sábado, 11 de janeiro de 2014
ENQUANTO EDUARDO CAMPOS É UM "TRATOR POLÍTICO", MARINA SILVA É UMA POLÍTICA HONESTA.
Por Jeferson Ribeiro
O aprendizado no palanque começou
cedo, aos 21 anos, quando participou ativamente da eleição do avô, Miguel
Arraes, um dos ícones da esquerda na resistência à ditadura militar, para o
governo de Pernambuco em 1986. Depois disso, recém-formado em economia, Eduardo
Campos foi chefe de gabinete de Arraes, partindo daí para construir sua própria
carreira política. Mas se o ponto de partida foi o avô, quem conheceu um e
conhece o outro vê fortes distinções. "ELE
GERENCIALMENTE É MELHOR QUE O AVÔ. POLITICAMENTE É MAIS AUTORITÁRIO QUE O
AVÔ", resumiu um político pernambucano. Em
um campo de futebol, nas palavras de um assessor próximo, ARRAES SERIA UM MEIA CEREBRAL, CAPAZ DE LANÇAMENTOS PRECISOS E COM
AMPLA VISÃO DE JOGO. CAMPOS TRAZ MAIS UM PERFIL PARA O ATAQUE, JOGARIA COM A
CAMISA DE CENTROAVANTE, MAS NÃO DAQUELES TROMBADORES. As diferenças entre eles também são atribuídas ao ambiente
político em que os dois foram forjados. Arraes enfrentou a ditadura e aprendeu
a fazer política nas dificuldades do sertão. Campos, de 48 anos, desenvolveu
seu traquejo político na democracia e com mais condições do que o avô. Mas a
obstinação herdada é, provavelmente, o traço mais marcante desse governador que
quer chegar à Presidência da República. Depois de ocupar cargos na
administração do avô, de ser eleito deputado estadual e federal, ser o ministro
mais jovem do governo Lula e se eleger governador duas vezes, Campos iniciou
2013 embalado pelo desempenho notável do PSB nas eleições municipais do ano
anterior, dizendo a Dilma que não negociaria o apoio do partido à sua reeleição
antes de 2014. Em janeiro, ainda se considerava a possibilidade de que o PT
mudasse a aliança com o PMDB para abrigar o PSB como vice de Dilma na disputa
pela reeleição. Era mais uma esperança do que uma possibilidade para um partido
que historicamente quase sempre esteve aliado aos petistas. Meses depois, já
convencido disso e percebendo os movimentos dos demais aliados do governo, o
também presidente do PSB deu início ao seu próprio projeto de poder, que chegou
ao ápice entre setembro e outubro, quando o partido deixa seus cargos no
governo federal e filia, numa reviravolta eleitoral impressionante, a
ex-senadora Marina Silva para disputar a Presidência ao lado do pernambucano.
Campos também se mostra obstinado para cumprir suas metas à frente de
Pernambuco. Não poupa esforços e controla seu governo na ponta dos dedos. TODOS OS SECRETÁRIOS PRESTAM CONTA PESSOALMENTE AO GOVERNADOR
SOBRE AS 720 METAS ESTABELECIDAS COM A POPULAÇÃO NO COMEÇO DO SEGUNDO MANDATO,
MAS NEM POR ISSO FICAM LONGE DAS COBRANÇAS DIÁRIAS DE CAMPOS POR MEIO DE UM
GRUPO NO WHATSAPP, APLICATIVO DE TROCA DE MENSAGENS, OU DAS CRÍTICAS PELOS
ATRASOS QUE ELE CONSEGUE MONITORAR DIRETO DO SEU TABLET. Quando desconfia que suas exigências não estão sendo cumpridas, gosta
de surpreender o interlocutor. Foi assim durante a construção do Hospital Dom
Hélder Câmara. Campos havia fechado um acordo com a construtora e os
trabalhadores para que houvesse um terceiro turno de trabalho afim de concluir
a obra. Ao analisar as imagens da câmera instalada na obra percebeu que não
havia trabalho no turno da noite, segundo um auxiliar. Sem avisar ninguém,
Campos se dirigiu até o canteiro de obras e foi atendido por um atônito vigia
que se apressou a pegar o rádio e chamar o chefe para avisar da visita
inesperada. Essas histórias de cobrança por resultados podem ser colhidas aos
montes entre integrantes do governo pernambucano e demonstram o quanto Campos
gosta de manter as coisas sob o seu controle. Controle esse que é visto por adversários
como traços de coronelismo, já que a figura do governador parece ser
onipresente nos demais Poderes e nas administrações municipais. "MUITOS
TÊM MEDO DE DAR DECLARAÇÃO CONTRÁRIA AO GOVERNADOR", afirmou o deputado
estadual Daniel Coelho (PSDB), uma das poucas vozes ativas da oposição na
Assembleia Legislativa. Pela primeira vez na história de Pernambuco, segundo
Coelho, alguém exerceu tanto controle sobre os outros Poderes e conseguiu
agregar a elite econômica e política. "HÁ UM INCÔMODO SILENCIOSO NA
SOCIEDADE DE PERNAMBUCO", disse Coelho, referindo-se ao ambiente político
no Estado. TRATOR POLÍTICO O perfil controlador de Campos pode torná-lo alvo de
comparação com a presidente Dilma Rousseff, que também gosta de controlar seus
auxiliares, mas políticos locais ouvidos pela Reuters fazem uma distinção.
Argumentam que o "traço mais autoritário" dele é sentido mais na
condução política. Na gestão do governo, ele recebe melhor as críticas e aceita
ser confrontado. "NA POLÍTICA, ELE É UM
TRATOR", disse um político pernambucano. O
presidente da Assembleia Legislativa o Estado, deputado Guilherme Uchoa (PDT),
é um exemplo do controle exercido por Campos na cena política local. Desde que
o socialista assumiu o governo, a Constituição estadual foi modificada algumas
vezes para permitir a reeleição de Uchoa, que está no cargo desde 2007. Apesar
de "tratorar" os adversários, Campos age com pragmatismo na política.
Exemplo disso, é a aliança fechada para a disputa municipal do ano passado com
o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), seu antecessor no governo estadual e
grande rival de Arraes em Pernambuco. Mas se há uma coisa que um adversário ou
aliado político não deve fazer se não quiser experimentar a pior faceta do
governador é encurralá-lo. Aí, a reação dele não perdoa quem estiver na frente,
segundo aliados. A articulação comandada pelo Palácio do Planalto para dividir
o PSB e tirar sustentação da sua provável candidatura presidencial foi um
desses momentos. O socialista reagiu ao movimento capitaneado pelos irmãos Cid
e Ciro Gomes e os fez sair do partido. Um interlocutor de Campos e de Luiz
Inácio Lula da Silva conta que o ex-presidente alertou Dilma para não tentar
encurralar o pernambucano, "PORQUE ELE NÃO
PISCA". Dilma decidiu não seguir o conselho
aparentemente. NA TRILHA SONORA, O BREGA Nas horas de "aperreio" como
essa, só uma boa música brega é capaz de fazer Campos relaxar. SE O INTÉRPRETE FOR O CANTOR REGINALDO ROSSI MELHOR AINDA. O
SOCIALISTA TAMBÉM É FÃ DO CANTOR E COMPOSITOR DE FORRÓS MACIEL MELO. É COM ESSA
TRILHA SONORA, NA VARANDA DE CASA COM A FAMÍLIA E COM OS AMIGOS, A MAIORIA
POLÍTICOS E SECRETÁRIOS DE GOVERNO, QUE CAMPOS CONSEGUE RELAXAR UM POUCO NOS
FINAIS DE SEMANA, QUANDO ATÉ SE ARRISCA A TOCAR VIOLÃO. A casa é a mesma desde que se casou e fica nos fundos da
residência dos pais de Renata, sua esposa. Renata, aliás, é figura constante no
governo, dá ideias, aponta problemas, aconselha o marido e dialoga com os
secretários, mesmo sem ter um cargo na administração. "ELA É COMO UM
CIMENTO QUE LIGA O GOVERNO TODO", descreveu um auxiliar do governador.
Campos é um sujeito de pouco luxo e não gosta de ostentar riqueza, segundo um
político conhecido do governador. "É UM CARA
DE CLASSE MÉDIA, NÃO GOSTA DOS LUXOS, NÃO FICA SE RELACIONANDO SÓ COM A
ELITE", disse. Os finais de semana de
descanso com a família ou de idas com as crianças ao cinema, porém, estão cada
vez mais raros desde que Campos decidiu que disputará a Presidência. Os dias
cheios como governador que controla pari passu o cotidiano político e
administrativo agora estão ficando ainda mais longos por causa das articulações
para a disputa presidencial. "A ficha deles (Campos e Renata) está
começando a cair agora", disse um auxiliar próximo.
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