FELIZES NOVOS ARES
Por Marina Silva
Gestores públicos
passam o fim do ano às voltas com fechamento de orçamentos, pagando o possível
e empurrando o impossível para a rubrica "RESTOS A PAGAR" do ano seguinte.
O pior é que isso acontece também nas empresas, sindicatos, associações e no
orçamento das famílias. Tudo bem, algo sempre fica para depois. O problema é
quando dívidas se arrastam, situações agudas ficam crônicas e atraso vira
cultura. Parece que algo assim acontece com a humanidade. Já se passaram 12
anos neste milênio e seguimos envolvidos com os problemas do século 20 e, o que
é pior, tentamos resolvê-los com instrumental teórico do século 19. Que as
mudanças na consciência são lentas, sabíamos. Mas agora o tempo é mais curto,
somos 7 bilhões de pessoas num planeta convulsionado por mudanças no clima e
com recursos comprometidos. As amplas conquistas obtidas com base no
instrumental teórico-científico que produzimos para desafiar a natureza
-firmados em dogmas que nos levaram à deificação da modernidade-, revelam agora
que esses feitos, mesmo vastos, não nos tornaram mais livres dos males que
ameaçam nossa vida: PERDA DE BIODIVERSIDADE, AUMENTO DA TEMPERATURA DA TERRA, CRISE
ECONÔMICA, PROBLEMAS EM EXCESSO. ISSO MOSTRA O QUÃO PRISIONEIROS SOMOS DA
VASTIDÃO QUE CRIAMOS. Pois a vastidão, como descreveu G. K. Chesterton,
"entrava-se em salas cada vez mais amplas e sem janelas, salas grandes com
sua perspectiva babilônica; mas a gente nunca encontrava a menor janela ou um
sopro de ar vindo de fora." Ar vindo de fora: é o que precisamos para mover
certezas que submetem a realidade ao nosso limitado modo de interrogá-la. Já
existe uma brisa. Organizações e empresas estão "SE REINVENTANDO". A juventude cria
novas redes, estilos de vida. As tecnologias oferecem suporte para avanços
rápidos. Até a emergência econômica de países que sobreviviam na periferia
anuncia novas oportunidades, desde que não repitam os erros das velhas
potências. EM 2012, O BRASIL PERDEU CHANCES DE REALINHAR-SE COM SUA
CONDIÇÃO DE POTÊNCIA SOCIOAMBIENTAL E SUA VOCAÇÃO DE LÍDER DE UMA CIVILIZAÇÃO
SUSTENTÁVEL. AO INVÉS DE TRAÇAR METAS URGENTES NA RIO+20, RETROCEDEU AO
DESMONTAR A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL QUE PROPORCIONAVA A DIMINUIÇÃO DO
DESMATAMENTO. PERDEU A CHANCE DE FAZER DAS OBRAS DA COPA DO MUNDO UMA
INTERVENÇÃO ESTRATÉGICA NO PLANEJAMENTO URBANO. Deixou parâmetros da
sustentabilidade fora das medidas de contenção da crise econômica. Insistiu
numa forma centralizada de produção e distribuição de energia e não abriu
espaço para novas matrizes renováveis. Ainda é tempo. Mas, como dizia meu pai
quando me atrasava na estrada de seringa, "avia, menina!".
Nenhum comentário:
Postar um comentário