CENAS DA VIDA POLÍTICA
Ruy Fabiano
CENA 1. Em
recente debate, na Associação Comercial de Brasília, os candidatos a governador
Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PR), amplamente favoritos nas
pesquisas, acusaram-se mutuamente de corrupção. Ambos estavam certos. Agnelo
evocou a prisão de Arruda, por 60 dias, flagrado e filmado ao receber R$ 50 mil
em dinheiro vivo. Arruda rebateu, lembrando das ligações de Agnelo com o
bicheiro Cachoeira e das acusações de pagamento e recebimento de propinas ao
tempo em que atuou na Anvisa e no Ministério dos Esportes, afirmando que, se
vierem a condená-lo, purgará prisão perpétua. Agnelo, irritado, levantou-se e
foi embora. Detalhe: nenhum dos dois contestou as acusações. Reagiram apenas ao
fato de terem sido trazidas ao debate, embora sejam de amplo conhecimento
público. Mas o público os coloca em 1º (Arruda) e 2º (Agnelo) lugares nas
pesquisas. Se aliados, venceriam no primeiro turno.
CENA 2.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa, indignou-se com a acusação de que o
governo teria cometido ilícito, ao combinar com os depoentes da Petrobras e os
senadores que o inquiriram as perguntas e respostas na CPI. Não se indignou com
o fato em si – a farsa do depoimento -, que não contestou, mas com ter sido
considerado ilícito. Dias depois, a presidente Dilma Roussef endossaria, com
outras palavras, o ponto de vista de Costa.
CENA 3. Na
sequência da aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa, o Supremo Tribunal
Federal prossegue na desmontagem do julgamento do Mensalão. Autoriza tudo o que
havia sido negado antes pelo presidente da Corte: que os presos, mesmo sem ter
cumprido um sexto da pena, como manda a lei, trabalhem fora; e que José Genoíno
cumpra prisão domiciliar, mesmo depois de duas juntas médicas terem atestado
não haver gravidade em sua saúde que justifique tal privilégio.
CENA 4. Computador do Palácio do Planalto
entra no site do Wikipédia e altera o perfil de dois jornalistas – Miriam
Leitão e Carlos Alberto Sardenberg -, críticos à política econômica do governo,
incluindo considerações negativas às suas respectivas biografias. Identificado
o IP, o Palácio disse ser impossível identificar a máquina (e, portanto, o autor),
já que corresponde à rede central, que reúne muitos aparelhos, o que qualquer
hacker de quintal sabe ser falso. O que poderia ser o Watergate brasileiro
ficou por isso. Paro por aqui.
CENAS ANÁLOGAS – e refiro-me somente as de um mês para cá - preencheriam um livro.
O que se constata é que, não apenas os políticos, mas também o público vem
perdendo a noção de valores elementares. Começa a selecionar os candidatos não
por seus méritos, mas pela maior ou menor contundência de seus delitos. Dos
males, o menor. O “ROUBA,
MAS FAZ”,
que até há pouco era objeto de piadas, hoje é uma realidade. A defesa veemente
que intelectuais, artistas e acadêmicos fazem dos mensaleiros, mesmo sabendo
que foram condenados – e por que o foram - pelo plenário da mais alta Corte de
Justiça do país, com base em provas que compuseram dezenas de volumes dos
autos, é um sinal de alarme moral. É POSSÍVEL QUE, DE TANTO VER ESCÂNDALOS QUE NÃO RESULTAM EM
NADA, O CIDADÃO COMUM TENHA SE ACOSTUMADO COM ELES, COMO UMA ESPÉCIE DE FATALIDADE. A partir daí, com a maior
naturalidade, passa a selecionar seus governantes em meio a uma atmosfera moral
degradante, supondo não haver outra. “POLÍTICA É ASSIM MESMO”, é o
pensamento-síntese. Será? Não era, por exemplo, o que pensava Aristóteles, um dos
maiores gênios da humanidade, para quem a política, bem ao contrário, era a
“CIÊNCIA MAIOR”, à qual as demais deveriam estar subordinadas. Mas a que
política estava se referindo? Não era certamente a que está em curso há anos.
Segundo sustenta, em “Ética a Nicômaco”, “o bem humano tem que ser a finalidade
da ciência política”, e que “ASSEGURAR O BEM DE UMA NAÇÃO OU DE UM ESTADO É UMA
REALIZAÇÃO NOBRE E DIVINA”. Tais conceitos, é bem verdade, perderam vigência há
séculos, desde que Maquiavel concebeu seu “PRÍNCIPE”,
manual de esperteza que abole a ética em nome de resultados. Mas mesmo para
Maquiavel e seus descendentes o que aí está é excessivo. Em suas recomendações,
não fala em associações com criminosos, em roubo descarado, em sumiço de
bilhões, em devastação do Estado. A ideia, ao contrário, é preservá-lo (ao
Estado) para servir o público. A manutenção do poder não excluía seu
destinatário, que o sustentava com impostos. O BRASIL DE HOJE RUBORIZA MAQUIAVEL E TORNA ARISTÓTELES UM SER
INCOMPREENSÍVEL, ORIUNDO DE OUTRO PLANETA.
PITACO DO BLOG CHUMBO GROSSO:
- TODO MUNDO SABE QUE A PETEZADA NÃO TEM CURA E PARA QUE A DOENÇA NÃO SE
TRANSFORME EM EPIDEMIA E VENHA CONTAGIAR TODO O PAÍS, TEMOS QUE ERRADICÁ-LA COM A MÁXIMA
URGÊNCIA NO PRIMEIRO TURNO EM OUTUBRO PRÓXIMO.
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