Pedro do Coutto
O presidente Jair Bolsonaro não está atravessando uma boa fase em matéria de colocação de temas, formas de se expressar e tampouco em matéria das decisões que pretende colocar em prática. Incrível o que ele fez ao receber uma indagação sobre a política voltada para combater o Coronavírus. A pergunta incluía como ele encarava as mais de 5 mil mortes. Demonstrando uma mistura de quase um deboche com uma ironia banal, respondeu que só era Messias no nome e devolveu a pergunta, dizendo? “E daí, eu também vou morrer um dia”.
A repercussão foi enorme através dos telesjornais e das redes sociais e da manchete principal de O Globo, nesta quarta-feira, reportagem de Renato Grandelle. A opinião pública respondeu com perplexidade à divulgação de fato ao mesmo tempo marcado pela grosseria e pela comparação absurda.
NÃO HÁ CULPA – Ninguém atribuiu culpa da pandemia a ele, portanto, não poderia se julgar agredido com a pergunta sobre o assunto, que inclusive já gerou a substituição do ex-ministro Henrique Mandetta pelo médico Nelson Teich.
Vale frisar que a atuação do novo titular da Pasta está marcada por uma inibição de enfrentar a realidade do desafio. O ministro Nelson Teich, que deixou de trabalhar como médico e se tornou consultor, não demonstra até agora a emoção necessária para combater o vírus e suas consequências, limitando-se a dizer que está pesquisando informações para montar seu plano. Mas esta é outra questão.
Bolsonaro demonstrou desconhecer o maior desafio da espécie humana, que está centrado no dilema entre existência e eternidade. Por isso é que a morte não é assunto para aplicação de ironias, tampouco pode ser tratada como um tema de menor importância, porque exige respeito e um posicionamento decoroso, que conduz ao silêncio.
Em qualquer país procede-se assim, mesmo que mortos tenham causado em vida dissabores ou até agressões maiores. Diante da morte, guarda-se o silêncio e o respeito. Afinal de contas, descem as cortinas para uma etapa que terminou.
A ANTIPOSSE DE RAMAGEM – O dia de ontem não foi efetivamente bom para o presidente da República e seu governo. A posse não se realizou porque o ministro Alexandre de Moraes, acolhendo recurso do PDT, sustou-a por nela identificar um caráter de intimidade entre Ramagem e a família Bolsonaro.
Ramagem assim transformou-se no personagem que era diretor da PF sem nunca ter sido. O presidente da República, na tarde de ontem, ao empossar o novo ministro da Justiça, no final de seu discurso disse que o sonho tanto dele quanto de Ramagem para ocupar a Polícia Federal terminará se realizando em breve.
Não sei porque Bolsonaro faz uma profecia no tempo. Ele ontem mesmo anulou o decreto que havia nomeado Ramagem e foi sustado pela liminar de Alexandre de Moraes. Anulando o decreto, o Supremo Tribunal Federal não poderá julgá-lo e o remeterá a mais um arquivo da história do país. E o veto à nomeação continuará valendo.
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