domingo, 5 de janeiro de 2014
ARIANO SUASSUNA: CONSIDERO EDUARDO CAMPOS O POLÍTICO MAIS BRILHANTE QUE JÁ CONHECI. ELE É PACIENTE, É OBSTINADO, ALÉM DE SER ASTUCIOSO.
EM
ENTREVISTA EXCLUSIVA, ARIANO SUASSUNA DIZ QUE FEZ “PACTO COM DEUS” PARA
TERMINAR LIVRO.
FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL AO RECIFE
"Mexeu com o físico, mas com a cabeça não buliu não. Se você quiser,
recito todinho o episódio de Inês de Castro, de 'Os Lusíadas'", brincou
Ariano Suassuna, 86 anos. Fazia alusão ao copioso trecho do clássico português,
mas deu várias outras provas de que falava a verdade. Quase quatro meses depois
de sofrer um infarto (agora ele revela terem sido dois) e tratar um aneurisma
cerebral, o escritor e dramaturgo recebeu a Folha em sua casa no Recife para
uma entrevista exclusiva, a primeira depois de duas internações e do repouso
forçado. Dizendo-se cansado, optou por falar deitado em sua cama. Acabara de
posar para fotos e na véspera retomara suas aulas-espetáculos com um tributo ao
compositor Capiba, uma palestra intercalada por shows de música e dança que
durou 1h45min. Mais magro que o habitual e aparentemente mais fraco (recusou o
lanche que lhe chegou, uma fatia de bolo e água de coco), mantém, porém, a
cabeça a mil. Em uma hora de entrevista, não perdeu em nenhum momento a lucidez
ou a argúcia. Recitou de memória versos inéditos de sua autoria que estarão no
romance em que trabalha há 33 anos e cujo primeiro volume, após seguidos
adiamentos, ele diz ter enfim concluído, sob pressão dos problemas de saúde.
Leo Caldas/Folhapress
PARA PÔR FIM AO PRIMEIRO LIVRO DAQUELA QUE CONSIDERA A OBRA DE SUA VIDA
-E QUE DEVERÁ TER SETE VOLUMES, MESCLANDO ROMANCE, POESIA, TEATRO E GRAVURA-,
ARIANO AFIRMA TER TIDO UMA AJUDA DIVINA. "FIZ UM PACTO COM DEUS: SE ELE
ACHASSE QUE O ROMANCE TINHA ALGUMA COISA DE SACRÍLEGO OU DE DESRESPEITOSO, QUE
INTERROMPESSE PELA MORTE." A OBRA CONCLUÍDA -AINDA SEM PREVISÃO DE
LANÇAMENTO- SERÁ UM ROMANCE EPISTOLAR, CHAMADO "O JUMENTO SEDUTOR",
HOMENAGEM A "O ASNO DE OURO", DO ESCRITOR LUCIUS APULEIO, DO SÉCULO
2. A SÉRIE COMPLETA LEVARÁ O NOME DE "A ILUMIARA". O AUTOR DE
"ROMANCE DA PEDRA DO REINO" E "O AUTO DA COMPADECIDA" FALOU
AINDA SOBRE MORTE E A AVERSÃO QUE SENTIU DA UTI E DE POLÍTICA.
Leia a seguir os principais
trechos da entrevista.
FOLHA - O Sr. ENFRENTOU PROBLEMAS
GRAVES DE SAÚDE, ACABA DE PULAR UMA FOGUEIRA BRABA...
Ariano Suassuna - [interrompendo] Na verdade eu pulei três fogueiras: eu
tive dois infartes e um aneurisma estourou no meu cérebro.
FORAM DOIS INFARTOS, ENTÃO?
Foram.
POIS É, E DEPOIS DE QUASE QUATRO
MESES ENTRE INTERNAÇÕES E REPOUSO, O SR. RETOMOU AS ATIVIDADES PÚBLICAS ONTEM
NUMA AULA-ESPETÁCULO. COMO SE SENTE?
Eu fazia muita questão de dar essa aula. Eu disse para mim mesmo que só
não dava a aula se não tivesse a menor condição. E queria avaliar minhas
forças, para saber se podia continuar, dentro desse pequeno prazo que a gente
ainda tem [no mandato de Eduardo Campos, que deixará o cargo até abril para
disputar a Presidência], podia continuar a programação que a gente vinha
seguindo [de aulas-espetáculos]. Combinei que a gente faria essa no Recife e, de
acordo com o comportamento do meu corpo, a gente daria outra em Pombos [agreste
de PE].
DEU PARA AVALIAR COMO O CORPO
REAGIU?
Deu. Dá para ir, senti que dá para retomar num ritmo mais leve.
O SR ANDA FALANDO MUITO O NOME DA
CAETANA, QUE É COMO O SR CHAMA A MORTE. DE ONDE VEM ESSE NOME?
No sertão da Paraíba e de Pernambuco chamam a morte de Caetana.
QUE É UMA MOÇA, MAS PODE SER
TAMBÉM UMA ONÇA...
Não, isso aí [de ser onça] já foi invenção minha. Eu aproveitei e comecei
a recriar literariamente um mito que foi criado pelo povo. Como o povo
sertanejo é machista, só criou a morte feminina. Aí eu, de minha parte, já
inventei a contrapartida masculina. Eu acho que a morte aparece como mulher aos
homens e como homem às mulheres.
E COM QUE NOME?
Caetano.
O SR. JÁ DISSE QUE SE RECUSAVA A
MORRER E QUE TODA MORTE É COMO UM SUICÍDIO. COMO ESSA EXPERIÊNCIA AFETOU O MODO
COM QUE O SR. LIDA COM ELA?
Não afetou não. É claro que, objetivamente, eu sei que vou morrer. Não
sei se você já notou, mas nenhum de nós acredita que morre, o que é uma bênção.
A gente se porta a vida toda como se nunca fosse morrer, o que é muito bom.
Porque se a gente for pensar na morte como uma coisa fundamental, inevitável e
próxima, a gente vai perder o gosto de viver, vai perder o gosto de tudo. Eu
digo isso procurando verbalizar uma inclinação que acho que é de todo mundo. A
gente tem uma tendência a acreditar que não morre. [Pensar que vai morrer]
prejudica um pouco a qualidade de vida, e eu sou um apaixonado pela vida, amo
profundamente a vida. Olhe que essa maldita tem me maltratado, mas eu gosto
dela.
NO "ROMANCE DA PEDRA DO
REINO", QUADERNA TEM UM SONHO NO QUAL A CAETANA [A MORTE] COMO QUE DITA
PARA ELE PALAVRAS DE FOGO. O SR. TEVE ALGUM SONHO OU ALUCINAÇÃO DURANTE ESTE
PERÍODO?
Não. Ordinariamente não tenho... Às vezes eu tenho uns sonhos que se
transformam em literatura. Tenho um poema chamado "Sonho" que foi um
sonho. E às vezes quando não estou acordado ainda, mas não estou mais dormindo,
é o momento em que invento muita coisa, muito criativo.
ESSA EXPERIÊNCIA MUDOU ALGUMA
COISA NO SEU JEITO DE PERCEBER O MUNDO E AS PESSOAS?
Não. Poucos dias antes de adoecer eu dei uma entrevista em que me
perguntaram se eu tinha medo da morte. E eu disse: eu não gosto de contar
valentia antecipada, acho que a gente só pode dizer que não tem medo de alguma
coisa depois de enfrentá-la. Agora, até onde eu vejo, eu não tenho medo da
morte. Eu tenho pena de morrer sem ter realizado certas coisas. Por exemplo: se
visse que não dava para terminar o romance que escrevo, aí teria muito pena de
morrer. Engraçado, quando eu estava lá [no hospital] nos primeiros momentos,
que descobri que tinha tido um infarto –fui saber disso no hospital– eu me
agoniei muito porque tinha deixado o manuscrito aqui [em casa]. Eu disse:
preciso conversar com Carlos Newton [Junior, professor universitário,
especialista na obra do escritor], dizer a ele como era, para levar adiante [o
livro]. Primeiro eu dividi o livro grande em vários livros. Cada capítulo do
livro é escrito em forma de cartas, sob certo aspecto é um romance epistolar, e
toda carta termina do mesmo jeito. Porque eu digo lá que fiz um pacto com Deus,
e fiz mesmo: se ele achasse que o romance tinha alguma coisa de sacrílego ou de
desrespeitoso, que interrompesse pela morte –coisa com a qual desde agora eu me
declaro de acordo. Meu acordo não vale nada num caso desse, mas por outro lado
tem uma vantagem. É que eu dou ideia da minha conformidade e da minha
resignação e tô conseguindo, com a minha megalomania, um parceiro extraordinário.
O primeiro volume são seis cartas, todas seis terminam do mesmo jeito, com as
mesmas palavras.
QUAL É O JEITO, QUAIS SÃO AS
PALAVRAS?
[uma assessora afirma: "Não diga o que não puder dizer"] A
gente tem uma tendência a responder a verdade, né? É uma tentação desgraçada.
Bom, todas terminam com um verso, um martelo gabinete e um martelo agalopado
[martelos são formas poéticas usadas pelos cantadores nordestinos]. O martelo
gabinete é um martelo de seis versos de dez sílabas, e o martelo agalopado são
dez versos de dez sílabas. Deixa eu ver se me lembro do martelo. Diz assim:
"O circo, sua estrada e o sol de fogo/ Ferido pela faca na passagem/ meu
coração suspira sua dor/ entre os cardos e as pedras da pastagem./ O galope do
sonho, o riso doido/ e late o cão por trás desta viagem". E o martelo
agalopado diz: "Pois é assim: meu circo pela estrada/ Dois emblemas me
servem de estandarte/ No sertão, o arraial do bacamarte/ Na cidade, a favela
consagrada/ Dentro do circo há vida, onça malhada/ Ao luzir do teatro o pelo
belo transforma-se num sonho, palco e prelo/ e é ao som deste canto na garganta
que a cortina do circo se levanta para mostrar meu povo e seu castelo". Então
se eu morrer o romance está terminado. E para justificar isso eu cito uns versos
de Fernando Pessoa dos quais eu gosto muito. Ele fala do navegador que descia a
costa da África à procura do caminho das Índias e, quando ele parava em algum
lugar na costa da África, plantava um marco. Ele diz: "O esforço é grande
e o homem é pequeno/ Eu, Diogo Cão, navegador, deixei/ Este padrão ao pé do
areal moreno/ E para diante naveguei./ A alma é divina, a obra é imperfeita./
Este padrão sinala ao vento e aos céus/ Que, da obra ousada, é minha a parte
feita:/ O por-fazer é só com Deus".
O SR. JÁ DEU POR ENCERRADO O
TRABALHO VÁRIAS VEZES, MAS SEMPRE O RETOMOU. OS ACONTECIMENTOS RECENTES
FORÇARAM O SR A FINALMENTE ENCERRAR PRA VALER?
Forçaram. Eu me forcei a dar o ponto. Mas repare bem: mesmo assim, só há
poucos dias eu tomei a decisão definitiva. Primeiro, eu, com medo por causa do
infarto, decidi que publicaria as duas primeiras cartas. Depois do infarto, já
em casa, resolvi que dava para juntar mais duas, quatro. Depois mais duas,
seis. O primeiro volume está concluído.
O NOME DO PRIMEIRO VOLUME, "O
JUMENTO SEDUTOR", ESTÁ MANTIDO?
Está mantido. O nome geral é "A Ilumiara".
SERÃO CINCO VOLUMES?
Eu acho que são sete. Mas o por-fazer é só com Deus.
NUMA ENTREVISTA QUE ME DEU HÁ DEZ
ANOS, O SR. CONTOU QUE O PROTAGONISTA DO LIVRO SE CHAMA ANTERO SAVEDRA, E O
ANTAGONISTA É QUADERNA [DA "PEDRA DO REINO"]. ISSO ESTÁ MANTIDO?
Está mantido, mas o negócio ficou mais complexo, porque Antero Savedra
desdobrou-se. Fiz de Antero Savedra um alter ego mais próximo de mim, e criei
uma outra máscara chamada... Porque o nome Antero é muito importante... São
quatro irmãos: Altino, Auro (ou Áureo), Adriel e Antero. Altino é poeta; Áureo
é romancista; Adriel é dramaturgo; e Antero é encenador e ator. Antero diz que
tem um parentesco com Orestes e Hamlet, ambos filhos de reis assassinados. Ele
cita inclusive uma frase de Hamlet, que diz: "Sou arrogante, vingativo,
ambicioso; tenho mais crimes na consciência do que [pensamentos para
concebê-los, imaginação para desenvolvê-los,] tempo para executá-los". Então
ele procura um alter ego mais manso, mais conciliador, capaz de perdoar os
inimigos. Ele diz uma hora que tem mais facilidade de rezar a Ave Maria do que
o Pai Nosso, porque no Pai Nosso se diz "perdoai as nossas ofensas, assim
como nós perdoamos...". Agora, o nome dele de verdade é Paulo Antero. Aí
ele assina os primeiros versos P. Antero Shabino.
E O SAVEDRA NÃO TEM MAIS?
Tem, a família é Shabino de Savedra, todos os dois escritos com s. Paulo
Antero Shabino, e ele assina P. Antero Shabino. Os inimigos começam a chamá-lo
de Pantero, depois Dom Pantero. Ele aí adota o nome. Quando cria o outro alter
ego é Dom Pantero.
"A Ilumiara" tem dois nomes [subtítulos]: "A Ilumiara -
Autobiografia musical, dançarina, teatral, poética e
videocinematográfica". Na página seguinte tem: "A Ilumiara - Romance
musical, dançarino, teatral, poético e videocinematográfica." E tem uma
epígrafe de um professor daqui, que foi meu aluno e de quem eu gosto muito
–Roberto Motta, filho de Mauro Motta–, ele escreveu um dia num artigo de
jornal: "Todos os livros são autobiografias. Mas ele conhece os segredos
das máscaras com que nos defendemos da morte".
ESSE PRIMEIRO VOLUME JÁ PODE SER
LANÇADO EM BREVE?
Ainda vai depender. Eu terminei meu texto. Mas ele está grande, em folhas
de tamanho ofício. Precisa ser reduzido para o tamanho do livro. As ilustrações
eu fiz, já estão prontas. Tem muita ilustração baseada em pintura rupestre.
Porque eu quero pegar a cultura brasileira desde o começo mesmo, mostrar que
isso aqui não envelhece não. Uma obra de arte está feita para ser
reinterpretada, revista, revisada. E também me baseei muito em desenhos
barrocos.
OS OUTROS VOLUMES VÃO TODOS
SEGUIR A FORMA EPISTOLAR?
Vão.
O SR. VAI INCLUIR ESSA FOGUEIRA
QUE PULOU?
Vou. Mas não nesse primeiro volume. E vou incluir uma coisa que foi muito
importante para mim e aconteceu ao mesmo tempo [da internação]: a morte de
[Gilvan] Samico [gravurista pernambucano morto em novembro]. Considero Samico
um artista de importância mundial. Para mim não há em nenhum lugar do mundo –Alemanha,
França, Rússia, Estados Unidos, Inglaterra– um gravador como ele. Para mim foi
o gravador de nossa época, no mundo inteiro. Do ponto de vista formal ele é
incomparável. Pela importância dele para o nosso tempo e o nosso país... Ele
significa para o Brasil o que Goya significa para a Espanha e Dürer para a
Alemanha.
O SR. INCLUIRÁ FIGURAS PÚBLICAS
ENTRE OS PERSONAGENS DO ROMANCE?
De certa maneira sim. Não são personagens propriamente, faço alusões. Tem
um momento em que escolhi sete pessoas importantes do Brasil: um arquiteto
negro e analfabeto do Estado do Rio de Janeiro chamado Gabriel Joaquim dos
Santos, por quem tenho grande admiração, é o autor da Casa da Flor. Escolhi
Villa-Lobos, e sai por aí...
DO QUE MAIS SENTIU FALTA NA
INTERNAÇÃO. CONSEGUIU LER E ESCREVER?
Olhe, um dos piores lugares do mundo é a tal da UTI. Vixe, nossa senhora,
que lugar horroroso. A pessoa não tem privacidade para coisa nenhuma, uma coisa
horrível. Não tem autonomia, é ruim demais. Ficar no hospital no quarto eu até
não reclamo muito não. Mas a tal da UTI... Minha atividade nesse período foi
zero.
O SR. TEM UMA ÓTIMA MEMÓRIA, QUE
JÁ DEFINIU COMO "MEMÓRIA DE CACHORRO VINGATIVO". ELA ESTÁ INTACTA?
Está, mexeu com o físico, mas com a cabeça não buliu não –a cabeça está
boa. Se você quiser eu recito o episódio de Inês de castro, de "Os
Lusíadas", todinho [risos].
O SR. SEMPRE APOIOU LULA E DILMA
E SEMPRE APOIOU TAMBÉM EDUARDO CAMPOS. MAS EM 2014 ELES SERÃO ADVERSÁRIOS. O SR
JÁ DECLAROU APOIO A CAMPOS. ISSO SIGNIFICA ROMPIMENTO COM LULA E DILMA?
Vejo as coisas muito individualmente. Não simpatizo muito com o PT. Nunca
dei declaração [de apoio ao PT], senão no começo [do partido], quando eu dizia
que os partidos precisavam ter alguma coisa das antigas ordens religiosas, e o
único que eu via nessa linha era o PT. Nesse tempo o dr [Miguel] Arraes não
tinha entrado no PSB –o PSB era uma academia de letras, não tinha eficácia
política nenhuma. Quando dr. Arraes veio me procurar, eu disse a ele que
entrasse no PSB. Ele disse que precisava fazer coligação e que entraria no
PMDB. Agora, quando ele entrou no PSB, aí eu entrei –nunca tinha entrado num
partido político. Então eu sempre faço uma diferença. Lula é Lula. Não faço
restrição nenhuma a Lula, continuo um entusiasta dele, do mesmo jeito que fui
quando ele era presidente. Agora, pelo meu gosto, Lula apoiaria Eduardo. Nem
houve rompimento com Dilma, gosto muito dela também, mas meu relacionamento com
ela é menos fraterno do que com Lula.
ACREDITA QUE HÁ CHANCE CONCRETA
DE EDUARDO CAMPOS SER ELEITO PRESIDENTE?
Isso eu não sei não. Vou fazer como Capiba [compositor pernambucano morto
em 1997]. Ele era torcedor fanático do Santa Cruz, e ia haver um jogo muito
importante do Santa Cruz no domingo. Um jornalista telefonou a ele pedindo opinião
sobre o jogo. Ele deu várias opiniões, até que o jornalista perguntou: "E
qual vai ser o placar?". Aí ele disse: "Me telefone
segunda-feira". Me telefone no dia seguinte à eleição que eu digo.
O SR. COSTUMA DIZER QUE CONHECE
EDUARDO CAMPOS DESDE MENINO, QUE FOI AMIGO DO PAI E DO AVÔ DELE. TRATA-SE DE UM
APOIO MAIS AFETIVO QUE POLÍTICO?
Não, veja bem, eu digo isso realmente, e é verdade: Dudu foi companheiro
de infância de meus filhos, morava aí na frente [numa casa defronte à do
escritor], vivia aqui em casa. Então tinha uma relação afetiva com ele de um
tio para um sobrinho. E ainda mais ele casou-se com uma sobrinha de Zélia
[mulher de Suassuna]. Mas eu digo, e realmente é: considero Eduardo Campos o
político mais brilhante que já conheci. Ele é de uma capacidade de articulação
que você não pode imaginar. Outra coisa: é paciente, é obstinado. Ele tem todas
as qualidades de um político. Eu digo sempre: um político tem que ser
astucioso, principalmente se ele for boa pessoa. Porque senão ele cai –não faz
safadeza, mas cai na mão dos que fazem.
HÁ CRÍTICAS AO FATO DE ELE SE
UTILIZAR DOS MESMOS MÉTODOS QUE CRITICA. FEZ CAMPANHA PRA ELEGER A MÃE PARA O
TCU, FORMOU UMA COALIZÃO DE 14 PARTIDOS, COM ALIADOS COMO INOCÊNCIO OLIVEIRA E
SEVERINO CAVALCANTI. COM O SR. VÊ ESSAS CRÍTICAS?
Entram por um ouvido e saem pelo outro. Isso é uma necessidade da ação
política. Achei até muita graça quando Inocêncio Oliveira o apoiou. Estava todo
mundo cortejando o apoio de Inocêncio, o PT, todo mundo. Quando ele apoiou
Dudu, vieram dizer que ele aceitou o apoio de Inocêncio Oliveira. Política é
assim mesmo. Eu é que não gosto de fazer esse tipo de coisa nunca entrei na
política e nunca entrarei.
E
COMO AVALIA A GESTÃO DILMA?
Não sou homem político, sou um
escritor que tem preocupações
políticas, com meu país e com meu povo. Eu gostava mais do governo de Lula. Tô
gostando do governo de Dilma. Entre Dilma e o PSDB, prefiro Dilma. Mas entre
Dilma e Lula, prefiro Lula.
O SR. É BACHAREL EM DIREITO, FOI
ADVOGADO, NOS PRINCIPAIS LIVROS DO SR HÁ JULGAMENTOS. COMO O SR. VIU O
JULGAMENTO DO MENSALÃO NO SUPREMO? O QUE ACHOU DO RESULTADO?
Aquilo foi uma coisa triste. O que acho triste ali é que de repente houve
uma crispação desse problema. Não tenho elemento pra provar nem ninguém tem, mas
a gente sabe que isso não foi inaugurado naquele momento. Essas práticas
existiam em todos os governos e tem havido até agora. Se você não fizer isso
você não governa. Tem que questionar a própria existência do Congresso. É bom
que exista o Congresso? Eu acho que é. Agora, no Congresso existe esse tipo de
coisa? Existe e vai continuar existindo.
A COMPRA DE APOIO POLÍTICO?
Sim. Sim. Todo mundo sabe que essa ideia de dois mandatos não foi obtida
de graça não.
O SR. SE REFERE AO ESQUEMA DE
COMPRA DE VOTOS NO CONGRESSO PARA APROVAR A EMENDA DA REELEIÇÃO DURANTE O
GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO [REVELADO PELA FOLHA EM 1997, MAS NUNCA
INVESTIGADO]...
Sim.
O SR. É UM HOMEM MUITO RELIGIOSO,
CATÓLICO DEVOTO DE VÁRIOS SANTOS. QUAL AVALIAÇÃO FAZ DO NOVO PAPA, FRANCISCO,
DOS PRIMEIROS PASSOS DO PONTIFICADO DELE?
Ah, eu estou entusiasmado com esse papa. Logo no início. Só o fato de ele
ter escolhido o nome de Francisco, vi logo que ele era alguma coisa de novo.
Era o que a Igreja estava precisando. Estou entusiasmadíssimo. Eu de certa
maneira acompanhei, porque um grande amigo meu foi para lá fazer a cobertura,
que é Gerson Camarotti [comentarista e repórter do canal Globo News], e
conversei muito com Gerson. Até fiz uma introduçãozinha para o livro dele ["Segredos
do Conclave", Geração Editorial, 304 págs., R$ 34,90]. Olhe, ele foi o
primeiro papa jesuíta, o primeiro chamado Francisco e o primeiro papa
latino-americano. Três novidades de uma vez.
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