Por Altamir Pinheiro
Na última conversa que mantive com a filha de Che
Guevara, em Caruaru, no ano de 2012, dizia-me a Doutora Aleida Guevara, naquela oportunidade, ao
responder a minha pergunta, ela falou, Pinheiro!!! “O meu país, Cuba, é o único da América Latina que erradicou
todas as doenças tropicais existentes,
todas!!! Disse-me ela. E completou: Há
mais de vinte anos não temos um só caso de esquistossomose, malária, dengue,
doença de chagas, leishmaniose, febre amarela,
hanseníase e tantas outras...”.
Pois bem!!! No auge da minha juventude eu fui
funcionário concursado da SUCAM e, trabalhei por quase três anos, como laboratorista ou microscopista
como queiram, na CAMPANHA DE
ESQUISTOSSOMOSE em toda Zona da Mata Norte e Sul de Pernambuco. Pois, era eu que medicava o povo quando constatava,
através do exame de fezes, que determinada família ou comunidade estava com o
verme do xistosoma. Isso mesmo!!! Apesar
de nunca ter cursado medicina(fiz um estágio de 45 dias), era eu que fazia o
exame microscópico, medicava os enfermos com 3, 4 ou 5 comprimidos do remédio
por nome de MANSIL de 500 mg, dependendo
do peso de cada um deles e aplicava a dose única, quando o sujeito ou a sujeita
não morria e escapava fedendo, matava o verme, ficava curado da lombriga, mas
jamais expelia o danado do xistosoma, o paciente ficava com ele, mesmo o danado morto. Por andar de jaleco
branco, gravatinha azul tipo borboleta, era chamado de jovem médico da peste ou
doutor da SUCAM...
Mudando
de um polo para outro, mas continuando no mesmo eixo imaginário, além da falta de investimento
suficiente em soluções para as doenças que atingem populações carentes,
especialistas e ativistas chamam atenção para outro obstáculo: a falta de
acesso a tratamentos eficazes e de qualidade (os governos preferem investir no
bolsa esmola que dá voto, em vez de se preocupar com essas tais de pesquisas ou
investirem em “PORCARIA” de vacinas). Por
exemplo, malária,
doença de Chagas, febre amarela, leishmaniose, dengue estão entre as
enfermidades que costumam ser rotuladas como doenças tropicais. Na maior parte
das vezes, o micro-organismo é transmitido por insetos que encontram nos
trópicos seu habitat ideal.
Segundo a Organização Mundial de Saúde(OMS), a cada ano 1,5 bilhão de
pessoas em 150 países sofrem de DOENÇAS
TROPICAIS NEGLIGENCIADAS, que não recebem a devida atenção. A lista inclui
alguns males bastante conhecidos (e até em alta) no Brasil, como dengue,
chikungunya, e chagas e o que dizer do VÍRUS ZIKA?!?!?! Por um lado, há a crítica de que, embora
afetem muita gente, essas doenças não são prioridade para as pesquisas
farmacêuticas, que historicamente, os grandes laboratórios particulares multinacionais
preferem se dedicar ao desenvolvimento
de remédios que garantam retorno financeiro. No Brasil, nós temos a FIOCRUZ,
mas os nossos governos, oh!!! Tão nem
aí!!! Os cientistas daquela instituição vivem a pão e água. Copa do Mundo e
Olimpíadas têm muito mais futuro para eles do que porra de vacina!!!
Mas, voltando
ao jovem “médico” Altamir Pinheiro, mais conhecido como o Doutor da SUCAM ou
Médico da Peste, brigava que só cachorro com o meu chefe responsável por toda a
equipe(composta de nove pessoas), chefe este formado em medicina mas que a
praticava de forma errônea ou bandavuou... Por eu ser um jovem rebelde, contestador
e comunista de carteirinha vivíamos às turras por eu não me conformar com aquela metodologia
de tratamento ou suposta cura das comunidades que estavam acometidas de
esquistossomose.
Certa
vez, cheguei numa casinha tipo meiágua de uma família paupérrima para medicar
nove pessoas, dois adultos e sete crianças e perguntei-lhes: já comeram
hoje?!?!?! Responderam-me por unanimidade, não!!! Então fui a uma bodega lá do
quarteirão e comprei com dinheiro do meu bolso: doce, queijo, bolacha, pão, e
mandei a pivetada encher a barriga e depois cada um beber um litro d’água para
encher o buxo, haja vista que a medicação só podia ser aplicada com o estômago
cheio. Logo após medicá-los, fiz uma alerta aos pais: olha, os senhores nem os meninos em hipótese
alguma podem chegar perto daquele rio, apontando-o, vocês estão curado do xistosoma,
mas se daqui a um segundo colocarem o dedão do pé naquela água, vão contrair a
doença de novo. Por isso nem pensar ir pras bandas do rio!!! Daí, aquela mãe me
retrucou: Dotô!!! Eu vou lavar roupa onde? Dar banho nos meninos onde? Buscar
água para os gastos da casa onde?...
Quer
dizer, isso é o que podemos chamar de jogar dinheiro fora!!! Tinha terminado de
curar uma família e, essas pessoas,
amanhã, iriam contrair essa mesma doença que eu tinha terminado de curá-las!!!
Voltando ao hotel, tive uma discussão pesada com o doutor que era responsável
pela equipe, cheguei a emparedá-lo e pedir para que ele rasgasse aquele diploma
universitário que ele não estava praticando medicina e sim, pelo dinheiro, pelo
emprego, ele era um charlatão!!! Calmamente, aquele senhor de cabelos grisalhos
respondeu-me: Altamir Pinheiro!!! Eu também já fui jovem, eu também já fui
rebelde, um exímio contestador... Hoje, no auge da minha idade eu tenho plena
consciência que eu não vim para salvar o mundo, nem Cristo conseguiu tal
façanha, Pinheiro!!! Dando-me as costas retirou-se...
Em outra ocasião hilária, fui colher material de
dois policiais na delegacia da cidade de Água Preta, a poucos quilômetros de
Palmares e depois dos exames feitos, constatei que os samangos
da PM tinham contraído a esquistossomose. Por se tratar de dois policiais
pesando acima de 70 quilos, a dose para cada um era de 5 comprimidos de
MANSIL de 500 mg. Ao chegar na
delegacia, um deles não se encontrava e o outro estava no banheiro tomando
banho. Recomendei-lhe que ia deixar o remédio dos dois em cima do birô e que
ele ao sair do banho procurasse almoçar bem, comer muito, que a carga do
remédio era pesada, da qual, lá do banheiro ele confirmou que iria fazer o que
eu estava recomendando.
Lá pras tantas, na boquinha da noite, estava eu no
hotel, quando chegou uma senhora pedindo socorro que um policial estava
morrendo lá na delegacia. Daí, eu me toquei... Será que foi o efeito colateral
do remédio?!?!?! E se ele engoliu os dez de uma vez quando era cinco?!?!?! Ao
chegar na delegacia me confrontei com um corpo caído no chão, Rolando pra lá e
pra cá, escumando que só um barrão e com os “zóio” vermelhos e aboticados parecendo
a gota serena de mini saia... A esta altura já tinha quebrado o birô, derrubado
a estante, todo cagado e melado de vômito e terra e engasgado sem poder
falar...
Imediatamente, dei de garra da camionete cabine
dupla, mais conhecida como burra preta, jogamos o policial na carroceria, como
sacode um saco de açúcar e apertei no acelerador em direção ao hospital de
Palmares para aquele miserável se submeter a uma lavagem estomacal. Avisei ao
médico do que se tratava, ele tinha engolido, por engano, dez cachetes de 500
mg e, sem perder tempo, deixei o carro burra preta pra lá, dirigi-me ao terminal rodoviário de Palmares, peguei um
ônibus e vim embora pra Garanhuns. A peste era quem ia ficar ali, dando suporte,
para depois carregar para toda a vida uma tarja preta na testa como um jovem assassino de policial, tipo a
presidente Dilma que carrega nas costas,
até hoje, uma reputação cheia de
mácula...
Quinze dias depois recebi uma comunicação que já
podia voltar ao trabalho que o policial tinha escapado e já estava na ativa.
Ufal!!! Que alívio... Viajei num domingo à tarde, ao chegar em Água Preta, fui
direto a delegacia reencontrar com o quase defunto que escapou por um
“TRISQUINHO”. Ao vê-lo, nos abraçamos e ele me falou, rindo, que vaso ruim não
se quebrava. Fomos comemorar: tomamos uns dois litros de caldo de cana, depois
enveredamos pelo caminho de três garrafas de pitu e fomos esbarrar no
cabaré(pinga-pus) de dona Francisquinha e até o raiar do dia ficamos por ali, fazendo
bilu-bilu com as putinhas tornando-se numa
noitada aprazível que só praticamos LOVE,
muito LOVE, somente LOVE...
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