Ruy Fabiano
O
fiasco da greve geral de ontem – convocada sem que nenhuma assembleia sindical
tenha se manifestado – mostra que essas entidades, desviando-se de suas
finalidades estatutárias, disputam hoje com os partidos políticos o troféu de
desgaste popular.
Como
os partidos políticos, só que numa escala bem maior, pulverizaram-se e passaram
a servir-se do público para atender interesses privados. Criam-se sindicatos,
assim como partidos, para se ter acesso ao dinheiro público que os sustenta.
Os
partidos recebem as verbas do fundo partidário; os sindicatos, do imposto
sindical – um dia de trabalho por ano de cada trabalhador, sindicalizado ou
não. Há hoje, em decorrência, uma elite sindical milionária que se consolidou
ao longo da Era PT.
O
pretexto para a greve geral – as reformas trabalhista e previdenciária – não
gerou a mesma reação quando o patrocínio era dos governos Lula e Dilma. As
propostas eram equivalentes, mas não embutiam um detalhe: o fim do imposto
sindical. E é ele que está na raiz da greve frustrada de ontem, não as reformas
em nome das quais foi convocada. A República Sindical é cara, ineficaz e
bizarra.
A
propósito, alguém já ouviu falar de um certo Sindicato das Indústrias de
Camisas para Homens e Roupas Brancas de Confecção e Chapéus de Senhoras? Pois
é. Funciona (?) no Rio de Janeiro.
Há
outros, assemelhados, como o Sindicato da Indústria de Guarda Chuvas e Bengalas
de São Paulo. Ou ainda o Sindicato dos Empregados em Entidades Sindicais, isto
é, um sindicato de funcionários de sindicatos. Seria até engraçado se por trás
não houvesse alguns bilhões do contribuinte.
Há
no Brasil, segundo o Ministério do Trabalho, nada menos que 11 mil e 257
sindicatos de trabalhadores, sem contar federações, confederações e centrais. E
não é só: não cessam os pedidos para a criação de novos, que já não se
classificam apenas por categoria, subdividindo-se, em alguns casos, até por
local de trabalho.
Por
exemplo: não basta um sindicato para os comerciários. Há um de comerciários que
trabalham em shoppings, que teriam natureza diferenciada da dos comerciários
que trabalham em estabelecimentos sediados nas ruas e avenidas. Questão de CEP.
A
criatividade, em busca de fatias do imposto sindical, não tem limites. Cria-se
numa ponta uma entidade patronal, o Sindicato de Empresas de Desmanche de
Veículos (Sindidesmanche), e na outra uma entidade de trabalhadores do mesmo
ramo, o Sindicato dos Inspetores Técnicos em Segurança Veicular (Sintseve).
À
frente de ambas, os mesmos dirigentes: Mario Antonio Rolim, Ronaldo Torres,
Antonio Fogaça e Vitorio Benvenuti, todos ligados à mesma Central, a Força
Sindical, do deputado Paulo Pereira, do PDT, que, aliado de Lula e Dilma, não
hesitou em aderir a Temer.
O
imposto sindical foi criado por Getúlio Vargas, nos anos 40, mas, graças à Lei
11.648, de 2008, se estendeu às centrais sindicais. E graças a um veto de Lula
ao artigo que submetia esse repasse à fiscalização do TCU, não é necessário que
as centrais prestem conta do que é feito com essa bolada – que não é
desprezível.
Em
2016, os sindicatos receberam R$ 3,6 bilhões; só as centrais sindicais, de 2008
a 2015, R$ 1 bilhão, sem precisar explicar o que dele fizeram. Esse dinheiro
chega aos cofres do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e é depois repassado
pela Caixa Econômica Federal. Uma festa.
Em
tal ambiente, não é difícil entender a proliferação de sindicatos, que crescem
na razão inversa à qualidade do atendimento ao usuário. Mas compreende-se: não
se expandiram com essa finalidade, mas para servir a um projeto de poder, graças
ao qual conseguem tumultuar a vida do país, falando em nome de quem não
representam, mantendo-o no atraso em que ajudam a colocá-lo. – As imagens e a manchete não fazem parte do texto original -