OUTROS TEMPOS
Por Marina Silva
Nos últimos anos, o exagero numa disputa política bipolar,
em que cada lado se considera o bem absoluto na luta contra o mal absoluto,
contaminou toda a sociedade brasileira e gerou um ambiente de discórdia no qual
a mais simples divergência é julgada e condenada como uma grave traição. O
debate político tornou-se estéril, pois todos gritam e ninguém escuta. Qualquer
atitude, decisão ou proposta é imediatamente vista como uma reação emocional,
de ataque e defesa. Se alguém tem um projeto, uma ideia, um questionamento, é
porque está atacando um dos lados, "ROMPEU" com o outro, está
se vingando. É grave quando essa bipolaridade penetra em serviços e procedimentos
que deveriam ser públicos e isentos e os fazem sucumbir ao antigo preceito
antirrepublicano: aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei. Dessa forma, o regime
democrático é enfraquecido por dentro. Mas, como diz o poeta, "amanhã há
de ser outro dia". Podemos recuperar a política como atividade idealista,
meio de realizar utopias, ambiente de disputas leais na busca de novos
consensos capazes de unir (sem ter que fundir) os ideais da nação. É necessário
que cada um, principalmente as forças que se forjaram na bipolaridade, busque
um realinhamento interno e uma revisão de seus princípios. Vale o que foi dito,
nos últimos dias, por uma importante liderança do PT, o governador Tarso Genro:
A DISPUTA NÃO É EM TORNO DO PASSADO,
MAS VOLTADA PARA O FUTURO. É necessário,
também, compreender que lutar pela democracia sob uma ditadura é bem diferente
de defender a democracia na democracia. Pensemos em pessoas com histórico de
luta pela democracia, como a presidente Dilma. Não seria ofensivo pedir-lhe que
proceda de modo democrático? A democracia, nesse caso, é pressuposto básico,
não temos que agir temendo que ela nos seja negada. Da mesma forma, talvez seja
inútil esperar atitude democrática de quem depende do autoritarismo e das decisões
autocráticas, pois só nesse ambiente pode prosperar sua política ou seus
negócios. Porém, mesmo a estes deve-se dar o benefício da dúvida e a margem
para uma mudança que é sempre possível pois, como temos visto tantas vezes, o
tempo e a vida são bons professores. De todo modo, o Brasil fez nas ruas e faz
todos os dias um apelo que precisa ser escutado: RECOLHER
AS ARMAS. O tempo mudou. De
nada adianta soltar os cachorros, comer o fígado e outras expressões de uma
política feita com ódio. QUANTO A BEIJAR E ABRAÇAR, É BOM QUANDO É SINCERO. Houve um tempo em que vivíamos insultados sob a ditadura. É
hora de nos sentirmos respeitados em nossa democracia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário