sábado, 13 de fevereiro de 2016

A SAGA DAS DOENÇAS TROPICAIS NO BRASIL




Por Altamir Pinheiro

Na última conversa que mantive com a filha de Che Guevara, em Caruaru, no ano de 2012, dizia-me a Doutora  Aleida Guevara, naquela oportunidade, ao responder a minha pergunta, ela falou,  Pinheiro!!! “O meu país, Cuba,  é o único da América Latina que erradicou todas  as doenças tropicais existentes, todas!!! Disse-me ela. E completou:  Há mais de vinte anos não temos um só caso de esquistossomose, malária, dengue, doença de chagas, leishmaniose, febre amarela,  hanseníase e tantas outras...”.

Pois bem!!! No auge da minha juventude eu fui funcionário concursado da SUCAM e, trabalhei por quase  três anos, como laboratorista ou microscopista como queiram,  na CAMPANHA DE ESQUISTOSSOMOSE em toda Zona da Mata Norte e Sul de Pernambuco. Pois,  era eu que medicava o povo quando constatava, através do exame de fezes, que determinada família ou comunidade estava com o verme do  xistosoma. Isso mesmo!!! Apesar de nunca ter cursado medicina(fiz um estágio de 45 dias), era eu que fazia o exame microscópico, medicava os enfermos com 3, 4 ou 5 comprimidos do remédio por nome de  MANSIL de 500 mg, dependendo do peso de cada um deles e aplicava a dose única, quando o sujeito ou a sujeita não morria e escapava fedendo, matava o verme, ficava curado da lombriga, mas jamais expelia o danado do xistosoma, o paciente ficava com ele,  mesmo o danado morto. Por andar de jaleco branco, gravatinha azul tipo borboleta, era chamado de jovem médico da peste ou doutor da SUCAM...
Mudando de um polo para outro, mas continuando no mesmo eixo imaginário, além da falta de investimento suficiente em soluções para as doenças que atingem populações carentes, especialistas e ativistas chamam atenção para outro obstáculo: a falta de acesso a tratamentos eficazes e de qualidade (os governos preferem investir no bolsa esmola que dá voto, em vez de se preocupar com essas tais de pesquisas ou investirem em “PORCARIA”  de vacinas). Por exemplo, malária, doença de Chagas, febre amarela, leishmaniose, dengue estão entre as enfermidades que costumam ser rotuladas como doenças tropicais. Na maior parte das vezes, o micro-organismo é transmitido por insetos que encontram nos trópicos seu habitat ideal.
Segundo a Organização Mundial de Saúde(OMS), a cada ano 1,5 bilhão de pessoas em 150 países sofrem  de DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS, que não recebem a devida atenção. A lista inclui alguns males bastante conhecidos (e até em alta) no Brasil, como dengue, chikungunya, e chagas e o que dizer do VÍRUS ZIKA?!?!?!  Por um lado, há a crítica de que, embora afetem muita gente, essas doenças não são prioridade para as pesquisas farmacêuticas, que historicamente, os grandes laboratórios particulares multinacionais  preferem se dedicar ao desenvolvimento de remédios que garantam retorno financeiro. No Brasil, nós temos a FIOCRUZ, mas os nossos  governos, oh!!! Tão nem aí!!! Os cientistas daquela instituição vivem a pão e água. Copa do Mundo e Olimpíadas têm muito mais futuro para eles do que porra de vacina!!!
Mas, voltando ao jovem “médico” Altamir Pinheiro, mais conhecido como o Doutor da SUCAM ou Médico da Peste, brigava que só cachorro com o meu chefe responsável por toda a equipe(composta de nove pessoas), chefe este formado em medicina mas que a praticava de forma errônea ou bandavuou... Por eu ser um jovem rebelde, contestador e comunista de carteirinha vivíamos às turras  por eu não me conformar com aquela metodologia de tratamento ou suposta cura das comunidades que estavam acometidas de esquistossomose.
Certa vez, cheguei numa casinha tipo meiágua de uma família paupérrima para medicar nove pessoas, dois adultos e sete crianças e perguntei-lhes: já comeram hoje?!?!?! Responderam-me por unanimidade, não!!! Então fui a uma bodega lá do quarteirão e comprei com dinheiro do meu bolso: doce, queijo, bolacha, pão, e mandei a pivetada encher a barriga e depois cada um beber um litro d’água para encher o buxo, haja vista que a medicação só podia ser aplicada com o estômago cheio. Logo após medicá-los, fiz uma alerta aos pais:  olha, os senhores nem os meninos em hipótese alguma podem chegar perto daquele rio, apontando-o, vocês estão curado do xistosoma, mas se daqui a um segundo colocarem o dedão do pé naquela água, vão contrair a doença de novo. Por isso nem pensar ir pras bandas do rio!!! Daí, aquela mãe me retrucou: Dotô!!! Eu vou lavar roupa onde? Dar banho nos meninos onde? Buscar água para os gastos da casa onde?...
Quer dizer, isso é o que podemos chamar de jogar dinheiro fora!!! Tinha terminado de curar uma família e,  essas pessoas, amanhã, iriam contrair essa mesma doença que eu tinha terminado de curá-las!!! Voltando ao hotel, tive uma discussão pesada com o doutor que era responsável pela equipe, cheguei a emparedá-lo e pedir para que ele rasgasse aquele diploma universitário que ele não estava praticando medicina e sim, pelo dinheiro, pelo emprego, ele era um charlatão!!! Calmamente, aquele senhor de cabelos grisalhos respondeu-me: Altamir Pinheiro!!! Eu também já fui jovem, eu também já fui rebelde, um exímio contestador... Hoje,  no auge da minha idade eu tenho plena consciência que eu não vim para salvar o mundo, nem Cristo conseguiu tal façanha, Pinheiro!!! Dando-me as costas retirou-se...
Em outra ocasião hilária, fui colher material de dois policiais na delegacia da cidade de Água Preta, a poucos quilômetros de Palmares e depois dos exames feitos, constatei que  os  samangos da PM tinham contraído a esquistossomose. Por se tratar de dois policiais pesando acima de 70 quilos, a dose para cada um era de 5 comprimidos de MANSIL  de 500 mg. Ao chegar na delegacia, um deles não se encontrava e o outro estava no banheiro tomando banho. Recomendei-lhe que ia deixar o remédio dos dois em cima do birô e que ele ao sair do banho procurasse almoçar bem, comer muito, que a carga do remédio era pesada, da qual, lá do banheiro ele confirmou que iria fazer o que eu estava recomendando.

Lá pras tantas, na boquinha da noite, estava eu no hotel, quando chegou uma senhora pedindo socorro que um policial estava morrendo lá na delegacia. Daí, eu me toquei... Será que foi o efeito colateral do remédio?!?!?! E se ele engoliu os dez de uma vez quando era cinco?!?!?! Ao chegar na delegacia me confrontei com um corpo caído no chão, Rolando pra lá e pra cá, escumando que só um barrão e com os “zóio” vermelhos e aboticados parecendo a gota serena de mini saia... A esta altura já tinha quebrado o birô, derrubado a estante, todo cagado e melado de vômito e terra e engasgado sem poder falar...

Imediatamente, dei de garra da camionete cabine dupla, mais conhecida como burra preta, jogamos o policial na carroceria, como sacode um saco de açúcar e apertei no acelerador em direção ao hospital de Palmares para aquele miserável se submeter a uma lavagem estomacal. Avisei ao médico do que se tratava, ele tinha engolido, por engano, dez cachetes de 500 mg e, sem perder tempo, deixei o carro burra preta pra lá,  dirigi-me  ao terminal rodoviário de Palmares, peguei um ônibus e vim embora pra Garanhuns. A peste era quem ia ficar ali, dando suporte, para depois carregar para toda a vida uma tarja preta na testa como um  jovem assassino de policial, tipo a presidente Dilma  que carrega nas costas, até hoje,  uma reputação cheia de mácula...

Quinze dias depois recebi uma comunicação que já podia voltar ao trabalho que o policial tinha escapado e já estava na ativa. Ufal!!! Que alívio... Viajei num domingo à tarde, ao chegar em Água Preta, fui direto a delegacia reencontrar com o quase defunto que escapou por um “TRISQUINHO”. Ao vê-lo, nos abraçamos e ele me falou, rindo, que vaso ruim não se quebrava. Fomos comemorar: tomamos uns dois litros de caldo de cana, depois enveredamos pelo caminho de três garrafas de pitu e fomos esbarrar no cabaré(pinga-pus) de dona Francisquinha e até o raiar do dia ficamos por ali, fazendo bilu-bilu com as putinhas tornando-se  numa noitada aprazível que só  praticamos LOVE, muito LOVE, somente LOVE...










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