terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Depois do ‘NÃO SABIA’, desponta o ‘NADA A VER’


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Josias de Souza

A campanha de Dilma Rousseff não tem nada a ver com os depósitos feitos POR BAIXO DA MESA em contas do marqueteiro João Santano no exterior, COMO NÃO TEVE NADA A VER com as doações eleitorais que empreiteiras fizeram com dinheiro roubado da Petrobras. Hoje, as suspeitas são reforçadas por um inédito volume de evidências documentais, incluindo uma CARTA DA MULHER DE SANTANA, MÔNICA MOURA, dirigida a um operador de petropropinas, e uma mensagem em que Marcelo Odecrecht recorda a um executivo de sua construtora que o melado escorreria até “a campanha dela.” Anteontem, Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, dissera que BORRIFOU R$ 7,5 MILHÕES no comitê reeleitoral. Mas a campanha de Dilma NÃO TEM NADA A VER COM ISSO. Depois que a ordem de prisão do primeiro-casal do marketing escalou as manchetes, Dilma reuniu-se com os ministros que lhe são mais próximos. Em declarações vazadas pelo Planalto, a presidente se disse “tranquila”. Heim?!?!? “Não tem nada a ver com a minha campanha”. Hã, hã… O presidente do PT, Rui Falcão, informa que o partido também NÃO TEM NADA A VER com os depósitos clandestinos em favor de João Santana, como não teve nada a ver com a conversão de verbas subtraídas dos cofres da Petrobras em doações registradas na Justiça Eleitoral como se fossem limpinhas. Hoje, a Polícia Federal realça que Santana fez fortuna tocando campanhas do PT. Anteontem, o tesoureiro petista João Vaccari Neto descera até o xadrez por receber pixulecos em nome do partido. Mas o PT NÃO TEM NADA A VER COM ISSO. Já meio cansado da tese do “EU NÃO SABIA”, o brasileiro precisa acreditar que o comitê eleitoral de Dilma e o PT não têm nada a ver com os pagamentos suspeitos porque a tese é muito coerente. Dilma, Rui Falcão e todos os petistas graduados deveriam mandar tatuar na testa a expressão “NADA A VER”. Isso os pouparia de falar e desobrigaria os repórteres de perguntar. Ora, personagens que não tiveram nada a ver com nada durante 13 anos, por que teriam agora? Há um único problema: se a Lava Jato já provou alguma coisa, foi que, no Brasil dirigido pelo petismo com o auxílio dos seus cleptoaliados, 'NADA' é uma palavra que ultrapassa tudo.


JOÃO SANTANA PRECISA DE UM BOM MARQUETEIRO

                      

Mestre no ofício de ESCULPIR imagens alheias, João Santana revela-se um marqueteiro relapso, muito relaxado na administração de sua reputação. É como se desejasse ajudar a força-tarefa da Lava Jato a demonstrar que não há gênio que não tenha, de vez em quando, a NOSTALGIA da desinteligência. João Santana revive a aventura brasileira de diante para trás. Da fantasia para a realidade. Parte da fábula —O BRASIL FANTÁSTICO QUE ELE CRIOU NAS PROPAGANDAS ELEITORAIS DO PT— e chega à cleptocracia, um país cujo sistema político mantém diuturnamente a honestidade com a cabeça a prêmio. A odisseia às avessas de João Santana é um retorno pela trilha pioneira. O desbravador volta para inspecionar a Pasárgada das propagandas de campanha e rever os seus conceitos. Horroriza-se ao constatar que nem a AMIZADE COM A RAINHA O LIVROU DAS GARRAS DA LEI. O filme que protagoniza é um relato de sua decepção. Nos videoclipes de campanha, João Santana exaltava o resgate do orgulho nacional. Ensinava que o brasileiro perdera a mania de depreciar o próprio país. Na sua jornada de volta à realidade, o mago do marketing reencarnou o que Nelson Rodrigues chamava de ALMA DO CACHORRO VIRA-LATA. Da República Dominicana, onde se encontrava para cuidar da campanha à reeleição do presidente Danilo Medina, João Santana pôs-se a maldizer a pátria. Em carta endereçada ao partido que o contratara retratou o Brasil como uma República de Bananas, sujeita a inquéritos precários e violações ultrajantes. “Conhecendo o clima de perseguição que se vive hoje em dia no meu país, não posso dizer que me pegou completamente de surpresa, mas ainda assim é difícil de acreditar”, escreveu João Santana sobre o despacho em que o juiz Sérgio Moro ordenara sua prisão temporária. Na propaganda eleitoral, João Santana esgrimia a tese segundo a qual a lama escorria pelos desvãos da República porque Lula e Dilma haviam soltado as rédeas da Polícia Federal e da Procuradoria. Na sua jornada pelas terras estranhas do Brasil real, o marqueteiro SE DEU CONTA DE QUE FOI ENGOLFADO PELO LODO. Subitamente, João Santana passou a enxergar ineficiência nas corporações que exaltava. Retorna ao Brasil, agora sem conta de fadas, para se “defender das acusações infundadas.'' Contra a mentira difundida pela força-tarefa de Curitiba, vai “IMPRIMIR A VERDADE DOS FATOS.” Tudo o que deseja é “esclarecer qualquer especulação.” Alguma coisa subiu à cabeça de João Santana no instante em que foi abalroado pela realidade. A SERVIÇO DO PT, TIRAVA COELHOS DA CARTOLA. COMO GESTOR DO PRÓPRIO DRAMA, TENTA TIRAR CARTOLAS DE DENTRO DO COELHO. Alega que o dinheiro que caiu ilegalmente em suas contas no exterior refere-se a campanhas que realizou fora do Brasil. O único ponto em comum que sobrevive entre a fábula e a realidade é a CRIATIVIDADE. Já não há fronteiras a desbravar. Mas o ímpeto continua. A diferença é que o fabulador já percebeu que não mora do país da sua propaganda. Faltando-lhe melhores argumentos, nada mais resta a João Santana senão rodar em círculos no xadrez até ser consumido pela revelação de que, ALÉM DE ADVOGADOS, PRECISA CONTRATAR UM BOM MARQUETEIRO.


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