113
Josias de Souza
A campanha de Dilma
Rousseff não tem nada a ver com os depósitos feitos POR BAIXO DA MESA em contas
do marqueteiro João Santano no exterior, COMO NÃO TEVE NADA A VER com as
doações eleitorais que empreiteiras fizeram com dinheiro roubado da Petrobras.
Hoje, as suspeitas são reforçadas por um inédito volume de evidências
documentais, incluindo uma CARTA
DA MULHER DE SANTANA, MÔNICA MOURA, dirigida a um operador de petropropinas, e uma mensagem em que
Marcelo Odecrecht recorda a um executivo de sua construtora que o melado
escorreria até “a campanha dela.” Anteontem, Ricardo Pessoa, dono da
construtora UTC, dissera que BORRIFOU R$ 7,5 MILHÕES no comitê
reeleitoral. Mas a campanha de Dilma NÃO TEM NADA A VER COM ISSO. Depois que a
ordem de prisão do primeiro-casal do marketing escalou as manchetes, Dilma
reuniu-se com os ministros que lhe são mais próximos. Em declarações vazadas
pelo Planalto, a presidente se disse “tranquila”. Heim?!?!? “Não tem nada a ver
com a minha campanha”. Hã,
hã… O presidente do PT, Rui Falcão, informa que o partido também NÃO TEM NADA A VER
com os
depósitos clandestinos em favor de João Santana, como não teve nada a ver com a
conversão de verbas subtraídas dos cofres da Petrobras em doações registradas
na Justiça Eleitoral como se fossem limpinhas. Hoje, a Polícia Federal realça
que Santana fez fortuna tocando campanhas do PT. Anteontem, o tesoureiro
petista João Vaccari Neto descera até o xadrez por receber pixulecos em nome do
partido. Mas o PT NÃO TEM NADA A VER COM ISSO.
Já meio
cansado da tese do “EU NÃO SABIA”, o brasileiro precisa acreditar que o comitê
eleitoral de Dilma e o PT não têm nada a ver com os pagamentos suspeitos porque
a tese é muito coerente. Dilma, Rui Falcão e todos os petistas graduados deveriam
mandar tatuar na testa a expressão “NADA A VER”. Isso os pouparia de
falar e desobrigaria os repórteres de perguntar. Ora, personagens que não
tiveram nada a ver com nada durante 13 anos, por que teriam agora? Há um único
problema: se a Lava Jato já provou alguma coisa, foi que, no Brasil dirigido
pelo petismo com o auxílio dos seus cleptoaliados, 'NADA' é uma palavra que
ultrapassa tudo.
JOÃO SANTANA PRECISA DE UM BOM MARQUETEIRO
Mestre no ofício de ESCULPIR
imagens alheias, João Santana revela-se um marqueteiro relapso, muito relaxado
na administração de sua reputação. É como se desejasse ajudar a força-tarefa da
Lava Jato a demonstrar que não há gênio que não tenha, de vez em quando, a NOSTALGIA
da desinteligência. João Santana revive a aventura brasileira de diante para
trás. Da fantasia para a realidade. Parte da fábula —O BRASIL FANTÁSTICO QUE ELE CRIOU NAS PROPAGANDAS
ELEITORAIS DO PT— e chega à cleptocracia, um país cujo sistema político mantém
diuturnamente a honestidade com a cabeça a prêmio. A odisseia às avessas de
João Santana é um retorno pela trilha pioneira. O desbravador volta para
inspecionar a Pasárgada das propagandas de campanha e rever os seus conceitos.
Horroriza-se ao constatar que nem a AMIZADE COM A RAINHA O
LIVROU DAS GARRAS DA LEI. O filme que protagoniza é um relato de sua decepção. Nos
videoclipes de campanha, João Santana exaltava o resgate do orgulho nacional.
Ensinava que o brasileiro perdera a mania de depreciar o próprio país. Na sua
jornada de volta à realidade, o mago do marketing reencarnou o que Nelson
Rodrigues chamava de ALMA
DO CACHORRO VIRA-LATA. Da República Dominicana, onde se encontrava para cuidar da
campanha à reeleição do presidente Danilo Medina, João Santana pôs-se a
maldizer a pátria. Em carta endereçada ao partido que o contratara retratou o
Brasil como uma República de Bananas, sujeita a inquéritos precários e
violações ultrajantes. “Conhecendo o clima de perseguição que se vive hoje em
dia no meu país, não posso dizer que me pegou completamente de surpresa, mas
ainda assim é difícil de acreditar”, escreveu João Santana sobre o despacho em
que o juiz Sérgio Moro ordenara sua prisão temporária. Na propaganda eleitoral,
João Santana esgrimia a tese segundo a qual a lama escorria pelos desvãos da
República porque Lula e Dilma haviam soltado as rédeas da Polícia Federal e da
Procuradoria. Na sua jornada pelas terras estranhas do Brasil real, o
marqueteiro SE DEU CONTA DE QUE FOI ENGOLFADO
PELO LODO. Subitamente, João Santana passou a enxergar ineficiência nas
corporações que exaltava. Retorna ao Brasil, agora sem conta de fadas, para se
“defender das acusações infundadas.'' Contra a mentira difundida pela
força-tarefa de Curitiba, vai “IMPRIMIR A VERDADE DOS FATOS.” Tudo o que deseja
é “esclarecer qualquer especulação.” Alguma coisa subiu à cabeça de João
Santana no instante em que foi abalroado pela realidade. A SERVIÇO DO PT, TIRAVA COELHOS DA CARTOLA. COMO GESTOR DO PRÓPRIO
DRAMA, TENTA TIRAR CARTOLAS DE DENTRO DO COELHO. Alega que o dinheiro que caiu ilegalmente em suas contas no
exterior refere-se a campanhas que realizou fora do Brasil. O único ponto em
comum que sobrevive entre a fábula e a realidade é a CRIATIVIDADE. Já não há
fronteiras a desbravar. Mas o ímpeto continua. A diferença é que o fabulador já
percebeu que não mora do país da sua propaganda. Faltando-lhe melhores
argumentos, nada mais resta a João Santana senão rodar em círculos no xadrez
até ser consumido pela revelação de que, ALÉM
DE ADVOGADOS, PRECISA CONTRATAR UM BOM MARQUETEIRO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário