força de ideias. E se desobriga do acerto furtivo de conchavos. Sabemos que política sustentável produz inimigos a curto prazo. Sabemos também que a senadora cresceu em luta aberta e limpa. Ela criou a chance de termos de recuperar pedaços de uma utopia ética, que a nação quer concretizar. Sem fel, com mel.
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