QUEM CALA CONSENTE.
Augusto Nunes
Se o
tamanho da confusão é maior que o estoque de embustes, Lula emudece até ser
socorrido pela crônica amnésia nacional — ou pelo aparecimento de outra
encrenca que faça andar a fila de casos político-policiais que envolvem o
ex-presidente. Foi assim, por exemplo, quando se descobriu a roubalheira do
mensalão. Ou quando um avião da TAM explodiu na pista de Congonhas. Ou quando a
imprensa revelou amostras da soberba gastança bancada com cartões corporativos.
Como o truque funcionou nos episódios anteriores, o mágico de circo resolveu
reapresentá-lo para engambelar a plateia perplexa com o ROSEGATE. Desta vez não deu certo.
A mudez malandra sobre a pornochanchada fora da lei que estrelou ao lado da
primeiríssima amiga Rosemary Noronha só serviu para atestar que Lula não tem
como sair do atoleiro em que se meteu. Imposto pela enxurrada de ladroagens,
bandalheiras, perguntas sem resposta e abjeções de variado calibre abastecida
por quadrilheiros acampados no escritório da Presidência da República em São
Paulo, o mais longo e estrepitoso silêncio de Lula é também o mais patético.
Ontem, completou 55 dias. Amanhã serão 56. A coluna só vai encerrar a contagem
quando o fugitivo da imprensa recuperar a voz ─ e tratar de usá-la para
explicações mais convincentes do que as que deve ter balbuciado em casa. O país
que pensa exige respeito. Patroa é uma coisa, pátria é outra. Fartos de tanta
tapeação, milhões de brasileiros não aceitam ser tratados como se fossem um
bando de marisas letícias.
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