O ÓDIO VENCEU O
LUTO.
O sorriso de Marina e os fiscais da
dor alheia: na internet, o ódio venceu o luto
Matheus Pichonell
Circula na internet uma foto da
ex-senadora Marina Silva olhando com um meio-sorriso em direção a um dos filhos
de Eduardo Campos enquanto o corpo do ex-governador era velado no Palácio do
Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, no domingo, 19 de agosto. O
registro, captado em uma fração de segundo em uma cerimônia que durou o dia
inteiro, dizia exatamente o que parecia dizer. NADA.
Mas, como se não houvesse tristeza suficiente no drama de amigos e familiares,
quem acompanhou o evento pelas redes sociais tratou de usar a imagem para
expandir a crônica de uma velha tragédia, tão destrutiva quanto lamentável. VESTIDOS DE FISCAIS DE SENTIMENTO
HUMANO, ESSES INTERNAUTAS PASSARAM A MEDIR COM UMA MÉTRICA CONFUSA O CARÁTER
DAS FIGURAS PÚBLICAS PRESENTES À CERIMÔNIA. AO LONGO DO DIA, AS REDES SOCIAIS
SE TRANSFORMARAM EM UM FESTIVAL DE ATROCIDADES PRATICADAS A CÉU ABERTO, MOVIDA
EM PARTE PELO PIOR TIPO DE JORNALISMO – O JORNALISMO MARROM. Alguns chegaram ao ápice de sugerir
uma distância, moral e humana, entre a ex-senadora e o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ao cravar no título: ELE CHOROU, ELA SORRIU. O que isso quer dizer é um desafio para estudiosos da semiótica.
Não é o meu caso, mas faço coro a alguns amigos que, de prontidão, trataram de
remar contra a maré em um dia naturalmente triste, tornado ainda mais triste em
meio à propagada desonestidade intelectual – aquela capaz de colocar um drama
humano a serviço das próprias convicções. Um professor de ciência política com
quem mantenho contato foi o primeiro a manifestar que alguma coisa estava pobre
no reino de Zuckerberg: "O
DEBATE SERÁ O FATO DE A MARINA TER DADO UMA RISADA E O LULA CHORADO? É
ISSO?"
Nenhum comentário:
Postar um comentário