terça-feira, 30 de agosto de 2016

VAI CAIR A LÂMPADA QUE ILUMINAVA O POSTE...




Carlos Newton

O intenso treinamento a que Dilma Rousseff foi submetida nos últimos dias deu resultado melhor do que os alardeados cursos do Pronatec. Sem dúvida, a presidente afastada conseguiu até se sair bem no confronto com os senadores. Mas as regras do jogo lhe eram favoráveis, porque cada parlamentar tinha apenas cinco minutos, enquanto ela podia usar o tempo que quisesse, numa deferência toda especial de seu amigo pessoal Ricardo Lewandowski, que presidia a enfadonha sessão. Além disso, não havia réplica. Ou seja, Dilma podia falar o maior disparate, o senador tinha de engolir calado.

CHICLETE COM BANANA – Naquele linguajar característico, expondo seus notáveis conhecimentos de Economia, a doutoranda da Unicamp  misturou chiclete com banana e fez uma confusão dos diabos, ao repetir exaustivamente as respostas que ensaiara com os senadores do PT, com o advogado José Eduardo Cardozo e com os ex-ministros Ricardo Berzoini e Miguel Rossetto.

Ninguém aguentava mais, até o convidado petista Chico Buarque de Hollanda manifestou seu desagrado. Logo no primeiro intervalo, os debates mal tinham começado e o famoso compositor já dizia que a sessão era “uma chatic”e. Mas ele tinha de prestigiar a companheira Dilma, fazer o quê?

DUAS ACUSAÇÕES – As acusações referiam-se a crimes de responsabilidade. Apesar do treinamento intensivo, a presidente afastada se contradizia, porque ora alegava que não os havia cometido, ora ressalvava que as mesmas irregularidades tinham sido cometidas normalmente em governos anteriores e o TCU jamais reclamara.

Com uma clareza incompreensível, a depoente dizia que não houve pedaladas e depois admitia que existiram, porém ela não autorizara nada, não assinara nada, porque o Plano Safra era uma rotina do Banco do Brasil. Na defesa dessa tese falaciosa, Dilma se empolgava e esquecia de justificar as pedaladas da Caixa Econômica Federal e do BNDES, e os senadores, já tontos de tanta enrolação, nem lembravam de mencioná-las.

E a presidente seguia em frente, misturando pedaladas, operações de crédito e contingenciamento, mas falando com tal convicção que fazia lembrar o personagem Rolando Lero, da Escolinha do Professor Rolandowski.

AULA DE DIREITO – O que mais impressionou, porém, foram as repetidas aulas de Direito ministradas por Dilma, na tentativa de justificar os decretos ilegais que autorizaram despesas sem licença prévia do Congresso. Com firmeza acadêmica, ela repetia que a Constituição proíbe, mas a Lei de Responsabilidade Civil permite os decretos, como se fosse possível alguma legislação revogar dispositivo constitucional.

Essa curiosa e surpreendente argumentação jurídica – repetida exaustivamente pela presidente Dilma – exibia a criatividade dos profissionais que a treinaram nos últimos dias, com destaque para o advogado José Eduardo Cardozo, que estava o tempo todo a seu lado e não permitia que ela saísse do roteiro.

NA POSTERIDADE – Como se sabe, essas performances da presidente afastada estão sendo gravadas para a posteridade, nos quatro documentários em produção para denunciar o “golpe”. E para quem trabalha no ramo, é possível imaginar a dificuldade que as equipes terão ao editar essas cenas, porque a presidente Dilma Rousseff exibe muitos defeitos, está sendo afastada, mas merece um mínimo de consideração.

Em termos econômicos, jurídicos e contábeis, os argumentos que ela repetiu não têm a menor consistência. Com toda certeza, será um risco registrar para a posteridade essas teorias ensandecidas, porque isso só vai manchar ainda mais a biografia dela. - As imagens e a manchete não fazem parte do texto original - 


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