Carlos Newton
Se ainda estivesse vivo, o jornalista Alberto Dines estaria estarrecido. Trabalhamos juntos na criação do programa “Observatório da Imprensa” em 1998, ao lado do diretor paulista Eduardo Abramovay, uma grande figura, que voltou para São Paulo depois de comandar esse projeto conjunto TVE/TV Cultura. Dines achava que, para aperfeiçoar o país, antes era preciso limpar a imprensa, fazendo com que pelo menos parte dela passasse a trabalhar em prol do interesse público. Dines manteve o programa no ar durante 20 anos, mas morreu em 2018 sem ver seu sonho realizado.
O fato concreto é que a imprensa está regredindo de uma maneira impressionante, como fica demonstrado no caso das denúncias do The Intercept Brasil, comandadas pelo jornalista americano Glenn Greenwald.
QUADRO SURREAL – É um massacre impressionante, com apoio de praticamente toda a mídia. Com base em supostas mensagens de origem criminosa, o juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato estão sofrendo uma campanha perversa, que tem objetivos claros. Uma das principais finalidades é anular as condenações de criminosos abjetos como Lula da Silva, Eduardo Cunha, José Dirceu, Paulo Preto, João Vaccari, Marcelo Odebrecht e “tutti quanti”, como dizem os italianos, e até Sérgio Cabral e Geddel Vieira Lima também querem embarcar nessa onda.
Ao mesmo tempo, a campanha visa a evitar a prisão de Michel Temer, Aécio Neves, Romero Jucá, Rocha Loures, Renan Calheiros, Jáder Barbalho, Moreira Franco, Eliseu Padilha e outros caciques do MDB, do PSDB e de outros partidos envolvidos em corrupção.
Tudo isso está mais do que claro. Qualquer jornalista deveria se envergonhar de tentar defender esse tipo de gente. Mas não é isso que se vê nos maiores órgãos de imprensa, que decidiram apoiar oficial ou oficiosamente a campanha do The Intercept.
ALIANÇA IMUNDA – É muito triste ver a Folha de S. Paulo, a Veja e a TV Band se emporcalharem ao dar força total ao movimento do The Intercept, e o fazem prazerosamente, sob alegação de que estão defendendo a moralização da Justiça e a liberdade de imprensa, quando estão fazendo exatamente o contrário, pois na verdade foram cooptados a destruir a Lava Jato, sob o mesmo esquema de desmoralização que demoliu a Operação Mãos Limpas na Itália, nos anos 90.
O pior é ver o mesmo fenômeno se reproduzir em O Globo, no Estado de S.Paulo e até no Valor Econômico e no Correio Braziliense, que vinham trilhando um caminho mais ético.
A manipulação chegou a tal ponto que agora a mídia simplesmente despreza e não menciona as explicações claras e objetivas de Moro e dos procuradores. Ou seja, a imprensa chegou à perfeição em seu lado mais sujo e perverso.
NA HORA ERRADA – E o que faz o ministro Moro? Ao invés de permanecer na trincheira e enfrentar o fogo inimigo, resolve tirar uma semana de licença não-remunerada para ficar com a mulher e os filhos. Foi uma decisão mais do que idiota.
Mesmo nesses dias de “férias”, digamos assim, Moro precisa estar atento e se fazer presente na mídia para continuar a responder esse tipo de ataque.
Os argumentos do The Intercept não podem ser levados a sério. Sabemos quanto custa uma campanha desse vulto, que mobilizou grande número de hackers e de jornalistas para montar e manipular as denúncias. É muito dinheiro a mobilizar um lobby de tal envergadura.
Mas é fácil imaginar quem está financiando a campanha. Basta fazer como sugere o ex-presidente do Supremo, Carlos Velloso, e procurar saber a quem interessa a destruição da Lava Jato e a impunidade de todos os corruptos. Simples assim.
P.S. – Jamais imaginei que um dia eu pudesse ter vergonha de ser jornalista. Mas parece que está chegando esse dia. (C.N.)
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